Pilatos em "Paixão", Kadu Moliterno diz que sofre ao ver Jesus chicoteado
Intérprete de Pôncio Pilatos na peça "Paixão de Cristo", Kadu Moliterno diz que sofre cada vez que Jesus é chicoteado em cena, depois de receber as ordens do governador. "É muito difícil para mim, Kadu, ver aquilo", disse o ator ao UOL.
Kadu contou que os diretores Carlos Reis e Lúcio Lombardi até chamaram sua atenção. "Porque eu reagia [à cena]. Eles me disseram: 'Não faça isso porque Pilatos lava as mãos'. Quem condenou Jesus foi o poder. Tem uma frase de Pilatos que sempre repito: 'A impunidade é o manto sob o qual o mal floresce'", disse o ator, referindo-se ao fato de que Pilatos foi o juiz que condenou Jesus Cristo a morrer em uma cruz.
Maior espetáculo a céu aberto do mundo, a "Paixão de Cristo" acontece até sábado (31) no teatro Nova Jerusalém, na Fazenda Nova, no agreste de Pernambuco. São 3h de espetáculo em que atores trocam de roupa e se locomovem em minutos a cada movimentação de cenário. Antes de entrarem em cena, o elenco reza.
Rita Guedes, que interpreta Maria Madalena, é uma das que mais se emocionam nos bastidores. "Interpretá-la é muito forte. Acho que, de todos os seguidores de Jesus, Maria Madalena foi a mais fiel. Eu choro com ela, que sofreu todo o tipo de humilhação sempre em busca de um amor de maneira errada", disse a atriz ao UOL. "Eu me emociono principalmente na Via Sacra e na crucificação, quando eu beijo os pés de Jesus. É muito forte. Nada se compara a tudo que fiz na carreira".
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Mais de mil envolvidos
A "Paixão de Cristo" começou a ser encenado em 1962 pelas ruas de Fazenda Nova, distrito de Brejo Madre de Deus, a 180 km de Recife (PE) e já teve diversos atores interpretando Jesus, como Thiago Lacerda, Murilo Rosa, Igor Rickli e Rômulo Arantes Neto. Em 2018, o papel é de Renato Góes. O elenco da nova versão conta ainda com Tônico Pereira como Anás, Victor Fasano como Heródes, Fabiana Pirro como Maria e Nicole Bahls como a rainha Herodíades (em sua estreia no teatro).
O diretor de arte Carlos Reis conta que escolher o elenco é sempre um desafio. "Nem sempre os atores podem, não têm agenda. O Renato foi uma escolha minha, deu para conciliar", afirma. Reis, que dirige o espetáculo há 21 anos, diz que a cada edição é um desafio pela complexidade da montagem. "São 57 atores e 380 figurantes. Claro que acontecem falhas, mas nada é percebido. É muita gente envolvida".
São mais de mil envolvidos entre atores, figurantes, seguranças e equipe técnica. Os ensaios acontecem apenas cinco dias antes da estreia. O espetáculo atrai turistas do mundo todo: são cerca de 5.000 visitantes nos dias de semana e 10 mil aos finais de semana.
Algumas das roupas luxuosas são aproveitadas e reformadas para os espetáculos dos anos seguintes, como contou a figurista do espetáculo, Marina Pacheco. Ela, que também atua na peça como a adúltera que foi quase apedrejada, elogiou o elenco deste ano. "O personagem de Jesus, o homem que teve sua história como a mais contada de todos os tempos, exige maior esforço e disciplina. Renato é um dos atores mais dedicados que já conheci. Extremamente disciplinado e focado, chegou com o texto todo decorado".
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