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Duvivier faz bê-a-bá dos direitos humanos em nova temporada de programa

Gregório Duvivier estreia a segunda temporada do "Greg News", na HBO, nesta sexta-feira (23) às 22h - Rogério Resende/HBO
Gregório Duvivier estreia a segunda temporada do "Greg News", na HBO, nesta sexta-feira (23) às 22h Imagem: Rogério Resende/HBO

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

23/03/2018 04h00

Gregório Duvivier volta ao ar na HBO nesta sexta-feira (23), às 22h, com a segunda temporada do programa "Greg News". O formato importado, conhecido como comedy news, ou jornalismo de comédia, dá espaço para o ator, escritor e humorista, conhecido por suas opiniões fortes e humor ácido, levantar debates sobre assuntos atuais e universais.

O tema do primeiro episódio, gravado na última terça-feira, será uma espécie de bê-a-bá dos direitos humanos. "Vai ser um programa bem básico, sobre o que são direitos humanos, mas com humor, mostrando os absurdos que falam sobre o assunto", explica o apresentador ao UOL.

A escolha para abrir a segunda temporada do programa tem, claro, relação com a repercussão da morte da vereadora Marielle Franco, há pouco mais de uma semana. Ao mesmo tempo, Gregório e sua equipe buscam temas universais que tenham ligação com os assuntos do momento, para que se evite cair na armadilha de competir com o noticiário quente e os comentários na internet.

"É uma maneira de a gente falar sobre tudo o que está acontecendo, mas com outra perspectiva. O barato é falar sobre o que todo mundo não está falando. Com a tragédia que aconteceu, o que não estava sendo falado é justamente sobre os direitos humanos, que era a grande pauta da Marielle, e acabou se voltando contra ela", explica Gregório.

O "Greg News" é gravado semanalmente e entre as pautas inevitáveis de 2018 estarão as Eleições e a Copa do Mundo. "O objetivo do programa sempre foi ampliar a discussão sobre temas que são importantes, relevantes, e o Gregório faz isso de maneira brilhante. Com humor, com pesquisa, por trás de cada tema sempre tem uma reflexão muito inteligente", acrescenta o produtor da HBO Eduardo Zaca.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

UOL - Um jornal ("Extra") publicou recentemente um editorial para explicar, didaticamente, o que são os direitos humanos depois da repercussão da morte de uma vereadora. O que isso representa para você?

Gregório Duvivivier - Isso foi o nosso ponto de partida para o primeiro episódio, no sentido de entender que tínhamos de fazer algo muito básico. Pois as pessoas não sabem o básico dos direitos humanos. A ideia é que entendam que qualquer pessoa que hoje fala em abolir os direitos humanos em um país que faz parte da ONU está fazendo algo inconstitucional. São questões muito básicas que a gente ainda precisa explicar no Brasil de hoje, pois mesmo em um momento de crise humanitária parece que as pessoas perderam o apreço pela vida, pelo outro. Por isso achamos que a grande discussão necessária era a dos direitos humanos.

Como usar o humor para falar de um assunto tão pesado como a morte da vereadora Marielle Franco ou a intervenção militar no Rio de Janeiro?

Em geral, a gente tenta não falar [no programa] do que acabou de acontecer, porque o humor vai ter que competir com tudo que está sendo dito. E, ao mesmo tempo, tudo pode mudar rapidamente. Por isso optamos por grandes temas, que não ficam velhos, porque aí tem espaço para o humor e muito material para trabalhar. É uma forma de transformar o material em algo que ainda vai fazer sentido muito tempo depois. Por isso os temas que mais gosto são esses, os universais. Na primeira temporada [exibida no ano passado], por exemplo, fizemos um programa sobre auxílio-moradia que bombou de novo por causa da greve dos juízes federais na semana passada. Muito porque é um tema perene no Brasil que infelizmente não vai se resolver tão cedo. 

O formato de "comedy news" já funciona muito bem lá fora e conquistou um público que curte consumir notícia de forma mais leve. Acredita que o seu programa pode ser uma das saídas para quem só consome notícias em rede social?

Acho possível. Já aconteceu nos Estados Unidos, onde a maior parte da população jovem hoje consome notícias através do humor, mais do que jornal impresso, online, ou qualquer outro formato. É através dos humoristas que hoje muitos jovens americanos se informam. A vantagem disso é que, ao contrário dos sites fantasmas, os mesmos que estão por trás do fenômeno das fake news, o “Greg News” tem um grande embasamento por trás de jornalistas que estudam os fatos globais. É humor, claro, mas humor baseado nos fatos. A gente tem um cuidado muito grande não só de como pesquisa para o programa, como de checagem, de apuração. Não é algo rasteiro e supérfluo. Os fatos são nossa matéria-prima.

Você já teve algum tema cortado na edição ou algum problema de censura com o programa?

A HBO é super liberal e libertária. Nunca tivemos nada cortado. É muito bom, pois é um programa que depende diretamente da liberdade total da redação. Não tem como ter rabo preso. Tem apenas pequenas questões de direitos autorais. Por exemplo, não podemos usar 1 minuto de um material do "Jornal Nacional", apenas 30 segundos. Mas em relação à temática temos carta branca total.

Na temporada passada vocês tiveram o ET Bilú. Pretendem trazer mais convidados para a segunda temporada?

No Brasil já tem tanto talk show com convidados. Tenho muitos colegas arrasando nessa arte. Mas o meu programa não é um talk show, não é um programa de conversa. A intenção é fazer comédia política, jornalismo humorístico. Eu adoro assistir talk show, mas já está bem coberto no Brasil. O "Greg News" nunca teve essa proposta.

Eleição é o grande tema de 2018. Quem você acha que vence esse ano?

Se continuar como está, o deputado Jair Bolsonaro é favorito, com certeza. Temos que ficar ligados desde já. Sempre ouvi que não tinha que falar do Bolsonaro, que falar dele só faz ele crescer. Mas de repente ele já estava em primeiro [nas pesquisas]. Então eu discordo, acho que a gente tem que falar sim. Não dá para negar o óbvio. Ele é o favorito nas pesquisas hoje. Se a eleição fosse agora, ele seria eleito o presidente do Brasil.

Vai abrir seu voto?

Chegando mais perto [de outubro] pretendo abrir sim.

O que Gregório tem a dizer sobre os comentários mais presentes na internet:

Gegório Duvivier na segunda temporada do programa "Greg News", da HBO - Rogério Resende/HBO - Rogério Resende/HBO
Gegório Duvivier no comando do "Greg News", programa do canal pago HBO
Imagem: Rogério Resende/HBO

#Bolsonaro2018
“#CasteloBranco64”

"O mundo está ficando chato"
“Pra você. Porque pra mim está cada dia mais legal”.

"Quanto mi mi mi"
“Isso é típico de quem está fazendo mi mi mi”.

"O Brasil que eu quero"
“São muitos, mas em geral não envolvem uma volta ao passado. Porque se voltarmos ao passado ou envolve a ditadura militar, ou envolve o Estado Novo do Vargas, ou a República Velha, ou a escravidão. Qualquer saudosismo é estúpido. O Brasil que eu quero é de fato um país voltado para o futuro, não para o passado”.

#GloboLixo
“O Brasil foi tanto para a direita, que a Globo virou de esquerda. Acho isso tão engraçado. Acompanhando agora a cobertura da Marielle, e até antes, vejo uma emissora muito mais comprometida com a democracia do que muitos outros veículos. No meu tempo de adolescência todo mundo era contra a Globo. Hoje em dia vejo o contrário. Quem dera todas as emissoras tivessem a seriedade da Globo. Seria um sonho”.