Topo

Episódios de 1 minuto: brasileira e americanas criam série para o Instagram

Sarah Alò, Flavia Borges e Devon Carson, criadoras da série para o Instagram "Menace" - Reprodução/Instagram/@menaceseries
Sarah Alò, Flavia Borges e Devon Carson, criadoras da série para o Instagram "Menace" Imagem: Reprodução/Instagram/@menaceseries

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

06/04/2018 04h00

Já imaginou maratonar uma série em apenas 13 minutos? Já é possível. É essa a duração total da primeira temporada de "Menace", série digital pensada para o Instagram com 13 episódios de 1 minuto cada.

Lançada nos Estados Unidos no final do ano passado, a ideia é de uma brasileira, Flavia Borges, e duas americanas, Sarah Alò e Devon Carson. Elas também atuam na pele das três protagonistas --Jane, Ana e Daisy-- que vivem em um futuro próximo em que as mulheres precisam respeitar uma espécie de toque de recolher e se isolar por causa de ataques misóginos.

"Depois da eleição presidencial de 2016 dos Estados Unidos, ficou claro para nós, que os direitos das mulheres poderiam estar verdadeiramente ameaçados por um presidente que admitiu publicamente assediar mulheres", explica Flavia em entrevista ao UOL sobre como surgiu a ideia para a temática feminista da série. A brasileira de Ipatinga (MG) vive nos Estados Unidos há 12 anos. 

Flavia aproveitou sua própria experiência na terra do tio Sam para construir sua personagem. Ana é uma imigrante latina que sente na pele o preconceito por causa de seu sotaque e o suposto interesse em um green card. A história gira em torno das três mulheres que são moradoras de um mesmo edifício e decidem se unir enquanto esperam a onda de ataques nas ruas passar.

De forma delicada e ao mesmo tempo descontraída, elas tocam em temas sensíveis como racismo, preconceito e gordofobia. Há espaço também para falar de aplicativos de paquera e crise dos 30. No final, o que domina é a sororidade, termo que designa a união entre as mulheres baseado na empatia e no companheirismo.

"Menace significa ameaça em inglês e em francês. Achamos interessante usar a palavra 'men' (homens) para intitular uma série feminista onde eles são a ameaça", diz a criadora.

Futuro promissor

A primeira temporada da série está disponível no Instagram @menaceseries (em inglês). Os episódios em ordem também podem ser vistos no site oficial do projeto. Ainda não há previsão do formato ganhar uma versão em português, mas o trailer está disponível com legendas no idioma. Assista:

O formato de séries digitais ainda engatinha, mas a brasileira vê um futuro promissor. "Acredito que séries de todos os tipos irão começar a aparecer e, quanto mais de nicho for o conteúdo, mais eficaz será a mensagem", aposta.

"O grande barato do Instagram é que a plataforma permite que o público venha ao nosso encontro baseado nos interesses em comum, sem contar que o conteúdo lá é altamente compartilhado, principalmente por ser compacto. A plataforma foi desenvolvida com o objetivo de mostrar para o usuário o que ele quer ver", explica sobre a fórmula certeira.

O projeto saiu do papel depois de uma vaquinha online. "Se não fosse as ferramentas de crowdfunding não estaríamos conversando hoje. Levantamos uma quantia mínima para começarmos a movimentar o projeto e conforme fomos trabalhando, vieram outros investimentos de parceiros que acreditaram na nossa mensagem."

O resultado foi bastante positivo. Depois de serem destaque em vários veículos norte-americanos, a série foi indicada ao Webby Awards, espécie de Oscar da internet. Flavia, Sarah e Devon também receberam convites para transformar "Menace" em uma série tradicional.

"Fomos procuradas para transformar a microssérie para um formato de série a cabo ou plataforma de streaming. Passaremos o verão americano de 2018 em Los Angeles", conta Flavia, que assim como as outras duas criadoras vive em Chicago. 

Cineasta por necessidade

A brasileira Flávia Borges - Bianca Garcia/Divulgação - Bianca Garcia/Divulgação
A brasileira Flávia Borges
Imagem: Bianca Garcia/Divulgação

Flavia Borges tem 31 anos e deixou Minas Gerais aos 19, após se apaixonar em uma viagem para a Disney onde conheceu o seu atual marido. Ela terminou a faculdade que tinha iniciado no Brasil na Flórida e formou-se em publicidade e relações públicas.

"Logo que me formei comecei a trabalhar como atriz. Mas acabei virando cineasta por necessidade, quando percebi que narrativas sobre minorias são marginalizadas no mercado. Entendi que se quisesse trabalhar, teria que eu mesma contar essas histórias", relembra.

Sua inspiração é Ava Duvernay, que também era publicitária e só começou a filmar aos 32 anos. Ela é diretora de "Selma", "A 13ª Emenda" e "Uma Dobra no Tempo", mais novo filme da Disney.

Seguindo a temática de sua série, Flavia defende que cada vez mais mulheres ganhem destaque. "Sou a favor de mudanças na legislação. É muito cômodo acreditar que o feminismo está na moda quando, na verdade, muito pouco está sendo feito para oferecer as mulheres as mesmas oportunidades dadas aos homens no quesito emprego e salário", fala sobre o mercado americano.

A brasileira celebra o sucesso de "Menace", e acredita que está cumprindo seu papel. "Visibilidade nesse momento é essencial. Somos mulheres mas se não cederem lugares pra gente na mesa onde as decisões estão sendo tomadas, não tem problema. Trouxemos nossos próprios banquinhos pra sentar."