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Criador de "3%" fala sobre morte chocante e mudanças para a 2ª temporada

Michele (Bianca Comparato) encontra um novo personagem, vivido por Bruno Fagundes, em cena da segunda temporada de "3%" - Divulgação
Michele (Bianca Comparato) encontra um novo personagem, vivido por Bruno Fagundes, em cena da segunda temporada de "3%" Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

07/05/2018 04h00

ATENÇÃO: O texto abaixo contém spoilers da segunda temporada de "3%". Não leia se não quiser saber o que acontece. 

Primeira série brasileira da Netflix, “3%” retornou para sua segunda temporada, no último dia 27, visivelmente mais sofisticada em relação à primeira – e cheia de reviravoltas e surpresas. Agora sem mostrar o Processo que seleciona os três por cento do título, a produção vai fundo para explorar a criação do Maralto, o oásis para onde vão os eleitos, e a luta social que se estabelece no Continente com a Causa, uma organização rebelde.

A temporada trouxe, também, a morte mais importante da série até agora: a de Ezequiel (João Miguel), o chefe do processo. Ele acaba assassinado por uma das novas personagens, a ambiciosa comandante Marcela (Laila Garin) após retomar suas raízes – ele era da Causa – e tramar uma forma de acabar com a seleção. 

Ao UOL, Pedro Aguilera, co-criador da série, diz que o final do personagem estava no ar desde o término da primeira temporada, que estreou em 2016. “A gente sentiu que a história do Ezequiel foi colocada de um jeito que a gente gosta muito e que se aproximava de um ponto final do arco do personagem. E aí na segunda, a gente pensou o que poderia fazer reverter esse arco, brincar com o tema da temporada, que é ‘o de que lado você está?’, mas também com as consequências nesse mundo”.

Ezequiel (João Miguel) confronta mulher em cena da segunda temporada de "3%" - Divulgação - Divulgação
Ezequiel (João Miguel) morre na segunda temporada de "3%"
Imagem: Divulgação

O roteirista e produtor-executivo é só elogios ao ator João Miguel. “O João foi muito fofo, foi sensacional. E acho que ele mandou muito bem nessa segunda temporada também. Acho que ele abraçou mesmo a jornada que o personagem tinha que passar”.

Outra grande surpresa da temporada foi a volta de Marco (Rafael Lozano), que muitos presumiam estar morto após ter sido prensado em uma porta do processo. O ator não foi citado durante a divulgação da nova temporada, e a produção conseguiu manter o segredo mesmo filmando no centro de São Paulo – com uma ajuda bem-vinda da caracterização bem distinta que o personagem ganhou para os novos episódios.

“A gente estava filmando numa casa lá no Cambuci, onde a gente filma a milícia”, lembrou Aguilera. “E a base da produção era há alguns metros. Ele [Rafael] estava na calçada, de Marco. Era de noite, mas passou uma adolescente, olhou e reconheceu. Ela falou ‘você é o Marco de 3%’. Aí ele, muito elegantemente, falou: ‘sim, sou eu mesmo, estou aqui fazendo outro filme. E como ele estava tão diferente, não tinha nada do figurino, ela foi embora. Não sei se ela suspeitou ou não”.

Polarização

Trazendo um confronto de duas forças opostas, o Maralto e a Causa, a segunda temporada de “3%” acaba servindo de alegoria à polarização política tão presente no Brasil e em outros países. Mas não houve a intenção de fazer referências diretas à atual situação política nacional, segundo Aguilera.

“Isso chega à série porque nós estamos assistindo às coisas, vivendo e escrevendo ao mesmo tempo, então mesmo que inconscientemente isso vai chegando”, analisa, contando que os roteiristas já trabalhavam com a ideia de lados opostos já durante a primeira temporada. “A série se relaciona com o Brasil de hoje em dia nesse sentido, não tem uma relação direta dos personagens, eles estão no futuro e também é uma coisa um pouco mais vaga. A gente captura um pouco o que está sentindo, às vezes sem querer, às vezes por querer, e coloca na série, mas não dá pra traçar um paralelo imediato”.

Michele (Bianca Comparato) e Joana (Vaneza Oliveira) em cena da segunda temporada de "3%" - Pedro Saad/Netflix/Divulgação - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
Radicalização política aparece nos novos episódios da série
Imagem: Pedro Saad/Netflix/Divulgação

Ele acredita, porém, que muitos espectadores irão se identificar com os extremos de cada lado. “Nos dois polos tem as contradições das radicalizações internas, que a gente achou legal explorar. Parece que são só dois lados, mas dentro de cada um cada pessoas quer fazer de um jeito ou de outro. Acho que as pessoas vão conseguir se relacionar emocionalmente com isso”.

Mudanças

Se parte do público abraçou “3%” logo após sua estreia, outra parte lançou uma saraivada de críticas contra a série, ressaltando principalmente o visual dos cenários e figurinos, mais pobres em relação ao que se costuma ver nas produções americanas. Esse problema, em especial, foi resolvido nos novos episódios, notavelmente mais afinados. Se um aumento de orçamento contribuiu para isso, a Netflix não revela.

Questionado sobre as lições que a série tirou para a segunda temporada, e como isso a afetou, o criador afirma que toda a equipe da série ouviu atentamente ao feedback dos espectadores e da crítica especializada para aprimorar a trama.

“O que a gente fez foi um pouco avaliar o que rolou na primeira que a gente acha tão bom, que é essencial na série e a gente não pode perder de jeito nenhum na segunda, e também o que tem nessa primeira que talvez a gente conseguisse fazer melhor”, explica. “Mas não sei dizer especificamente: ‘ah, vamos melhorar porque tinha muito azul nessa série’, não é tão simples”.

“Nosso desejo era sempre melhorar, porque não existe série perfeita, a gente tenta sempre fazer o melhor possível”, completa. “Mas mesmo assim, eu sempre tenho muito carinho pela primeira temporada e acho que a gente fez um esforço bem legal de chegar a algum lugar. E estamos de olho nas críticas e outras coisas. Acho que é a melhor postura, vamos ouvindo tudo, vai acumulando e quando formos fazer a próxima, temos essas coisas em mente”.