Haikaiss: os rappers que bombam como Luan Santana e nunca assinaram com gravadora
Os integrantes do grupo paulistano Haikaiss já sentaram à mesa com executivos das principais gravadoras do país. O roteiro das reuniões variou pouco. Ao ler as propostas de contrato, consideradas pouco vantajosas, a banda de rap mais popular do país tinha sempre a mesma resposta: um categórico “não”. Formado em 2006, por meio do próprio selo/produtora, a Ésseponto Records, os rappers vêm galgando aos poucos o sucesso, sempre de forma independente, a cada música divulgada na internet.
De cerca de um ano para cá, a coisa tomou proporção superlativa. Os clipes oficiais do Haikaiss já batem facilmente a barreira de 1 milhão de views no YouTube, algo que nem sempre um artista de quilate contratado consegue atingir. O grande hit é “Rap Lord”, parceria com Jonas Bento que já ultrapassa 100 milhões de visualizações. Apenas para se ter uma ideia: o vídeo foi cinco vezes mais visto que “Check-in”, o último clipe do sertanejo Luan Santana.
Formada por três MCs —SPVic, Spinardi, Pedro Qualy— e um DJ —Sleep—, a banda, atração no último Lollapalooza Brasil, não sabe explicar muito bem o motivo de tamanha atenção crescente, especialmente por parte da parcela mais jovem do público. Muitos acabam usando as músicas como porta de entrada para a cultura hip hop. “São 12 anos de caminhada. Foi algo que aconteceu naturalmente. Consideramos que temos bom gosto, que somos aplicados e temos boas referências no rap. Mas é difícil explicar”, diz ao UOL Victor Correia, o SPVic, fundador do Haikaiss.
Mas por que optar pela independência mesmo fazendo tanto sucesso? Simples: as propostas colocadas sobre a mesa pelas gravadoras sempre pareceram “desproporcionais”, financeira e artisticamente. “Como temos nosso próprio selo, temos ideia das porcentagens, dos valores, e do nosso potencial. Sabemos o que podemos alcançar no mercado. Não é por acaso por exemplo, que você vê uma Anitta com a própria produtora, cuidando da própria carreira mesmo com gravadora. Só estamos aguardando a melhor oportunidade para assinar.”
Jovem, com idades variando entre 26 a 35 anos, o quarteto mantém o próprio estúdio na zona norte de São Paulo, onde já descarregou mais de 70 músicas, distribuídas em dois álbuns, dois EPs e vários de singles. As influências estão no underground e em nomes como Eminem e Racionas MCs. As letras versam principalmente sobre cotidiano do jovem paulistano, não necessariamente o da quebrada. Temas político-sociais também estão presentes, mas acabam eclipsados por hits como “A Praga”, “Sem Graça” e “Casual”.
Críticas
A falta de um discurso mais engajado politicamente já fez o Haikaiss ser motivo de críticas no meio do rap. Para os integrantes, tudo depende de como você interpreta o trabalho. “Temos muitas músicas com temática social, com letras mais politizadas. O rap é política. Não sabemos exatamente por quê, mas as que bombam não têm esse apelo. Não é culpa nossa”, entende SPVic, que, por meio do Haikass, integra o coletivo Damassaclan, que conta com nomes do underground paulistano como Costa Gold, Família Madá e Guerrilheiros, entre outros.
“O que acontece é que nenhum de nós, principalmente dentro do Haikaiss, têm essa postura militante. Cada um tem seu olhar, sua opinião. E a gente não faz nada forçado. Nossa postura acaba aparecendo como a de um artista independente, dono do próprio selo. Não é que a gente seja só pop ou popular, ou que essa seja nossa intenção, mas acaba sendo a consequência do trabalho.”
A alvenaria pop Haikaiss é nítida. Apesar de ter nascido no underground, o grupo investe em misturas de flows e arranjos ora eletrônicos, ora orgânicos. Alguns trazem instrumental de banda e influências do R&B americano. Não por acaso o grupo já se uniu a Projota, na faixa e no clipe do sucesso “Pique Pablo”, e ao funkeiro MC Lan em "Não Vou Morrer de Ficar Rico". Fãs mais radicais torceram o nariz.
Outra polêmica: ser branco e fazer rap já chegou a virar a questão. “É uma falta de respeito. A gente nem dá espaço para falar disso. Quando você está em ascensão, vão buscar motivos para fechar portas. O racismo existe e sempre vai existir, mas, por sermos brancos, jamais vamos nos sobrepor à cultura negra. Sabemos de onde a música veio e a importância dela. Isso não nos afeta. Sabemos o que é verdade e o que é mentira no rap”, afirma SPVic.
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