Já renovada, "Roseanne" é cancelada após comentários racistas de protagonista
O canal americano ABC cancelou a sitcom “Roseanne”, que já havia sido renovada para uma nova temporada, após a protagonista e produtora Roseanne Barr publicar um tuíte racista sobre Valerie Jarrett, mulher que foi assessora do ex-presidente americano Barack Obama.
“A publicação de Roseanne no Twitter é detestável, repugnante e incompatível com os nossos valores, e decidimos cancelar sua série”, afirmou em declaração oficial ao site TheWrap a presidente da ABC, Channing Dungney.
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Bob Iger, presidente da Disney -- empresa dona da ABC -- concordou com a demissão. "Só havia uma coisa a se fazer, e foi a coisa certa", declarou.
A atriz ainda foi dispensada por sua agência, a ICM Partners. "Estamos muito aborrecidos pelo tuíte inaceitável e vergonhoso de Roseanne Barr desta manhã. O que ela escreveu contraria nossos valores como indivíduos e como agência. Consequentemente, nós a notificamos de que não a representamos mais. Roseanne Barr não é mais uma cliente", informou a agência à revista "Variety".
“Roseanne”, uma sitcom que se propunha a retratar a classe trabalhadora americana, ficou no ar originalmente entre 1988 e 1997 e fez grande sucesso, frequentemente entrando na lista das séries mais assistidas dos Estados Unidos.
Na onda de revivais da TV americana, a comédia retornou para uma décima temporada em 2017 – e foi um sucesso estrondoso, com seu episódio de estreia visto por 18,44 milhões de espectadores. Segundo o site TheWrap, "Roseanne" era o programa mais visto da TV americana, com média de 21,6 milhões de espectadores por semana (mais do que "The Big Bang Theory" e "This Is Us"). Os bons números garantiram a renovação da série, que agora foi por água abaixo.
Entenda a controvérsia
Nesta terça-feira (29), Roseanne Barr, publicou o seguinte comentário em resposta a outras publicações sobre Valerie Jarrett: “Irmandade Muçulmana e 'Planeta dos Macacos' tiveram um filho = vj”. Advogada e ativista, Jarrett é negra e nasceu no Irã, filha de pais americanos.
Barr, 65, é simpatizante do atual presidente americano, Donald Trump, característica que foi levada para sua personagem nas telinhas. Ela já havia se envolvido em outras controvérsias por conta de seu posicionamento político, e chegou a comparar Chelsea Clinton, filha de Bill e Hillary Clinton, ao burro do filme "Shrek".
A declaração sobre Valerie Jarrett no Twitter causou imediato mal-estar entre espectadores e entre os pares da artista. Sara Gilbert, atriz e produtora da série, afirmou que os comentários da colega eram “repugnantes” e “não refletem as crenças do elenco, da equipe ou de qualquer pessoa associada à série”.
Depois, foi a vez da comediante Wanda Sykes, que era consultora da produção, anunciar que não voltaria a trabalhar com a sitcom.
Deparando-se com a reação, Barr pediu desculpas nesta terça, antes do anúncio da ABC. “Eu peço desculpas a Valerie Jarrett e a todos os americanos. Eu sinto muito por fazer uma piada ruim sobre a posição política e a aparência dela. Eu deveria ter pensado melhor. Me perdoem, a piada foi de mau gosto”, escreveu no Twitter. Ela ainda anunciou que deixaria a rede social -- o que realmente fez -- e apagou o tuite com a declaração racista.
Reação
Após o cancelamento de "Roseanne", estrelas e elenco reagiram rapidamente. O showrunner da série, Bruce Helford, em declaração oficial, se disse "horrorizado" com os comentários da colega. "Em nome de todos os escritores e produtores, nós trabalhamos muito para criar uma série incrível. Eu fiquei pessoalmente horrorizado e entristecido pelos comentários, e eles de forma alguma refletem os valores das pessoas que trabalharam tanto para fazer dessa série tão icônica quanto ela é".
Emma Kenney, do elenco da sitcom, disse que havia ligado para seu empresário e pedido para sair da série quando soube que ela havia sido cancelada. "Me sinto muito empoderada por Wanda Sykes, Channing Dungey e todos na ABC se mantendo firmes em seus princípios, contra o abuso de poder. Valentões NUNCA vão ganhar".
A poderosa Shonda Rhimes, criadora de "Grey's Anatomy" (também da ABC), comemorou a decisão da emissora. "Ela teve o que merecia. Como eu digo para o meu filho de 4 anos, você faz uma escolha com suas ações. Roseanne fez uma escolha. Uma escolha racista. A ABC fez uma escolha. Uma escolha humana".
Viola Davis, estrela de "How To Get Away With Murder", elogiou a presidente da emissora. "Obrigada, Channing", escreveu no Twitter. O mesmo agradecimento foi feito pela atriz Bellamy Young, da série "Scandal".
Debra Messing, de "Will and Grace", também se disse grata pela decisão. "Acabei de ouvir que 'Roseanne' foi cancelada". Minha reação: lágrimas. Estou muito aliviada e agradecia. O ódio que vinha daqueles na órbita de Trump realmente desgastou nossas almas e nossas mentes. Eu não acreditava que isso poderia acontecer, eu tinha perdido a fé. Obrigada, ABC".
Rita Moreno, de "One Day At a Time", disse que Roseanne "partia seu coração". "É estranho que você, uma comediante, tenha esquecido o significado de 'piada' e comentário pessoal. Sua crueldade é inacreditável, e você ganhou uma passagem para uma vida solitária, triste e lamentável".
Minnie Driver foi outra a elogiar a decisão da ABC. "Muito orgulhosa da ABC por ter a fibra ética de cancelar 'Roseanne' apesar dos grandes números da série. Nós também fazemos uma série sobre uma família de classe média, venha nos assistir", disse a atriz, referindo-se à sua produção, "Speechless".
A cineasta indicada ao Oscar Ava DuVernay, congratulou Bob Iger, o presidente da Disney. "Ele disse sim a isso. Bom para a Disney. Se manifestando e fazendo a coisa certa aqui".
Misha Collins, o Castiel de "Supernatural", também foi só elogios à Disney. "'Roseanne' estava fazendo muito dinheiro para a Disney. Eles cancelarem a série por causa dos tuítes racistas e xenofóbicos da Roseanne demonstra grande responsabilidade corporativa e mostra quão poderoso o clamor do público pode ser. Continuem levantando suas vozes!"
O ator Josh Gad, a voz original do Olaf em "Frozen" disse esperar que as exigências para presidente dos Estados Unidos sejam as mesmas que as feitas para atores. "Eu realmente espero que, um dia, os valores que cobramos dos nossos atores, produtores, repórteres, CEOs, líderes religiosos, atletas, policiais, militares, trabalhadores e estrelas de sitcoms sejam os mesmos que cobramos do nosso presidente".
Já Charlie Sheen aproveitou para fazer uma brincadeira com um possível retorno de "Two and a Half Men": "Adios, Roseanne. Já vai tarde. Hashtag NÃO vencendo. A pista agora está livre para o NOSSO reboot".
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