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Sequestro e dica para a crise política: A vida louca e surreal do Gorillaz

Pela primeira vez no Brasil, Gorillaz dão pinta no Beco da Batman, em São Paulo - Reprodução/Instagram/Gorillaz
Pela primeira vez no Brasil, Gorillaz dão pinta no Beco da Batman, em São Paulo Imagem: Reprodução/Instagram/Gorillaz

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

30/03/2018 04h00

O Gorillaz finalmente está entre nós. A tão aguardada estreia por essas terras, em show único nesta sexta-feira (30), no Jockey Club de São Paulo, se dá com uma turnê elogiada em tom de festa. Isso pode fazer crer que a banda virtual mais famosa do planeta está mais entrosada do que nunca, mas “Humanz”, o novo disco, é fruto de chantagens dos “engravatados” da indústria da música e parte de uma trama que envolve até sequestro e manipulação entre os integrantes.

Mas calma, para entender realmente o Gorillaz, você precisa mergulhar no mundo surreal da banda criada pelo vocalista do Blur Damon Albarn e o quadrinhista Jamie Hewlett, da HQ “Tank Girl”. Afinal, o grupo não apenas experimenta seu som entre o rock, o dub e o hip-hop, como também recria o mundo nos clipes com pitadas de surrealismo e caos.

Desde que lançou “Plastic Beach” há sete anos, esses integrantes passaram por situações das mais absurdas. Logo em seguida ao lançamento, o vocalista 2D fugiu da tal ilha de plástico, onde foi mantido à força para a gravação do disco, mas acabou engolido por uma gigantesca baleia branca de sugestivo nome, “Massive Dick”. Conhecido hedonista e anticristo, o baixista Murdoc foi sequestrado por piratas engravatados da sua própria gravadora. O resgate? Um novo álbum do Gorillaz.

Para salvar o pop (e os cofres da gravadora), a baixista e a garota prodígio Noodles e o baterista radioativo Russel Hobbs, que haviam sido substituídos por um androide e uma bateria eletrônica, respectivamente, voltam ao grupo para um disco carregado de participações ilustres (e reais) de Mavis Staples, Vince Staples, Kelela, Pusha T, Kali Uchis, Benjamin Clementine e até mesmo o ex-Oasis Noel Gallagher.

Em entrevista ao UOL por e-mail, nem adiantou perguntar sobre a aproximação entre Gallagher e Albarn, conhecidos desafetos no auge do britpop. São os personagens animados que respondem sobre suas próprias aventuras e arriscam até uma dica para enfrentar a crise política no Brasil. “Protejam sua festa de mordidas e arranhões”, diz o mais pacifista do grupo, o baterista Russel.

Pela primeira vez no Brasil, Gorillaz sentam para uma entrevista - Divulgação - Divulgação
Russel Hobbs, Noodle, 2-D e Murdoc Niccals: Gorillaz sentam para uma entrevista
Imagem: Divulgação
UOL - Quais os planos para a primeira visita ao Brasil? Há algo em especial que gostariam de fazer ou conhecer?

Murdoc - Saudações, Brasil. Sim, eu me reuni com pedreiros para discutir a construção de uma estátua de "Murdoc, o Redentor" no centro de São Paulo. Isso vai dar às pessoas alguém para admirar depois que eu for embora. Imagine a beleza aterrorizante do meu rosto esculpido e a virilha protuberante pairando sobre os cidadãos enquanto caminham para o trabalho. Isso fará maravilhas para a economia, além de ajudar a colocar vocês rapazes de Sau Paulo no mapa. Mostre ao Rio como isso é feito, em um mundo ideal.

O que realmente aconteceu nos últimos sete anos desde “Plastic Beach”? Você foi realmente sequestrado e forçado a fazer um novo álbum? Por quem?

Murdoc - São três perguntas, amigo. Sorte sua que acabei de tomar nove Espresso Martini, então me sinto tagarela. Em suma, fui flagrado por alguns engravatados da indústria da música por violar meu contrato ou por alguma podridão, passei uma adorável estada em uma prisão de segurança máxima trabalhando no meu músculo bíceps direito, até que esses mesmos trajes recobraram a porra da razão e perceberam que Murdoc Niccals é o único humanoide com gênio suficiente para salvar a murcha indústria da música. Eles me deixaram sair, eu bati outro recorde de sucessos, então embarquei nesta turnê mundial épica e trabalhei no meu bronzeado glorioso (sem marquinhas nenhuma, se você está se perguntando).

Nos últimos meses, grandes lendas da música, como Rush, Paul Simon, Lynyrd Skynyrd e Elton John, anunciaram aposentadoria. Você quase foi morto pela indústria e está aqui novamente. Qual é o segredo?

Murdoc - Meu caro amigo, se tudo correr bem, Murdoc Niccals continuará sendo uma locomotiva perpétua. Tanto no quarto como criativamente. Eu vou parar quando estiver morto, o que não tenho planos de acontecer. O segredo da minha longevidade, bem, isso é entre mim e meu guru do espírito guia, Keith (ele também é meu professor de Zumba).

Depois que Plastic Beach saiu você escapou da prisão de Murdoc e foi comido por baleia mexicana conhecida como Massive Dick. Como você sobreviveu?

2D - As pessoas acham que eu tenho um problema com o Massive Dick. Sim, ela me comeu e, no começo, fiquei bastante irritado. Mas quando cheguei ao intestino, minha raiva se derreteu em pena quando vi todos os sacos plásticos e canudos que ele havia comido. Eu era provavelmente o primeiro lanche vivo que ele teve em meses, então eu estava mais do que feliz em ser dissolvido em ácido estomacal. Mas infelizmente, isso nunca aconteceu. Massive morreu, e eu fui forçada a sair com uma faca e um garfo de plástico. RIP Massive.

Agora toda a banda está de volta, como anda as relações com todos?

2D - Bom e ruim, como um sundae com farofa em cima (eu não tenho chocolate granulado). Noodle e Russ são legais, principalmente me ignorando, mas de uma forma muito amigável e solidária. Murdoc está usando uma máscara e sorrindo muito, o que normalmente é um sinal de que ele está planejando algo horrível. A última vez que ele ficou feliz assim, eu descobri que ele tinha me colocado em uma luta de MMA, só que em um ilegal e sem regras ou sem uma ambulância próxima. Consegui escapar dando um soco no meu próprio rosto na primeira rodada até que tudo ficou escuro.

Você é provavelmente é o mais politicamente consciente do grupo. Você acha que o Gorillaz tem o poder de mudar o mundo?

Russel - Cada um de nós no universo tem o poder de mudar. Se você quiser tornar o mundo um lugar melhor, dê uma olhada em si mesmo e faça a mudança. Acho que acabei de citar o Michael Jackson ...

Nós aqui no Brasil também estamos passando por uma situação ruim na política. Que tipo de dicas de sobrevivência você pode nos dar?

Russel - Depende do tipo de cenário “fim dos tempos” estamos falando. Se são zumbis, primeiro você precisa limpar e selar a sala. Proteja sua festa para mordidas e arranhões. Uh, e certifique-se de ter algum material de leitura decente, porque o apocalipse pode realmente se arrastar. Boa sorte, pessoal.

SERVIÇO:

Gorillaz no Brasil
Data: 30 de março de 2018, às 21h30
Local: Jockey Club São Paulo
Endereço: Rua Dr. José Augusto de Queiróz, s/nº - Portão 1 - São Paulo, SP
Ingressos: R$ 140 (pista meia-entrada) a R$ 560 (premium inteira)
Venda e mais informações: www.ticketsforfun.com.br