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Estrela de série da HBO, ator passou perrengue com brasileiros nos anos 90

O ator Aidan Quinn em cena na série "Elementary" - Divulgação
O ator Aidan Quinn em cena na série "Elementary"
Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

30/05/2018 11h43

Conhecido do público brasileiro como o Alfred de “Lendas da Paixão” ou o Capitão Tommy de “Elementary”, Aidan Quinn, 59, está no País para um trabalho local: ele está filmando a minissérie da HBO “O Hóspede Americano”, na qual vive o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt durante sua notória excursão pelo norte do Brasil ao lado do Marechal Cândido Rondon, em 1913.

Mas o ator não é um estranho em terras brasileiras. Há quase 30 anos, em 1990, Quinn veio ao País para filmar “Brincando nos Campos do Senhor” (veja o trailer abaixo), filme de Hector Babenco sobre um grupo de missionários que vinham evangelizar os índios da Amazônia. Ele e um grupo de astros que incluía Tom Waits, Kathy Bates, Daryl Hanna, John Litgow e Tom Berenger passaram cerca de seis meses filmando no Pará, em meio à selva.

“Você não consegue se acostumar... o calor, a umidade. Você tem apenas que viver com isso”, diz Quinn ao UOL, em São Paulo, pouco antes do início das gravações da nova série, que o levará para o estado de Mato Grosso.

O maior obstáculo que o ator encontrou à época, porém, não foi o clima, mas sim a conhecida animação dos brasileiros. “Tinha um barco de apoio, que era onde a equipe dormia. Todos nós tínhamos quartinhos com beliches. Mas o bar ficava em cima do meu quarto, e a equipe brasileira gostava de cantar, gostava de dançar e gostava de beber”, lembra, aos risos.

“Então, eu não conseguia dormir. Finalmente, eles arranjaram esses trailers dos anos 1950, na selva, e ficamos lá. Não tinha ar condicionado, porque o gerador era desligado à noite. Mas era mais fresco, então eu dormia lá. E amava. Eu amo a natureza, os sons da natureza”.

Dessa vez, as acomodações do ator serão bem mais confortáveis -- “alguns de nós, os sortudos, vamos ficar num eco-resort que parece ser muito agradável”, nota --, mas ele sabe que a cautela vem em primeiro lugar quando se está trabalhando assim tão perto da vida selvagem. “Na floresta, tudo está escondido e pode te machucar. Você não vê, mas eles [os perigos] estão lá. Você tem que tomar cuidado.”

O maior desafio, para o ator, serão as cenas no barco – já que a expedição correu seguindo o curso do Rio da Dúvida, mais tarde rebatizado de Rio Roosevelt. “Vai ser mais complicado no barco, nas corredeiras. Mas o Bruno parece confiante”, diz, referindo-se ao diretor Bruno Barreto.

Brasil – EUA

Quinn já tinha, aliás, uma conexão de décadas com o cineasta brasileiro, uma das razões que o atraíram a “O Hóspede Americano”. Seu irmão, o diretor de fotografia Declan Quinn, trabalhou com Barreto em dois filmes dirigidos por ele Estados Unidos: “O Coração da Justiça”, com Jennifer Connelly, e “Atos de Amor”, estrelado por Dennis Hopper.

“Eu abri o projeto, vi que Bruno Barreto era o diretor, e isso me animou muito”, recorda o ator. “Meu irmão já tinha feito dois filmes com o Bruno e teve uma ótima experiência com ele. Eu já tinha encontrado Bruno algumas vezes, vinte anos atrás, quando meu irmão, Hector Babenco e uns outros caras fizeram uma festa. Me lembro do meu irmão ter falado muito bem dele e do trabalho que eles fizeram”.

Quinn é fã de longa data do brasileiro. “Eu me lembro de ter visto ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ quando saiu, que foi... odeio dizer isso, em 1976 [risos]. 42 anos atrás? Eu estava saindo do ensino médio quando saiu”, diz o ator, que também gostou de “Flores Raras”, filme de 2013 estrelado por Glórias Pires.

Vivendo Teddy

Incorporar Theodore Roosevelt – ou, simplesmente, Teddy Roosevelt – tem sido um desafio para o ator. Ele teve que ganhar 10 quilos para o papel e já leu uma extensa bibliografia sobre o ex-presidente americano. “Tive oito semanas para me preparar, mas poderia facilmente levar oito anos”, afirma. “Eu já li 10 livros, e estou terminando mais dois ou três. E meu assistente tem trabalhado pegando vídeos e áudios, o que tem ajudado muito. Se eu estou no carro, no trânsito de São Paulo por três horas todo dia, eu posso ouvir essas gravações da voz dele ou vê-lo em documentários”.

A voz, aliás, tem sido um dos focos do trabalho de Quinn, já que Roosevelt tinha um modo de falar muito característico. “É um tipo de dialeto que não existe mais nos Estados Unidos. É chamado de sotaque do médio Atlântico, parece inglês britânico para muita gente, mas era o sotaque das pessoas muito ricas e educadas de Nova York. Nos filmes dos anos 1920 e 1930, muitas pessoas falavam assim”.

Português, por outro lado, o ator não teve que aprender. “Na história real, Roosevelt e Rondon falavam em francês entre eles, mas nós falamos em inglês [na minissérie]”. O papel do militar, que na época ainda era coronel, ficou com o veterano Chico Diaz, que recentemente participou da série da Globo “Carcereiros”.

E para além da preparação, a produção também tem feito Quinn aprender bastante sobre Roosevelt.  “A coisa mais curiosa, e que está na série, é que ele levou um tiro no peito e a bala se alojou em suas costelas. E ele subiu em um palco e falou por uma hora e vinte minutos. Ele ainda deu o discurso. Isso de certa forma resume o personagem de Teddy Rooselvelt”, conta o ator, que espera poder honrar a história dos participantes da expedição com “O Hóspede Americano”.

A minissérie ainda não tem data para ir ao ar na HBO.