Como fã da DC Comics, "Vingadores: Guerra Infinita" me frustrou
Quando terminou a sessão de “Vingadores: Guerra Infinita” que assisti em São Caetano do Sul, a sala explodiu em aplausos, gritos e até choro. Na segunda vez que assisti ao filme, um amigo virou e disparou: “A DC nunca vai superar isso”.
Alguns meses antes, quando prestigiei “Liga da Justiça”, não se ouviu um murmúrio ao final do filme.
Lembro que, na ocasião, virei para o lado e falei: “Ah, podia ter sido pior”. Dessa vez, fiquei com o olhar meio perdido, tentando processar o que tinha acabado de acontecer.
Sim, sou um daqueles fãs de DC Comics que comprou a enciclopédia completa do universo dos heróis e vilões, que vibrava com as animações “Liga da Justiça” e “Jovens Titãs”, querendo viver aventuras ao lado daquelas figuras.
Tenho uma coleção de itens de Batman, e ao mesmo tempo, sei citar algumas das encarnações do poderoso Senhor Destino e da vilã Mulher-Leopardo — que marcará presença no próximo “Mulher Maravilha”.
Por isso, terminei “Vingadores: Guerra Infinita” com dois tipos de frustração: a de saber que meus heróis favoritos têm todo potencial de provocar todas as reações apaixonadas que esse filme provocou, e a de que, no fundo, esse filme sofre de alguns dos mesmos problemas que, digamos, a adaptação de “Liga da Justiça” para cinema. Porém, nesse caso, poucos vão se importar.
O filme
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Na primeira vez que assisti ao filme, achei “Vingadores: Guerra Infinita” uma boa experiência. Boa, nada mais, nada menos.
Depois de uma segunda assistida, posso dizer que minha opinião do filme subiu, pois as boas emoções provocadas nas duas sessões foram as mesmas, na mesma potência — as reações apaixonadas de ambas as plateias ajudaram.
Mas, ainda mantenho uma posição: definitivamente não é um marco do cinema, como foi e ainda é “Pantera Negra”, mas continua sendo uma obra riquíssima.
Um trabalho cheio de momentos marcantes, mas que acabam muito rápido, sem fechamento adequado.
É um filme muito bom, mas com problemas. Eu colocaria no mesmo patamar de um “Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1”, justamente por conta do último elemento. É a primeira parte de uma saga, que ainda não atingiu seu ápice e promete uma conclusão explosiva. Quem sair desse filme vai clamar com todas as forças para que a sequência seja lançada amanhã.
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Além disso, o filme é um grande emaranhado de acontecimentos. Por mais que isso contribua para o ritmo frenético, impede que seja construída uma narrativa realmente coesa. Em outras palavras, alguns personagens e elementos são mal aproveitados.
Dois exemplos: todo o time do Capitão América (Chris Evans) nesse filme é altamente descartável, pois, falando termos francos, não fazem quase nada de relevante. Sério, se Evans teve uma dúzia de falas nesse filme foi muito, o que não seria problema se os trailers não o tivessem vendido como grande protagonista.
Outro momento é a descoberta da Joia da Alma, uma das Joias do Infinito. Poderiam ter sido feitas milhões de coisas interessantes, mas o impacto se diluiu com uma saída dramática óbvia.
Duelo de titãs
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Entretanto, apesar dos percalços, se dissesse que não saí do filme sem palavras estaria mentindo. Senti que tinha acabado de deixar uma montanha russa, na qual entrei sem saber as manobras que ela faria.
A cada momento o filme me atingiu com uma reação emocionante, me fazendo roer as unhas com ansiedade. No final, estava de boca aberta. Os problemas que identifiquei pareciam irrelevantes. Ainda mais depois, quando comecei a discutir teorias do filme com uma amiga, enquanto tentávamos destacar pontos que podíamos ter perdido.
Esse, em minha visão, é o maior mérito que a Marvel pode clamar, e que a DC deveria logo perceber: a Marvel virou o próprio Thanos. Ela é o Titã Louco, que arrebata inimigos e rivais em igual nível, provocando um turbilhão de sensações e não permitindo que o público olhe para outro lado.
Tudo isso é graças à estratégia desenvolvida por Kevin Fiege e sua equipe. Eles construíram um universo bem pensado, com atores carismáticos, boas histórias, uma grande preocupação com os fãs, um respeito pelo material.
Esse é talvez o ponto que mais me irrita quando penso no universo cinematográfico da DC. Um dos motivos de preferi-la tanto em relação à Marvel é por sempre considerei a DC infinitamente mais respeitosa com seus personagens. Então, por que a mesma lógica não é utilizada nas adaptações para o cinema?
Eu sei que a DC tem capacidade de fazer um verdadeiro universo cinematográfico, com toda a força que suas figuras icônicas podem trazer. Afinal, a DC ainda funciona muito melhor do que a Marvel em outras mídas— o dos videogames, para citar um.
No entanto, falta a visão que trouxe a Marvel até aqui. Falta respirar e ser meticuloso para amarrar bem os universos, e não jogar uma bomba como foi “Batman vs Super-Homem” na cabeça dos fãs e esperar que eles lidem com ela.
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Só eu sei como, enquanto estava vendo “Guerra Infinita”, eu pensava em como poderia ser incrível um filme da Liga da Justiça lutando contra Darkseid e seus seguidores de Apokolips, em uma jornada para salvar o universo. E melhor: ao som dos mesmos aplausos que torciam pela queda de Thanos.
É daí que parte minha outra frustração. As pessoas vibraram pelo filme, colocando completamente de lado os seus problemas. Ora, por que a participação minúscula de Super-Homem em “Liga da Justiça” causa tanta revolta, e a quase inexistência do Capitão América em “Guerra Infinita” não? Por que um filme que sofre de excesso de informação é tão criticado e o outro não?
Não me entenda mal, “Guerra Infinita” é infinitamente — com o perdão do trocadilho — melhor que “Liga da Justiça”. Mas o fato é que os dois filmes têm alguns problemas parecidos, e um foi claramente mais criticado que o outro.
Porém, mais uma vez, isso é graças à Marvel, que conseguiu, ao longo de anos, criar um universo cinematográfico tão bem alinhavado, que se blindou das grandes reclamações. O ápice disso chegou com “Guerra Infinita”.
Agora, está na hora da DC olhar para o futuro e refletir sobre essas questões. Potencial existe, sempre existiu, e se a empresa não quiser que a Marvel seja para sempre sua kriptonita no cinema, ela precisa resgatar a sua essência, aquilo que a faz forte, que fez de “O Cavaleiro das Trevas”, de Christopher Nolan, um filme histórico.
A DC tem todo o poder de ter o seu “Guerra Infinita”. Aliás, de ir além. Só falta organizar a casa e melhorar o jogo, para que os murmúrios, voltem a ser aplausos. Afinal, ela merece.
162 Comentários
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Caro Guilherme, a única parte em que concordo com você é quanto ao potencial e material que a DC tem para fazer filmes estupendos, agora querer comparar o filme da Liga da Justiça, com aquele arremedo de adaptação de vilão (ao invés do "peso-pesado" Darkseid um outro que sequer chega aos pés do "DESTRUIDOR") combinado com as corridas ridículas do Flash, aí é querer achincalhar com a quase "obra-prima" que foi o "evento" Guerras Infinitas. Creio que você se deixou levar pela sua paixão aos personagens da DC em detrimento a um comentário imparcial. Sou fã da Liga da Justiça, porém, a adaptação para o cinema foi pífia. Penso que pelo clima "sombrio" de Batman vs. Superman (que por sinal, contrariando você e outros tantos, gostei muito) resolveram deixar os personagens mais "light", digamos assim, para vender melhor a história, para mim, ficou extremamente caracturizada, um pastelão. Mas com essa geração onde tudo tem que ser "suave na nave"...
Na minha opiniao a DCdeveria desistir da Liga pois nunca sera os Vingadores no cinema. A DC sempre teve personagens mais infantis creio eu por causa das series e filmes antigos de Batman, mulher maravilha e superrman, alem do desenho animado da liga (que era muito bom). Batman so se “adultizou” apos Frank Miller. DITO isso, eu apostaria em longas individuais, ainda mais que o universo DC nao tem as cidades reais como a marvel - e ainda tentaria fazer um bom super man. Batman chegou perto com Cavaleiro mas ainda nao me convenceu - tinha que ser mais sombrio e violento ainda. Mulher Maravilha eu gostei pra uma personagem sem a grandeza de superman e batman. Superman PRECISA de um bom longa moderno. A Marvel acertou suas adaptacoes pro cinema ainda que no universo dos quadrinhos, o homem aranha eh muito maior que thor capitao e ironman, coisa que se iguala no cinema. Fas mais antigos emtenderao