Radiohead se apresenta em SP com Thom Yorke em transe e público concentrado
Nove anos separavam a histórica estreia do Radiohead em São Paulo do show que moveu as estruturas do Allianz Parque neste domingo (22). De lá para cá, muita coisa mudou: a banda, o local e, em um quadro maior, o próprio mundo em que vivemos, cada vez mais digital, extremo e culturalmente diverso. A sonoridade da banda vem a reboque.
Assim como fez em 2009, o Radiohead impressionou o público paulistano. Belo e sinestésico, o show do álbum "A Moon Shaped Moon" propõe um mergulho na psique do homem pós-moderno, em suas entranhadas neuroses e nuances. É um espetáculo abstrato de muitas cores e raios de luz, sob camadas e camadas de timbres.
Ao vivo, cada música do Radiohead se transforma em função da banda e da configuração do palco, que funciona como uma instalação projetando vídeos e efeitos em tempo real —em certos momentos, por sinal, os telões chegaram a falhar. A cênica sofisticada é a principal marca dos shows de um grupo que um dia vislumbrou o futuro que hoje sentimos na pele (e ouvidos).
Outra característica marcante: a postura do vocalista Thom Yorke, que se reflete na dos demais integrantes. Em transe e 100% absorto na música, ele pouco é afeito a falas, discursos ou tentativas de se comunicar em português que extrapolem o "obrigado".
Desta vez sem o marketing do "primeiro show no Brasil", o Radiohead não foi capaz de lotar o Allianz Parque, com sua capacidade para cerca de 45 mil pessoas em shows. Havia "buracos" nas pistas e mais de um terço das arquibancadas estavam vazias. Melhor para quem pagou ingresso.
Sem muita histeria, a plateia assistiu à maior parte da apresentação com a deferência de um estranho recital pop. Até os telefones celulares em punho, obrigatórios em qualquer grande shows no país, apareciam em menor número na arena. Grito de "u-hu!"? Raridade. Seria o público do Radiohead, digamos, bem diferente? Mais centrado com certeza ele é.
Em termos de repertório, sempre uma incógnita, os integrantes decidiram privilegiar músicas lançadas a partir da década de 2000, deixando em segundo plano discos de sucesso como "The Bends" e "OK Computer". Mas quando faixas desses álbuns vinham à tona, o coro da plateia se fazia inevitável, assim como nas vezes do álbum "In Rainbows" (2007), clássico contemporâneo.
Entre tantos climas diversos, da singeleza acústica à porradaria eletrônica, duas perguntas que todo ouvinte mais aleatório do Radiohead costuma fazer: "Tocaram 'Creep', aquela do clipe da MTV?". "E 'Fake Plastic Trees', da propaganda do Carlinhos, rolou?" Respostas: não e sim (diferentemente do que aconteceu no Rio na sexta). Como de costume, a claustrofóbica "No Surprises" também veio faceira, para abrilhantar ainda mais o set-list.
Casaizinhos enfim puderam se abraçar e se esgoelar enquanto dançavam meio no tempo da música, meio fora dele. No fim, a diversão falou bem mais alto que a melancolia. Um show rico. Para se guardar.
Set-list
Bis:
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