Domingos Montagner tem "presença espiritual" em documentário, diz diretor
Um jantar entre Domingos Montagner com sua mulher, Luciana Lima, e o amigo Fernando Sampaio definiu o projeto para celebrar os 20 anos do grupo La Mínima, fundado pelos dois colegas em 1997. A morte prematura do ator, no intervalo das gravações da novela "Velho Chico", porém, quase arruinou o sonho. Com a ajuda do diretor Luiz Villaça, a família e a companhia reuniram forças para levar adiante o documentário "Pagliacci", que estreou nos cinemas nesta quinta-feira (26).
"A passagem do Domingos aconteceu tão repentinamente que deixou todos suspensos, sem saber o que pensar. No momento em que a poeira começou a baixar e retomamos os trabalhos, nos vimos quase como em uma 'dívida' afetiva com o amigo, com a trajetória. Se não fosse a parceria do Luiz, talvez esse documentário viesse mais tardiamente. Para nós, foi um presente", afirma Luciana Lima, viúva de Montagner.
O filme explica as origens do palhaço e do circo por meio do espetáculo "Pagliacci", da trajetória de duas décadas do La Mínima e de seus fundadores. Domingos Montagner e Fernando Sampaio têm histórias semelhantes. Fora das tradicionais famílias circenses, eles desenvolveram juntos as técnicas no Circo Escola e se tornaram inseparáveis nos picadeiros e na vida.
"Domingos fazia a base, os números de mão, e eu ficava em cima dele. Ele era muito mais forte e sempre foi um cara mais sério do que eu. Esse jogo de 'branco' [palhaço mais sério] e 'augusto' [palhaço mais infantil] não era só em cena, tinha esse mesmo jogo fora de cena entre nós dois também. Ele tinha as características de 'branco' e eu talvez eu tivesse as características para ser um 'augusto'", explica Fernando Sampaio ao UOL.
Montagner aparece aos poucos no documentário, entre citações e imagens de arquivo do La Mínima. Luiz Villaça, um dos cinco diretores do filme, conta que quis manter a ideia inicial, como se o ator estivesse vivo, mas a morte tornou a condução do trabalho mais suave e delicada. O diretor ressalta que a produção não tem caráter póstumo.
"Não é um documentário póstumo. Se alguém está esperando isso, não é. É um documentário que foi pensado antes e, portanto, tentamos com a maior delicadeza do mundo incluir tudo que tínhamos pensado no famoso jantar. Acho que isso o filme conseguiu, teve êxito. O filme foi feito como seria se o Domingos estivesse [aqui]", explica Villaça.
"Estávamos todos muito cientes de que não era um momento fácil, que o processo de ensaio também não foi fácil porque foi logo após o acidente com ele. O acidente foi em setembro e começamos a ensaiar em outubro", relembra Fernando Sampaio.
Presença espiritual
Embora não tenha participado fisicamente, Montagner "aparece" espiritualmente em "Pagliacci". O próprio Fernando Sampaio diz no filme que sente a presença do eterno parceiro de palco. Luciana Lima também sentiu o marido durante a produção do filme e aguçou sua espiritualidade para lidar com a morte trágica no rio São Francisco.
"A perda da presença física é muito singular, porque temos o Domingos presente espiritualmente em forma de energia, insights e intuição muito fortes. O Fernando inclusive falava assim: 'Eu era completamente cético, não acreditava em absolutamente nada, e a partir da passagem do Domingos minha espiritualidade mudou consideravelmente'. Era uma forma até de acalentar toda essa dor e esse choque que sofremos. Nos sentíamos felizes e aliviados porque tínhamos certeza de que ele estava ali e feliz pela continuidade do trabalho, porque ele não faria diferente se fosse o contrário", conta Luciana.
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