Crise de meia idade? Keanu Reeves volta a ser moleque em "Bill & Ted 3"
Keanu Reeves não parece ser um sujeito muito preso ao passado. Ele nunca reprisou seu papel de Velocidade Máxima. Matrix fechou uma trilogia e ponto final. Então não foi com pouca surpresa que o astro confirmou que vai fazer, ao lado do colega Alex Winter, uma terceira aventura dos roqueiros e viajantes do tempo Bill & Ted.
Os dois primeiros filmes, lançados na virada dos anos 90, nunca foram sucessos gigantes nas bilheterias, mas tinham charme non sense o bastante para lhes dar uma aura cult. Nos quase trinta anos que separam o segundo filme deste terceiro, o mundo passou a apreciar os dois bobalhões bem intencionados.
Ao que parece a nostalgia dos anos 90 já está engatando uma segunda. Para Keanu em particular, o novo "Bill & Ted Face the Music" será um desafio – e uma surpresa para seus fãs do novo milênio. Quem está acostumado com o ar sóbrio de expressões econômicas que o astro traduziu em método de interpretação, vai se espantar com o estilão despojado e avoado de seu personagem, Theodore Logan.
Em "Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica", que Stephen Herek ("101 Dálmatas", "Rock Star") dirigiu em 1989, a dupla sonha em montar uma banda de rock, mas antes precisam terminar o colégio e zerar um trabalho de história. Mas eles não sabem que a integridade do futuro depende de eles não se separarem, então um viajante do tempo volta ao passado para ajudá-los com o dever.... Sim, é bizarro mesmo.
A sequência de 1991, "Bill & Ted – Dois Malucos no Tempo", vai além. O futuro utópico da humanidade, alcançado pelo sucesso das letras simplistas de uma dupla de roqueiros (adivinhem quem...), é ameaçado por um conquistador tirano que envia suas cópias robóticas malignas dos moleques ao passado para eliminar os originais. Mortos, Bill (ou William Prestno) e Ted precisam tapear a morte, voltar ao mundo dos vivos e deixar tudo excelente ao vencer uma importante Batalha de Bandas.
William Sadler entrega o retrato mais divertido da Morte que o cinema já viu e o filme ainda traz gente bacana como Pam Grier, o comediante George Carlin e até Jim Martin, então guitarrista do Faith no More.
Entre os dois filmes, Bill & Ted protagonizaram duas temporadas de uma série animada (com as vozes de Reeves e Winter) que, no Brasil, embalou as manhãs da molecada que ligava a TV para ver a Xuxa estimulando os hormônios da petizada. Depois de "Dois Malucos no Tempo", Keanu caçou o "Drácula de Bram Stoker", foi "O Pequeno Buda", entrou naquele ônibus em "Velocidade Máxima" e foi sócio de um Al Pacino dos infernos em "Advogado do Diabo", antes de conquistar o mundo em definitivo com "Matrix".
Com uma carreira tão atribulada e eclética, em que ele equilibrou comédia romântica ("Alguém Tem Que Ceder", com Jack Nicholson e Diane Keaton), ficção científica cabeçuda ("O Homem Duplo"), candidato a franquia (o subestimado "Constantine") e o pior que Hollywood pode oferecer (a equivocada refilmagem de "O Dia Em Que a Terra Parou"), algo tão bobo, despretensioso e bacana como Bill & Ted parecia relegado à nostalgia cult de algumas dezenas de anos atrás.
Mas o cinema (também) se alimenta desse sentimento. Não é ao acaso que tantos filmes dos anos 90 têm mostrado a cara no novo milênio, geralmente com o elenco original refletindo sobre os “anos perdidos”. Ewan McGregor e cia fizeram isso no segundo "Trainspotting". "Independence Day: O Ressurgimento" trouxe os aliens de volta à Terra. "Debi & Lóide 2" não fez nem marola. "Trigêmeos" (com Eddie Murphy juntando-se a Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito) e "Top Gun: Maverick "(Tom Cruise à frente) estão em desenvolvimento.
Neste cenário, "Bill & Ted Face the Music" não parece tanto assim uma anomalia. Depois de metralhar metade da população do mundo livre com dois "John Wick" (o terceiro está a caminho), talvez Keanu Reeves queira curtir os cabelos brancos com uma guitarra em mãos. E é basicamente essa a trama de "Bill & Ted Face the Music". Depois de salvar o universo com sua música, de viajar no tempo e de tapear a morte, nossos heróis curtem sua crise de meia idade como pais de família que encaram um pequeno problema há quase três décadas: eles ainda não criaram a canção perfeita, aquela que vai garantir um futuro utópico para a humanidade, e o relógio está correndo contra eles.
Como equilibrar a responsabilidade cósmica com os problemas bem reais que envolvem pagar as contas e levar as filhas para o colégio? A nova jornada envolve mais viagem pelo tempo, mais encontros com figuras históricas e, obviamente, muito rock androll e airguitar. Ainda melhor: é a chance de ver Keanu sorrir mais uma vez. Chega de SadKeanu!
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