Capa de HQ premiada é retirada de exposição em Belém; autor lamenta censura
O quadrinista Gidalti Moura Jr. teve a capa da HQ "Castanha do Pará" coberta em uma exposição de quadrinhos no Parque Shopping Belém. A obra, que levou o prêmio Jabuti de melhor história em quadrinhos em 2017, era um dos destaques da mostra que tem a intenção de ressaltar a obras de artistas locais. Apesar de não ter nascido em Belém, Gidalti foi criado na capital e se considera paraense.
A capa foi retirada da exposição supostamente após pressão popular na internet. Uma publicação de um PM que se diz ofendido com o desenho foi compartilhada em grupos de redes sociais como a página "Guerreiros do Pará", que exibe fotos e informações de crimes no Estado.
Em entrevista ao UOL, o quadrinista disse que só soube da censura nesta segunda-feira (16), após ser procurado por um jornalista local para comentar. "Não tive nenhum posicionamento do shopping, apenas dos intermediários. Foi tudo tratado com os curadores, que inclusive estão bem constrangidos com a situação. Mas eu não tenho nenhum problema com o shopping. Inclusive, espero que a reputação deles não se abale. Quero que todo mundo saia bem dessa situação", explica.
Nenhum representante do Parque Shopping Belém foi encontrado pela reportagem para comentar o caso. Nas redes sociais do estabelecimento, os clientes já cobram uma posição em um post sobre a exposição, mas ainda não há justificativa ou uma posição oficial sobre a retirada da obra.
Policial exercendo sua função
Gidalti lamenta, no entanto, a decisão precipitada do estabelecimento. "É imperdoável tomar partido pela opressão. Isso é um erro e precisa ser apreciado. Quando pessoas agressivas e extremistas atuam nas redes sociais e acabam influenciando as decisões na prática, isso é perigoso. E acho que foi isso que aconteceu nesse caso. O problema não é a ignorância de certas pessoas, isso é inevitável. O problema é quando uma instituição dá voz a um grupo de pessoas tão desinformados, que não têm argumentos, que estão pautados na violência e na mentira."
Ele explica que sua obra foi julgada apenas pela capa e tirada de seu contexto original, e que jamais teve a intenção de ofender a polícia com o desenho que ilustra a capa de "Castanha do Pará".
O menino que foge de um policial na capa é Castanha, um jovem que vive na rua e se vira pra sobreviver. Seu lugar preferido é o mercado Ver-o-Peso --cartão postal de Belém--, já que lá ele pode bater carteiras e, eventualmente, roubar frutas para comer.
"A cena da capa retrata justamente o momento em que o Castanha acaba de fazer um furto e foge do PM. A capa nada mais é do que o exemplo de um policial exercendo sua função. Não se trata de dizer que o policial é truculento, nada disso. É só um policial correndo atrás de um marginal, que é o personagem. Embora ele seja menor de idade, não tomo nenhum partido. É simplesmente uma ficção. Você vai ler, se divertir, opinar, mas censurar jamais", ressalta.
O artista não acredita que o shopping volte atrás na decisão, mas também diz não estar chateado, e sim preocupado. "Eu fiz a minha parte em lamentar a censura. Para mim já é suficiente. Minha lamentação é muito mais forte do que qualquer retratação. O mais grave nesse caso é a influência das redes sociais. Algumas pessoas acham que isso faz parte do jogo democrático. Você intimidar uma instituição a refazer alguma exposição, algum procedimento. Eu não consigo achar normal. É um desenho de censura reconfigurado", conclui.
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