Rodrigo Santoro promete revolução na nova temporada de "Westworld"
Faz três anos que Rodrigo Santoro está imerso no mundo de “Westworld”, a ambiciosa série da HBO que se passa em um parque povoado por androides. O astro brasileiro, que nesse meio tempo se tornou pai pela primeira vez e levou o filme “Un Traductor” – ainda inédito no Brasil – ao Festival de Sundance, agora terá um papel central na revolução prometida para a segunda temporada da série, que chega à televisão neste domingo (22).
Seu Hector Escaton, “anfitrião” do parque que encarnava o típico vilão de velho oeste, está de volta, mas diferente – assim como todos os demais androides da série, que ao final da primeira temporada fugiram do script e começaram a agir por conta própria. “Ele volta em condições muito interessantes”, diz Santoro ao UOL, por telefone. “Naturalmente, o parque se encontra caótico, e o que a gente vai ter é revolução. Acho que é a melhor palavra pra definir o que vocês podem esperar. E o Hector está no centro desse vetor, dessa revolução”.
Sobre a trama em si, o ator não pode se alongar. A série, afinal, é envolta em mistérios desde seu início e têm seus segredos guardados a sete chaves pelos criadores Jonathan Nolan e Lisa Joy. Mas ele garante: os espectadores, até agora, só viram “a pontinha do iceberg”. Os novos episódios vão mergulhar em outros parques temáticos mantidos pela Delos, a empresa proprietária do Westworld, sem deixar de lado as questões filosóficas e existenciais intrínsecas à jornada dos anfitriões, que agora têm consciência de suas realidades.
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“O que nós temos na segunda temporada é o momento em que o anfitrião começa a tomar consciência de quem é, e entra neste lugar existencial. Quem ele é? O que é o programado? O que do programado faz parte dele, e o que não faz?”, explica Santoro, lembrando também o que talvez seja o mais importante da jornada: “O que eles vão fazer com essa liberdade? É uma grande metáfora, estamos falando de nós”.
Lado obscuro
A primeira temporada da série não foi muito generosa com os humanos – especialmente os visitantes do parque, que em muitas cenas surgiram praticando atos de violência brutal contra os anfitriões. E, na visão do ator, os fictícios clientes do parque não vão lá com a intenção prévia de cometer atrocidades – mas acabam a esses impulsos por saberem que se trata de um ambiente onde não serão julgados por aquilo.
“Não é que as pessoas vão lá para fazer o pior. As pessoas vão para lá e se encontram em suma situação que não têm julgamentos e limites. Então a questão é essa: o que vem à tona quando você está em um ambiente em que não existe nenhum tipo de julgamento social, você não deve nenhuma explicação a ninguém, e nada do que você fizer vai sair dali? Essa é a questão”, reflete. “Não é que as pessoas vão lá para serem vilões, é que as pessoas, nesta situação, acabam colocando para fora os seus lados mais obscuros que todos nós temos. Mas a gente não lida com isso. Não é politicamente correto, isso não é socialmente aceitável. Agora, se os humanos são colocados nessa situação, o que vai vir à tona?”
Há tanto tempo trabalhando em uma história que lida com inteligência artificial e tecnologia, Santoro tem também pensado mais sobre esses assuntos, também em alta na vida real por eventos como o surgimento da robô Sophia, que chegou inclusive a discursar na ONU. “É impossível, tão envolvido, não passar por vários questionamentos. Principalmente sobre essa relação com a tecnologia, o homem e a máquina, o que nós criamos. E agora a pergunta é: quem é que está no controle?”
“A internet sem dúvida alguma foi a grande virada nessa configuração, porque a partir disso tudo mudou”, prossegue. “Mudou a forma como nós nos relacionamos uns com os outros, especialmente. Ela está transformando realmente o nosso convívio, nossa realidade, nossa forma de se relacionar. Acho que houve uma mudança muito grande no comportamento humano a partir disso. Essa é uma das coisas que eu mais me questiono”.
Mobilizações em Hollywood
Nos últimos anos, a grande indústria do cinema americano se viu chacoalhada por movimentos demandando representatividade. O #OscarsSoWhite questionou a ausência de atores negros entre os indicados da maior premiação cinematográfica em 2016; no ano passado, foi a vez das mulheres, com o #MeToo, questionarem práticas de assédio sexual e também clamarem por mais representação por trás das câmeras.
Os latinos ainda não se mobilizaram da mesma forma – apesar de terem, na última década, representado em apenas 3% dos papéis com fala, de acordo com um estudo da University of Southern California – o que Santoro adoraria ver. “Isso acontecendo, eu vou participar inclusive”, diz. “Acho que o mais importante é que os movimentos estão acontecendo. Existem várias causas, se a gente for olhar, e essas que já aconteceram são causas importantíssimas, mas tem várias que a gente precisa tratar. Somos criaturas que têm bastante trabalho.”
O ator ressalta, porém, que acredita que a reforma que precisa vir antes de todas é a reforma interna. “É a reforma dentro do ser humano. É a gente olhar pra dentro e começar a questionar os nossos valores, como a gente esta agindo um com os outros. O tempo que nós vivemos, das minorias, das inclusões, de ativismo, de tudo isso, acho superimportante e é bonito ver tudo isso acontecendo. Ao mesmo tempo, temos que ter consciência de que existem várias outras coisas que também precisam ser abordadas, precisam ser discutidas. Acho que agora há espaço para as coisas serem discutidas. Elas são levantadas, ganham atenção por causa da internet, aí as pessoas começam a discutir, abraçam as causas e acho que a gente vai caminhando.”
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