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Sofri mais preconceito por ser nordestina do que por ser mulher, diz Elba

Elba Ramalho no Rock in Rio 2017 - Marco Antonio Teixeira/UOL
Elba Ramalho no Rock in Rio 2017 Imagem: Marco Antonio Teixeira/UOL

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

04/04/2018 14h24

Com 50 anos de carreira, Elba Ramalho levou sua experiência como artista para a conferência "Música: Palavra do Gênero Feminino", que aconteceu nesta quarta-feira (4) no Rio de Janeiro. No evento, Elba, a cantora pop Iza, e empresárias do setor, falaram das trajetórias e desafios enfrentados em um campo onde os homens ainda são maioria.

"Cheguei ao Rio jovem e me joguei. Sofri mais preconceito por ser nordestina do que por ser mulher", contou a cantora e compositora, que veio da Paraíba nos anos 1960 para o Rio.

Antes de ir atrás do sonho de viver de teatro, Elba ainda cursou duas faculdades - economia e sociologia - por determinação do pai exigente.

O Nordeste é patriarcal, machista, paternalista e meu pai não fugia a essa regra. Minha primeira subversão foi enfrentar aquela distinção que havia dentro da própria família. Meus irmãos tinham direito a tudo, mas eu e minha irmã não. Mulher ficava em casa, na cozinha. Eu pressentia desde sempre que eu não tinha nascido para aquilo. Com 14 anos meu pai me descobriu tocando bateria em uma banda de rock, aí a casa virou

O desejo de conseguir viver do teatro, que depois lhe trouxe à música, que Elba disse não ter percebido atitudes machistas para com ela ao longo de sua trajetória. "Quando me perguntam se sofri preconceito como mulher, eu nem vi. Se aconteceu algum tipo de ação preconceituosa contra mim, não percebi porque eu queria voar e quando a gente quer voar a gente voa", declarou.

Segundo Elba, o mercado para as mulheres sempre foi promissor e já era assim na época em que começou. Mas, ela lembra que em sua trajetória como mulher presenciou o machismo em outras situações. "Quando eu surgi também apareceram outras 30 cantoras. É um mercado aberto para as vozes femininas. Mas na faculdade eu fui a primeira mulher a ser presidente de diretório acadêmico. Eu já era danada", explicou.

Para alcançar seus objetivos, Elba afirmou que nunca dependeu de possíveis relacionamentos e que até hoje se considera uma pessoa independente e aberta. "Sou uma pessoa que nunca dependi de marido. Me casei várias vezes, tive 250 namorados, brincadeira, mas nunca dependi deles. Nunca pagaram minhas contas, nunca colocaram um copo d'água dentro de casa. Todos os castelos que construí foram com as pedras que me jogaram. Sempre fui uma pessoa aberta e feliz. Até hoje sou assim. Estou sem namorado, em casa com minhas filhas, mas se quiser vou ao bar a uma da manhã, sozinha, peço um vinho e fico bebendo. Não tenho problema", afirmou.

Iza

Com dois anos de sucesso, a cantora carioca Iza se considera ainda uma iniciante, mas realizada com o que conseguiu até aqui desde o lançamento do hit "Pesadão".

"Ainda estou caminhando. Quero Dizer para as meninas que se espelham em mim que é possível porque estou vivendo um momento muito especial na minha vida. Ontem gravei o 'Conversa com Bial', ganhei disco triplo de platina, nem imaginava que isso podia acontecer. Estou feliz. Faço questão de falar sobre empoderamento, sobre feminismo, sobre como é possível ser o que você quer ser, onde você quer ser", disse a cantora, que cresceu em Olaria, bairro da zona norte carioca.

Para Iza, a dificuldade imposta atualmente a artistas como ela é a competitividade que o mercado estimula entre as cantoras. "Nós mulheres, na real não estamos nem aí. Tive oportunidade de conhecer basicamente todas as meninas que estão aí cantando pop. A gente se fala, somos parceiras. Só que é complicado lidar com a competitividade que eles impõem sobre a mulher. No sertanejo e pagode também é assim. Como se uma tivesse que ser melhor que a outra, mas na verdade estamos de mãos dadas tentando levar nossa mensagem à frente", afirmou Iza.

O evento em que as artistas participaram faz parte do Rio2C (Rio Create Conference), que reúne produtores independentes, profissionais e representantes de televisão e mídias digitais da América Latina na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.