Ator explica sucesso de "Que Delícia Ser Viado": "Grito de liberdade"
A batida começa eletrônica, na onda da house music, mas logo entra na cadência de uma escola de samba, com a adição de uma bateria frenética: “Ai que delícia, que delícia ser viado. Vamo ser pra sempre ser viado é babado! Taca mais viado que tá pouco eu quero é mais!”, repete incansavelmente o ator mineiro Lindsay Paulino, famoso por viver a doméstica Rose e a travesti Xuxeta em humorísticos do canal Multishow.
A música em questão, “Que Delícia Ser Viado”, um manifesto em prol da liberdade sexual, está há mais de duas semanas na lista das 50 mais virais do Spotify no Brasil. No Carnaval, foi onipresente em blocos, trios e por onde mais o foilão passasse nas ruas das principais cidades brasileiras. Uma das febres da festa que ainda reverbera.
Autor do sucesso, Paulino se diz surpreso com tamanha repercussão de uma música que nem considera música, criada sem qualquer pretensão numa “zoeira” entre amigos. “AMais ou menos há um ano, a gente sempre puxa essa musiquinha quando está na balada”, diz ao UOL o ator, que em janeiro havia postado um vídeo cantando “Que Delícia” com os "parças" em um sítio em Minas Gerais.
Um deles era o DJ Gustavo Bezzi, que teve a ideia de “profissionalizar” a brincadeira. “Ele acabou se empolgando e falou que a gente deveria lançar. Então, euravei a voz no celular no banheiro, com tudo fechado. Ele só chegou na casa dele e mixou”, conta.
“Cara, eu não acreditei. Passei o Carnaval em Salvador, e de repente vi que todo mundo estava cantando. Vi grupo de hétero cantando, grupo de gays, trio elétrico puxando coro no meio da multidão. Eu realmente não esperava por isso.”
Lindsay, que tem 35 anos, nega que tenha pensado na música para viralizar. E apesar do sucesso, uma eventual carreira na música, área em que também possui formação, está descartada. Seu foco é o teatro, onde está em cartaz com a peça “Rose, a Doméstica do Brasil”, e o Multishow, em que estrelou o humorístico “Xilindró” e é um dos destaques da série “Treme Treme”.
"Empregada das bicha"
Natural de de Montes Claros, norte de Minas, o ator apareceu para o Brasil em 2010 fazendo graça na internet. Criou a empregada Rose, a “doméstica das bicha”, que bombou com o clipe de “Grelo”, releitura de “Halo” de Beyoncé, e “Esfrega Mais” (“Drunk in Love”), em que ensina a sensualizar e, ao mesmo, tirar manchas de roupas mais encardidas. As paródias serviram como passaporte para a televisão. Já são dois anos como contratado do Multishow.
“Apesar de a ‘Que Delícia ser Viado’ ser só uma brincadeira, meu trabalho sempre esteve muito próximo da música. O pessoal fica me perguntando quando lançarei outra, mas sou obrigado a dizer que não vivo disso. Tenho minha carreira no teatro, passo o ano me apresentando, e, em paralelo, faço TV. Não ficou pensando em músicas. Elas surgem naturalmente."
Não por acaso, a bandeira LGBT é uma constante na vida e trabalho do artista, que atribui o sucesso de seus personagens à ascensão de um novo público: mais crítico, heterogêneo e ligado na espontaneidade dos produtores de conteúdo. Em tempos de radicalização política e guerra nas redes sociais, o timing para abordar questões relativas à diversidade é ideal, e paulino quer aproveitar a onda.
“Apesar dos problemas e de tanto discurso de ódio, acho que vivemos um momento de aceitação. ‘Que Delícia’, por exemplo, é um grito de liberdade. Mas eu não gosto desse discurso de internet de ‘mais amor, por favor’. Somos gays e pagamos o mesmo imposto que o hétero paga. Precisamos mesmo é de ir à luta para ter os mesmos direitos que todo mundo tem.”
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