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Roberto Farias, diretor de "Assalto ao Trem Pagador", morre aos 86 anos

O cineasta Roberto Farias - Divulgação
O cineasta Roberto Farias Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

14/05/2018 13h20

Um dos mais importantes diretores do cinema nacional, Roberto Farias morreu na madrugada desta segunda-feira (14), aos 86 anos. Ele se tratava de um câncer. A informação foi confirmada pela TV Globo, onde Farias realizou seus últimos trabalhos.

Irmão do ator Reginaldo Faria, Roberto produziu mais de 25 filmes, incluindo um clássico da filmografia brasileira, “Assalto ao Trem Pagador” (1962), primeiro sucesso do gênero policial no Brasil. O filme inovou ao deixar os cenários dentro dos estúdios e colocar as câmeras nas ruas das cidades, dando mais realismo às cenas de ação.

O cineasta também foi responsável por introduzir a sensação da Jovem Guarda Roberto Carlos nas telonas. A trilogia “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1969), “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa” (1970) e “Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora” (1971) ajudou a popularizar ainda mais a imagem do cantor como um personagem romântico e de alma aventureira. O tom dos longas fez Farias se aproximar do piloto Emerson Fittipaldi, com quem fez o documentário "O Fabuloso Fittipaldi" em 1973, ao lado de Hector Babenco.

O cineasta Roberto Farias em gravação com Roberto Carlos em 1970 - Reprodução - Reprodução
O cineasta Roberto Farias em gravação com Roberto Carlos em 1970
Imagem: Reprodução

Com o drama político “Pra Frente, Brasil” (1982) retratou a prática da tortura no auge da Ditadura Militar, simultaneamente com a Copa do Mundo no México em 1970, e ganhou prêmios no Festival de Gramado e de Berlim.

Seu último trabalho no cinema foi ao lado dos Trapalhões. Vindo em uma sequência de filmes de grande sucesso de bilheteria, a trupe apostou nos dotes de Farias e no texto do dramaturgo Ariano Suassuna em “Os Trapalhões no Auto da Compadecida“, que vendeu mais de 2 milhões de ingressos em 1987.

Longe da sétima arte, dirigiu para a TV Globo séries como “As Noivas de Copacabana” (1992), “Memorial de Maria Moura” (1994) e “Decadência” (1995).

Entre a política e a chanchada

Fluminense de Nova Friburgo, Farias começou sua história no cinema em 1950 como assistente de direção das chanchadas do estúdio Atlântida. Em 1957, já nos estúdios da Brasil Vita Filmes, lança seu primeiro longa, “Rico Ri à Toa” (1957). A experiência nas comédias ainda o levaria a trabalhar com o ator Grande Otelo em “Um Candango na Belacap” (1961).

Reginaldo Farias em cena de "Assalto ao Trem Pagador" - Divulgaēćo - Divulgaēćo
Reginaldo Farias em cena de "Assalto ao Trem Pagador"
Imagem: Divulgaēćo
Em 1962, decide dar um tempo no humor que dominava o cinema e se aventura em um thriller. Protagonizado pelo irmão Reginaldo e Otelo, “Assalto ao Trem Pagador” retrata o famoso assalto ocorrido contra o trem de pagamentos da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1960, e fez história ao introduzir comentários de cunho social sem deixar de dialogar com o público. "Sempre tive a preocupação de jamais esquecer o público, procurando fazer um cinema de qualidade", afirmou em entrevista a “Folha de S. Paulo”.

Seu talento era variado, indo de comédias eróticas ("Toda Donzela Tem um Pai Que é Uma Fera", 1966) a filmes políticos ("Pra Frente, Brasil", 1982). Como gestor, ajudou a transformar o cinema nacional nos anos 1960. Ao lado de cineastas e produtores como Luis Carlos Barreto e Glauber Rocha, criou a Difilm, distribuidora responsável por lançar os filmes do Cinema Novo.

A experiência em criar uma estrutura de distribuição o credenciou a se tornar presidente da Embrafilme, empresa estatal brasileira que produzia e distribuía a produção nacional entre 1974 a 1979.