Da HBO, série LGBT "Fora do Armário" quer conquistar pelo amor
À beira de uma mesa cheia em uma reunião de família, um pai faz um brinde. Visivelmente emocionado, ele celebra o fato de poder presenciar o que chama de renascimento da filha. Ela, Raphaella, é uma mulher transexual, que se prepara para fazer sua cirurgia de redesignação sexual no dia seguinte.
A cena é um dos momentos comoventes do primeiro episódio da nova série documental brasileira da HBO, “Fora do Armário”. A produção de dez episódios se propõe a retratar os desafios enfrentados por pessoas LGBT principalmente dentro de casa -- dando um espaço especial não só aos protagonistas dessas histórias, mas também a seus parentes e amigos.
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Os personagens da série, que estreia nesta quinta (5), às 21h, são diversos entre si: há um homem que vive como drag queen, uma mãe que revelou a própria homossexualidade quando o filho assumiu ser gay e um pastor que fez exorcismos em homossexuais antes de se assumir e comandar uma igreja inclusiva. O deputado e ex-BBB Jean Wyllis e o ator Thammy Miranda, filho de Gretchen, também compartilham suas histórias, já conhecidas do grande público.
Repleta de momentos emocionantes, “Fora do Armário” estreia com um episódio dedicado a jovens trans, como a mulher citada no primeiro parágrafo. Os cineastas Guto Barra (“Anota Aí”) e Tatiana Issa (“Dzi Croquettes”) mergulham em momentos íntimos e familiares, mesclados com entrevistas dos personagens e daqueles que os cercam, em um resultado sensível.
A abordagem da série é propositalmente delicada e carinhosa – o que, para os diretores, é um trunfo. “Acho que o momento de estreia de ‘Fora do Armário’ não podia ser melhor, de verdade”, diz ao UOL Tatiana Issa, referindo-se ao cenário polarizado do Brasil e à rejeição do tema por parte de pessoas mais conservadoras. “Acho que essas próprias pessoas talvez vissem isso de uma outra forma [com a série]. Porque é tão carinhosa a abordagem que não agride a quem assiste. Acho que talvez confere mais força do que se a gente estivesse fazendo uma coisa partidária, de levantar bandeira, panfletária”.
Guto ressalta que a força da série está em muitas cenas cotidianas: “Alguns dos momentos mais fortes da série vêm de ações que poderiam ser consideradas banais, como a mãe de uma drag queen fazendo almoço e falando do tipo de peruca que ele gosta. Ao normalizar essas ações, acho que a gente mostra uma coisa poderosa e de uma maneira que não é um tapa na cara”.
O processo de encontrar tantas histórias envolveu viagens pelo Brasil todo, com visitas a lugares como Curitiba, Belém e Salvador – e ganhou uma ajudinha até dos próprios entrevistados. “Um indicava o outro que indicava o outro, e a gente ia achando histórias. Nossa preocupação foi com a diversidade. Viajamos bastante e foi muito importante pra gente não ficar só no eixo Rio-São Paulo”, explica Tatiana.
Segundo a diretora, muito material teve de ficar de fora. “Teria muito fôlego para contar mais histórias que a gente não teve tempo de contar nesse primeiro momento. Mas as pessoas estão aí, as famílias. Acho que é um novo momento que a gente está passando no mundo e no Brasil também. As pessoas têm um entendimento maior, esse assunto está sendo tratado de forma natural, então as histórias surgem cada vez mais”.
Em muitas cenas, a série entra em momentos íntimos da vida dos entrevistados, como almoços e passeios e família – um processo que levou tempo. “Foi uma coisa que a gente foi aprendendo a conquistar. A gente se envolveu com as famílias, a gente de fato conviveu com elas, a gente construiu uma intimidade, uma confiança”, lembra Tatiana.
Muitos dos personagens ou não haviam exposto suas histórias de forma pública ou haviam sido retratados de forma errônea, um desafio que a produção superou aos poucos. “A gente foi conquistando eles com a nossa forma de abordar, a delicadeza na forma que você aborda. É amor. É isso que reflete a nossa série. É uma série de amor. Foi muito importante, porque eles foram se sentindo acolhidos, respeitados.”
O cuidado da produção se estendeu também àqueles que ficaram desconfortáveis em dar entrevistas. “Teve uma personagem que topou, mas na primeira gravação ela desistiu, porque não estava pronta para contar a história dela”, conta Guto. “Aí a gente aceitou e partiu para outra. A gente teve muito cuidado pra não colocar as pessoas em nenhuma posição em que elas não se sentissem confortáveis”.
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