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O filme "mais assustador da história" está na Netflix, mas vale tudo isso?

Cena do filme "Verónica", disponível na Netflix - Reprodução
Cena do filme "Verónica", disponível na Netflix Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

09/03/2018 04h00

A produção espanhola "Verónica" virou motivo de debate nas redes sociais. Muitos cravaram que era o filme de terror mais assustador de todos os tempos, e a avaliação positiva no site "Rotten Tomatoes", o maior agregador de críticas da web, jogou mais gasolina na fogueira do hype. Lançado em 2017, o filme chegou à Netflix e agora todos podemos tirar uma conclusão: será que é tudo isso mesmo?

"Verónica" tem direção de Paco Plaza, também responsável pelo sucesso indie "Rec", que usava a fórmula "câmera na mão e sustos a todo minuto". Desta vez, o cineasta apostou na fórmula mais tradicional de fazer cinema para apresentar a vida complicada da protagonista, que usa uma tábua ouija para tentar se conectar com o pai, mas acaba atraindo um ser maligno.

Cena do filme "Verónica" - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "Verónica"
Imagem: Reprodução

Não que a história seja muito original, mas o que impressiona é o realismo do enredo. A garota que dá nome ao filme, interpretada pela novata Sandra Escacena, é uma menina de 15 anos com aparelho nos dentes que precisa se virar no papel de mãe com os três irmãos mais novos, enquanto a matriarca trabalha até altas horas da madrugada em um restaurante.

A menina tem que acordar todo mundo, dar café, levar para escola, trazer de volta da aula, preparar almoço e jantar, dar banho no caçula e ainda lavar a louça. E na escola as coisas não cooperam também, ela não é das mais populares e ainda sofre com o estigma de que a menarca não veio.

A parte sobrenatural do filme começa com lendas sobre o eclipse solar e o poder que o fenômeno natural tem. Dizem os anciãos que nos poucos segundos que a lua aparece na frente do sol, um portal se abre e o mundo dos espíritos ganha força, por isso tantos sacrifícios durante o acontecimento eram realizados pelas culturas ancestrais. 

Em um belo dia, em que as professoras da escola distribuíam negativos de filmes fotográficos para as crianças observarem o fenômeno, a jovem e mais duas amigas (ok, uma amiga, a outra foi convidada de última hora) escapam da aula, tentam se comunicar com os mortos através da ouija e alcançam parte do objetivo.

O eclipse solar é muito celebrado por culturas antigas - Reprodução - Reprodução
O eclipse solar é muito celebrado por culturas antigas
Imagem: Reprodução

Paco foge do senso comum das produções de horror e entrega um filme coeso, com efeitos visuais certeiros e clima de tensão constante no ar. Se o chavão do "coloca uma coisa no lugar e o espírito joga longe" entra em cena, na sequência a pobre Verónica adormece e precisa enfrentar o seu pior pesadelo, tudo muito cru, assustador e com jogo de luzes brilhante do cineasta.

Brincando direto com reflexos nos espelhos da casa e com uma trilha sonora baseada na banda Héroes del Silencio -- uma espécie de Legião Urbana da Espanha --, o filme cresce à medida que aborda temas filosóficos, como as responsabilidades do cotidiano e a transformação da adolescência para a vida adulta.

"Verónica" não é o filme mais assustador de todos os tempos, mas é um trabalho excelente que aborda temas sobrenaturais, altas doses de medo e ainda cria debates que não são comuns em produções do gênero, um tanto restrito ultimamente nos cinemas.