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Convertido, Cid Guerreiro diz que era infeliz com sucesso: "Não curtia"

Cid Guerreiro, que há quase uma década canta apenas repertório religioso - Reprodução/Facebook
Cid Guerreiro, que há quase uma década canta apenas repertório religioso Imagem: Reprodução/Facebook

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

07/05/2018 04h00

A voz continua a mesma, mas os cabelos de Cid estão mais platinados e em menor número. Ainda na ativa, o cantor e compositor que popularizou o axé e fez todo um Brasil entoar “Ilariê” e “Tindolelê” nas festinhas de aniversário tem uma nova missão: espalhar a palavra de Deus. “Antigamente, eu pintava o cabelo, fazia luzes. Agora não preciso mais. Tenho os holofotes do senhor para me ajudar”, brinca ele em entrevista ao UOL.

Convertido há 13 anos ao evangelho, quando diz ter vivido uma epifania em um culto na casa de Xanddy e Carla Perez, Cid mora há uma década em Fortaleza (CE), onde se dedica a Deus, à família e a shows em igrejas e conferências religiosas. Do passado materialista, em que sucesso e dinheiro eram grandes obsessões, restou apenas a alcunha do hoje “Guerreiro de Deus” nome de uma de suas novas músicas.

“Ilarilarilariê, pro senhor/Jesus é minha vida, Ele é meu Salvador”, canta ele na nova versão do hit, que já foi apresentada em trios evangélicos. Cid Guerreiro abandonou as letras seculares e, em 2017, lançou seu primeiro DVD religioso, gravado em uma comunidade ribeirinha no interior do Pará.

Não tenho saudade do passado. No auge da minha carreira, conquistei tudo o queria, mas vi que eu era prisioneiro da fama. Eu vivia preso em quarto de hotel e nem conseguia curtir o que eu ganhava. Eu não sabia o que era felicidade.
Cid Guerreiro

Um feliz membro da Igreja da Paz de Fortaleza, Cid Guerreiro também se dedica a causas sociais. O xodó é o projeto “Som das Tribos”, que beneficia cerca de 70 crianças em situação de risco na região da cidade cearense de Aquiraz. Lá, o cantor montou um centro onde ensina música e promove oficinas de percussão com instrumentos reciclados. Quer organizar um megashow no início agosto com participação de meninos e meninas. “Vai ser impactante”, promete.

Cid Guerreiro - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
O baiano Cid Guerreiro, que hoje também se dedica a projetos sociais no Ceará
Imagem: Reprodução/Facebook

UOL - Como e por quê você se converteu?

Cid Guerreiro - Um dia encontrei dois amigos em São Paulo, o Ronaldo e a Monica, que são casados, e eles me convidaram para um culto. Eu não sabia o que era. Nessa época, eu não gostava de cultos evangélicos. Diziam que "Ilariê" era uma palavra demoníaca, que eu tinha pacto com o diabo. Cheguei lá achando que era uma igreja, mas era a casa de Xanddy e Carla. Tomei um susto. E para minha surpresa, quem estava pregando era justamente um ex-cantor de trio elétrico, o Ivo Dias. Pensei que era pegadinha de televisão, mas logo percebi que era a maior "pegada" do mundo. Era Deus preparando tudo.

Mas você sente falta do reconhecido, de ser tietado na rua?

Acho que todos os percalços que passei na minha vida profissional de 33 anos foram bons para eu desenvolver um projeto para mim. Eu vivo hoje o melhor da minha vida. Não tenho saudade do passado. No auge da minha carreira, conquistei tudo o queria, mas vi que eu era prisioneiro da fama. Eu vivia preso em quarto de hotel e nem conseguia curtir o que eu ganhava. Eu não sabia o que era felicidade. Hoje tenho felicidade plena. Posso estar cantando para 30 mil pessoas ou para 30.

O que você fez com a grana que ganhou?

Eu ganhei muito dinheiro mesmo. Não posso negar. Comprei carro, bens. Eu me deslumbrei. Entrava e gastava sem ter noção do que era. E você sabe: tudo que vem fácil vai fácil. Graças a Deus, não me envolvi com drogas nem com coisas erradas. Levei muitos tombos. Tive altos e baixos. Mas na época em que aceitei Jesus como salvador, eu não estava na pior fase, estava bem. Não teve nada disso comigo.

Segundo Cid Guerreiro, falta reconhecimento aos autores e compositores do Brasil - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Segundo Cid Guerreiro, falta reconhecimento aos autores e compositores do Brasil
Imagem: Reprodução/Facebook

Como um cantor e compositor na época iniciante acabou virando o “segredo” do sucesso musical da Xuxa? Como nasceu a parceria?

Eu estava na Globo no Rio, e lá conheci o Chacrinha. Estava com uma fita K7 minha e mostrei. Ele ouviu, gostou e me colocou no programa dele ao vivo no sábado. No mesmo dia de reunião, tinha uma gravação da Xuxa. Fui apresentado à Marlene [Matos, ex-empresária da Xuxa], e levaram a fita para ela. Primeiro, a Marlene me botou para cantar no programa da Xuxa. Quando terminou o programa, ela me chamou na suíte e perguntou. “Você tem disco gravado?”. Disse: “Tenho, mas na Bahia”. Ela falou: “A partir de hoje, eu tomo conta da sua carreira.” Era uma proposta irrecusável. Aceitei e mudei pro Rio. Daí fiz “Ilariê”. Tem muitos anos que não me encontro com a Xuxa, por causa de caminhos de vida mesmo.

Cara, estamos no Brasil, né? Não ganho o que deveria por “Ilariê”. É incrível. A música é executada em todos os buffets infantis. É executada em todos os blocos, carnavais, micaretas, boates, casamentos. E não é só ela. “Tindolelê” e “Pinel por Você” também. É tudo meu. Infelizmente, por esse lado, estamos no Brasil.
Cid Guerreiro, sobre os direitos autorais de seus sucessos

Sua história a lembra a do Arlindo Barreto, o Bozo, que foi contada em “Bingo”. Gostaria de ver sua trajetória no cinema?

Rapaz, quando a gente está no mundo, a gente busca muitas glórias. Hoje, digo que busco o senhor. Alguém vai dizer: “Ah, mas é piegas dizer que não gostaria de ter a história da sua vida num livro, num vídeo”. Eu acharia legal, mas talvez seria mais para mostrar a história de como cheguei, onde cheguei, sempre com felicidade.