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Como um ator em luto ajudou a prender o serial killer procurado há 40 anos

Patton Oswalt e Michelle McNamara, em foto de 2012 - AP/Matt Sayles
Patton Oswalt e Michelle McNamara, em foto de 2012 Imagem: AP/Matt Sayles

Do UOL, em São Paulo

26/04/2018 11h19

Patton Oswalt é um dos comediantes mais celebrados dos Estados Unidos. Estrela do stand-up, ele também tem participações marcantes no cinema (é a voz do Remy em "Ratatouille") e na TV (interpretou os hilários irmãos Billy, Sam, Eric e Thurston em "Agents of S.H.I.E.L.D."). Agora pode também ganhar o crédito por ter contribuído para a prisão de um dos mais famosos serial killers dos Estados Unidos, o Assassino do Golden State.

Oswalt foi casado por dez anos com a jornalista e escritora Michelle McNamara, que morreu dormindo em abril de 2016 aos 46 anos. Ela ficou famosa ao criar um blog que investigava histórias reais de crimes. Na época de sua morte, McNamara trabalhava em um livro justamente sobre o caso do Assassino do Golden State, tendo analisado profundamente as investigações sobre os crimes e entrevistado vítimas, policiais aposentados e testemunhas.

Quando McNamara morreu, de uma doença cardíaca não identificada, o livro estava pela metade. Em vez de deixá-lo na gaveta, Oswalt, ainda em luto, decidiu contratar Paul Haynes, que ajudou McNamara em sua pesquisa, e o jornalista investigativo Billy Jensen para finalizar o trabalho, usando as anotações e mais de 3500 arquivos compilados pela mulher.

DeAngelo - Polícia de Sacramento/Divulgação - Polícia de Sacramento/Divulgação
Joseph James DeAngelo, que era procurado pela polícia há 40 anos
Imagem: Polícia de Sacramento/Divulgação
"Eu gostaria de dizer que tive um momento de epifania quando percebi que precisava finalizar o livro, mas eu não tive. Aquele ano inteiro está realmente coberto por uma neblina de dor", disse Oswalt ao Entertainment Weekly. Segundo Oswalt, finalizar o projeto de McNamara virou a sua "missão", para deixar viva a memória da mulher que morreu de forma tão repentina.

O resultado foi o livro "I'll Be Gone in the Dark" ("Eu Vou Embora no Escuro", em tradução livre), lançado no começo do ano, e que logo entrou na lista de mais vendidos dos Estados Unidos. A obra reavivou na opinião pública a cobrança para a resolução do caso, que finalmente foi concluído nesta quarta com a prisão do ex-policial Joseph James DeAngelo, de 72 anos.

Ele era procurado por 12 mortes e 45 estupros no Estado da Califórnia entre 1976 e 1986. DeAngelo será acusado por dois assassinatos, do casal Brian e Kate Maggiore, em 1978, graças a amostras de DNA coletadas na cena do crime. A procuradoria pedirá a pena de morte.

"Minha cabeça agora está girando em milhões de direções, mas acima de toda essa exaustão e surrealismo eu me sinto muito, muito feliz em saber que o trabalho dela não foi em vão. Por mais maluco que possa parecer, eu estive com a família dela na noite anterior, conversando sobre o livro, e isso foi muito estranho", afirmou Oswalt. "A polícia nunca vai dar o crédito para uma escritora ou jornalista que ajudou a resolver um caso. Mas eles continuaram a falar do Assassino do Golden State, então só por manter o interesse o trabalho dela já afetou o caso". 

Agora, Oswalt quer se encontrar com DeAngelo na prisão, para fazer as perguntas que McNamara gostaria de fazer. "Eu sinto que esta é a última tarefa para Michelle, levar para ele as perguntas do final de seu livro, falar 'Minha mulher tem algumas perguntas para você"", concluiu Oswalt ao The New York Times.