Topo

Hilary Swank: "A TV conta as grandes histórias porque o cinema não arrisca"

Hilary Swank posa para divulgar série "Trust" - Divulgação
Hilary Swank posa para divulgar série "Trust" Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

20/03/2018 09h15

A incrível história do sequestro de John Paul Getty III, herdeiro do petróleo da família Getty que foi capturado pela máfia em 1973, ganhou sua versão cinematográfica recentemente em “Todo o Dinheiro do Mundo”, sob direção de Ridley Scott. E, apenas quatro meses após estrear nos EUA, o mesmo caso voltará ao olho da cultura pop na série “Trust”, que estreia no próximo dia 2 de abril no Fox Premium e no app da Fox.

A nova leva de interesse pela história, que ocupou as manchetes de jornais e revistas, justifica-se pelo seu lado absurdo. John Paul Getty, que já foi considerado o homem mais rico e poderoso do mundo, simplesmente se recusou a pagar o resgate do neto, o que seria uma quantia insignificante comparada à sua fortuna na época.

A série dramática é dirigida pelo cineasta britânico Danny Boyle (“Quem Quer Ser um Milionário?”, "127 Horas") e conta com um elenco estelar que inclui Donald Sutherland, na pele do magnata John Paul Getty, e a ganhadora do Oscar Hilary Swank, como Gail Getty, mãe do jovem raptado (Harris Dickinson).

Para tentar elucidar algumas das questões levantadas pela produção, o UOL foi o único veículo brasileiro a participar de uma rodada internacional de entrevistas com Hillary Swank, que, entre outros assuntos, falou sobre como foi trabalhar na TV com Danny Boyle após duas dedicadas exclusivamente ao cinema. “Muitas das grandes histórias são contadas na televisão porque eles têm uma plataforma para assumir riscos. Hoje em dia é muito diferente da época em que eu fazia televisão.”

Veja abaixo os principais trechos da conversa.

Como foi a experiência de trabalhar com Danny Boyle?

Foi absolutamente extraordinário. Ele é um diretor que admiro muito. Alguém cujo trabalho me inspirou muito. Quando ele me chamou para participar, honestamente, eu sabia que nem precisaria ler o roteiro. Sabia que queria colaborar com ele por um longo período de tempo. Aproveitar essa oportunidade era, para mim, como atriz, um sonho se tornando realidade.

Como é voltar à TV após 20 anos e ser dirigido por alguém que também estava há muito tempo sem fazer televisão?

A televisão está em alta atualmente, com uma grande mistura de linguagens. Muitas grandes histórias estão sendo contadas na TV porque os filmes estão se arriscando menos agora. Muitas das grandes histórias são contadas na televisão porque eles têm uma plataforma para assumir riscos. Hoje é muito diferente da época em que eu fazia televisão. Está havendo um intercâmbio generalizado, não apenas de atores, mas de cineastas e escritores de todo o mundo.

Foi difícil tomar a decisão de voltar à TV?

Não. Com Simon Beaufoy como roteirista e Danny Boyle como o diretor, eu tinha tinha dúvida de que deveria participar e contar uma história tão interessante como a dos Getty.

Em “Todo o Dinheiro do Mundo”, sua personagem é interpretada por Michelle Williams. Não teme comparações?

Não. Isso [a repetição da história e personagens] me mostrou que muitas pessoas estariam interessadas a assistir, já que grandes cineastas se interessaram em contar essa história. Geralmente, eles estão em sintonia com o que o público quer. Admiro o trabalho da Michelle e me senti em ótima companhia para fazer o mesmo papel. Obviamente, é um formato muito diferente, porque a televisão e os filmes são muito diferentes. Mas fiquei emocionada com a oportunidade.

"Trust" é baseada em um crime famoso, como outras séries que estão fazendo sucesso, como “American Crime Story”. Por que as pessoas se interessam tanto por esses temas?

Bem, acho que o público se comove por histórias reais porque acho que a vida é mais estranha do que a ficção. E o fato, às vezes, de que algo inacreditável acontece é de cair o queixo.

Acho que as pessoas querem ver essas histórias por não acreditam que podem ser reais. Isso nos deixa mais confortáveis e conectados, sabendo que não somos os únicos a ter dificuldades na vida.
Hilary Swank

A série é conduzida pela dinâmica do poder masculino, como você acha que a sua personagem poderia empoderar mulheres?

Quando Danny Boyle me chamou para me pedir para fazer a série, uma das coisas que ele disse foi que Gail Getty é a âncora emocional história. Com todo um universo de testosterona masculina e formas masculinas de lidar com as coisas, ela entra e, no início, é dependente desses homens para ajudar seu filho. Mas ela não consegue resgatar seu filho, então precisa tomar a iniciativa para ter seu próprio poder. A vida do filho está na linha, então ela começa a confiar em si mesma em vez de naqueles homens.

“Trust” retrata o poder, o conflito que ele gera e a capacidade que ele tem de expor o pior da condição humana. Concorda com essa interpretação?

Acho que todos lidam com as coisas da melhor maneira que podem no calor do momento. Como humanos, fazemos o melhor que podemos na vida e às vezes somos jogados em coisas que são completamente inesperadas. Acho que lidar com a pressão do momento é muito difícil. É muito confortável recuar e dizer: “ah, se eu poderia ter lidado de outra forma”. Mas a não ser que você esteja sobre pressão, e sobre uma pressão emocional, eu acho que é muito difícil julgar.

Meu sentimento é que Gail Getty lidou com essa situação de uma maneira muito bonita, afetiva e maternal. Eu queria compreender sua participação na história. Saber como ela criou um filho para estar naquela posição. Ela não se faz de vítima. Ela participa tentando fazer seu melhor. Tenho um grande respeito por ela. Qualquer pessoa que esteja disposta a fazer uma tarefa e resolver os problemas sempre terá meu respeito.