Como o Ghost deixou de ser só uma banda "malvada" para bombar com sex appeal
A banda sueca Ghost lança nesta sexta-feira seu quarto álbum, “Prequelle”, pavimentando o caminho para se tornar a grande atração do momento no metal. A imagem soturna e as máscaras seguem sendo o carro chefe do grupo. Mas muita coisa mudou. A evolução megalomaníaca liderada por Tobias Forge – autointitulado diretor do Ghost – transformou-os de um grande nome no nicho do metal a uma banda com potencial para encher arenas norte-americanas. E um dos segredos para o crescimento está no sex appeal e em um projeto bem estruturado de marketing.
O Ghost estreou no Brasil em 2013, tocando no Rock in Rio. À época, eles promoviam seu segundo disco e Papa Emeritus II era o personagem que assumia os vocais. Mas, apesar do figurino e da pompa, a performance um tanto estática resultou em uma recepção fria do público do festival. As coisas começaram a mudar pouco depois.
Para se entender, o Ghost foi fundado por Tobias Forge, que permanece como vocalista e líder da banda. A cada álbum, ele cria um novo personagem. E a partir do terceiro álbum, “Meliora”, com Papa Emeritus III à frente, começou a surgir essa malemolência. O papa da vez largou a batina, o movimento passou a ser sexy e a interação com o público aumentou.
A evolução do Ghost é um pacote completo: planejamento a longo prazo, shows grandiosos e música envolvente. E esse trio apareceu em “Rats”, single do novo álbum. O clipe da música mostra o novo personagem, agora um cardeal chamado Cardinal Copia, dançando como se estivesse no filme “Dança na Chuva”.
As músicas, que tinham cara de mistura entre Mercyful Fate e Blue Oyster Cult, ficaram ainda mais grudentas, pendendo até para o hard rock oitentista, como no segundo single “Dance Macabre”. O resultado: 7 milhões de views para “Rats” no Youtube e mais de 2 milhões de audições para “Dance Macabre” no Spotify.
E agora?
Depois de vencer o Grammy por melhor performance do metal em 2017, o Ghost vem investindo mundos e fundos em “Prequelle”, como o passo definitivo rumo ao mainstream. Tudo começou com a troca de personagens. Em setembro de 2017, durante um show, Papa Emeritus III foi levado por seguranças indicando que sua hora havia chegado.
O anúncio do Cardinal Copia aconteceu por vídeos no Youtube, dotados de uma boa dose de humor e a apresentação de dois personagens (que não são músicos) ao roteiro de história: o Papa Nihil, o todo poderoso ancião que está passando o poder ao Cardinal Copia, e sua braço-direito, a Sister Imperator. Para completar, o outro vídeo mostrou os papas anteriores sendo mortos.
Além de mortos, eles estão em exposição. A nova turnê do Ghost, nos EUA, iniciou-se antes do lançamento de “Prequelle” e conta com a maior produção que a banda já teve. Além dos três papas expostos em esquifes de vidro na entrada dos shows, agora há trocas de roupa, um enorme palco com escadas e a banda, formada pelos integrantes anônimos chamados de “The Nameless Ghouls”, teve acréscimo de integrantes para deixar o som mais parecido com o dos álbuns, incluindo duas mulheres, com máscaras personalizadas para elas.
“O que tento atingir é o senso de que estamos apresentando um teatro, mais do que um show de rock. Agora temos uma banda maior, conseguimos apresentar nosso material mais ao vivo, de fato, sem gravações pré-gravadas, tipo Bruce Springsteen ou Guns N’ Roses. Esta é nossa melhor versão até agora”, disse Forge, à Billboard.
Neste giro pelos EUA, o Ghost já vem enchendo casas e, em algumas, esgotando ingressos. Mas o foco está em duas apresentações no fim do ano, em arenas. Em novembro, tocam no The Forum, em Los Angeles. Em dezembro, no Barclays Center, em Nova York. O sex appeal e o hype já deram certo, agora resta saber se o álbum “Prequelle” será aprovado pelos fãs e dará o suporte preciso para que os planos de encher essas arenas tenham sucesso.
Para o clipe de "Dance Macabre, a banda convidou famosos para cantarem a música e fez um vídeo tipo stories, do Instagram:
Processo e identidade
A nova fase do Ghost também marca a primeira vez em que Tobias Forge saiu do anonimato, oficialmente. A maioria dos fãs já sabia de quem se tratava. O sueco de 37 anos já teve bandas de death metal, com o Repugnant, mas só foi conhecer o sucesso com o Ghost, criado em 2006. A ideia era fazer um som acessível, mas sombrio, e usar influências conhecidas para a parte teatral, como Kiss e Alice Cooper, além de filmes de terror. Desde a estreia, com “Opus Eponymus”, a banda cresceu rapidamente – ainda que tenha dividido opiniões entre os metaleiros.
“Com meus outros projetos, sempre senti falta do aspecto do terror. Para mim, precisava de um teatro. E, se fôssemos fazer isso, teria que ser anonimamente”, explica Forge, que queria ser apenas o guitarrista, mas, após gravar as vozes na demo, acabou assumindo o posto, já que outros vocalistas mais famosos, como Messiah Marcolin (ex-Candlemass) e Mats Levén (ex-Malmsteen e Therion), recusaram o posto. Houve quem acusasse a banda de ser um pouco brega.
A saída do anonimato por Forge aconteceu por problemas na justiça. Alguns dos Nameless Ghouls, os instrumentistas da banda, saíram do Ghost reclamando de falta de pagamento. Com seu nome nos processos, Forge não tinha para onde fugir. Agora, tem dado entrevistas como ele próprio, apesar de para a TV pedir para manter seu rosto escondido – como aconteceu com a CNN.
Apesar de todo o teatro, Forge diz que passa uma mensagem importante nas letras. “Prequelle” trata da Peste Negra, que matou multidões por volta do ano 1350, mas associa isso aos dias atuais, citando, por exemplo a faixa “Rats”. “Ratos espalham doenças e estão por toda parte. Não é diferente agora. Por muitos anos, as pessoas falaram orgulhosas em como são mais espertas do que as da Idade Média. Mas acho que os apedrejamentos modernos na internet estão próximos do que víamos centenas de anos atrás, quando as pessoas eram bárbaras”, disse, à "Revolver".
Sobre o futuro do jovial e dançante Cardinal Copia, Forge explica que é como uma passagem de bastão. “É por isso que temos um cara novo. O Cardinal Copia não é o chefe, um cardeal é inferior a um papa. Ainda temos o Papa Nihil, mas ele está passando o bastão. Ele precisa ensinar ao Cardinal para que ele honre sua pintura de caveira. Ele é novo, é um impostor e ainda não provou seu valor. Mas, se ele provar, será o Papa IV”, diz Tobias, com seu enredo digno de filme, dentro e fora do palco, para o Ghost.
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