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"Ordem e Progresso uma p***, é Ordem e Regresso", diz Tom Zé no João Rock

Tom Zé na apresentação na noite deste sábado - João Rock/Divulgação
Tom Zé na apresentação na noite deste sábado Imagem: João Rock/Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em Ribeirão Preto*

10/06/2018 00h42

Tom Zé foi o personagem certo para encerrar o palco Brasil, homenagem aos 50 anos da Tropicália, no João Rock 2018 em Ribeirão Preto.

Assim como pregava o movimento cultural nascido nos anos 60, o cantor octogenário é uma ruptura com tudo o que estamos acostumados a compreender. E ele faz questão de exprimir isso ao vivo.

Afinal, quem começa um show discutindo com o público e seus músicos a melhor maneira de apresentar sua banda?

Resolvido o obstáculo, vamos seguir normal, como deve ser uma apresentação em festival? Não é bem assim. Usando uma camisa tingida com tintas de diversas cores, praticamente uma pintura moderna, Tom Zé é uma obra em movimento. Literalmente.

Ele se arrasta para cair no piso inferior, mistura opiniões com composições, brinca com a galera e ainda se atrapalha com o som do palco principal, do outro lado do Parque Permanente de Exposições. "O que é isso? É outro palco? Então vamos gritar mais alto."

É explicando pra te confundir e confundindo pra te esclarecer, como ele prega em "Tô", que o protagonista da peça cutuca todos. "Ordem e Progresso uma porra, é Ordem e Regresso", analisa sobre o momento frágil que vive o Brasil.

Os políticos, claro, também são lembrados a todo instante, principalmente o "Senado que está desvalorizando a educação". E ele reitera: "A vítima somos nós".

Além de tudo, o showman também entende de marketing. Como de praxe em seus shows, ele anuncia sem vergonha alguma que estará vendendo seus discos após sair do palco. "Os discos estão com a Neusa, depois vou autografar todos eles e tenho até maquininha."

Em "Augusta, Angélica e Consolação", o cantor clamou para que todos mais ao fundo se juntassem com o público da frente para não ter segregação. Mesmo sendo o show que reuniu menos gente no Palco Brasil, muitos saíram de seu conforto para se aproximar do animado senhor.

Por fim, Tom Zé ainda vestiu uma calcinha para dar uma aula rápida de ciência. "Não é para zoar as meninas, é para mostrar que feminino e masculino são diferentes."

É junto, misturado e "de lado", como Tom Zé salienta, que o remanescente da Tropicália faz seu show maluco sem pé nem cabeça e tão mais racional do que muitos que vemos por aí.

*O repórter viajou à convite da organização do João Rock