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Quem é James Ivory, que pode ser a pessoa mais velha a ganhar um Oscar

O cineasta americano James Ivory - Franco Origlia/Getty Images
O cineasta americano James Ivory Imagem: Franco Origlia/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

28/02/2018 04h00

O cineasta americano James Ivory jamais sentiu o gosto de subir ao palco e levantar sozinho uma estatueta do Oscar, embora já tenha sido indicado e premiado dezenas de vezes durante a carreira, incluindo aí três Bafta e um Leão de Prata do Festival de Veneza. Hoje, aos 89 anos, ele está próximo de fazer história. Caso confirme o favoritismo e o burburinho por parte da imprensa e Academia indica que sim, ele será na noite deste domingo a pessoa mais velha receber a mais prestigiada láurea do cinema.

O filme em questão é “Me Chame pelo Seu Nome”, drama sobre dois homens que se apaixonam durante um idílico verão na Itália, em 1983. É o grande favorito na categoria de melhor roteiro adaptado, que é assinado por Ivory. Baseado na obra homônima do escritor americano André Aciman, o longa dirigido pelo italiano Luca Guadagnino tem forte viés autobiográfico.

James Ivory e Ismail Merchant, parceria profissional e pessoal - Erin Combs/Toronto Star/Getty Images - Erin Combs/Toronto Star/Getty Images
James Ivory e Ismail Merchant, parceria profissional e pessoal
Imagem: Erin Combs/Toronto Star/Getty Images

Recheada de delicadeza e de medida extra de polêmica, já que o romance envolve um jovem adulto e um adolescente, a história pode ser interpretada como uma singela homenagem de Ivory ao produtor indiano Ismail Merchant (1936-2005), seu parceiro profissional e de vida, com quem se juntou para fundar a Merchant Ivory, produtora especializada em adaptações literária que assina dezenas de filmes desde 1961. Já venceram seis Oscars.

Embora costume fugir do rótulo de ativista, James Ivory tem a temática LGBT como uma constante na carreira. Já dirigiu mais de 30 filmes, entre eles os elogiados “Vestígios do Dia” (1993), “Retorno a Howards End” (1992) e “Maurice”, estrelado por Hugh Grant e James Wilby, um dos destaques no Festival de Veneza de 1987.

Inspirada na obra do britânico E. M. Forster, a produção retrata um caso de amor proibido na Inglaterra do início do século 20. Foi lançado em uma época em que a homossexualidade ainda era muito pouco representada nas telas. Com ampla repercussão, o filme ganhou status de ícone para uma geração ainda presa ao armário.

“Nunca houve uma ‘descoberta’ para mim”, afirmou Ivory à revista “The Hollywood Reporter”. "Nunca lidei com isso desse jeito. Eu sempre soube quem eu era e o que eu queria. Sabia que tinha manter aquelas ideias comigo. Não era algo sobre o qual você podia conversar. E levou vários anos até que eles isso pudesse ser posto em prática, por assim dizer."

Cena de "Uma Janela para o Amor”, dirigido por James Ivory - Reprodução - Reprodução
Cena de "Uma Janela para o Amor”, dirigido por James Ivory
Imagem: Reprodução

Grande sucesso

O filme mais famoso da Merchant Ivory, no entanto, não traz uma relação homossexual, embora guarde suas semelhanças com “Me Chame pelo Seu Nome”. Também dirigido por James Ivory, “Uma Janela para o Amor” (1985) narra a história de uma inglesa da era eduardiana (Helena Bonham Carter) que se envolve com um jovem aventureiro (Denholm Elliott). Eles se encontram, não por acaso, na Itália, um lugar especial no coração do diretor. A trama foi bem de crítica e bilheteria, vencendo três Oscars (roteiro adaptado, direção de arte e figurino).

“Esse filme mudou nossas vidas. É uma história encantadora rodada em um lindo lugar, da mesma forma que ‘Me Chame pelo Seu Nome’. Acho que esses dois filmes são praticamente gêmeos, em termos de apelo ao público”, entende James Ivory, que chega aos 90 anos em junho e não quer nem saber de aposentadoria. Com seis décadas de carreira, pretende trabalhar até o momento em que perder as forças. Atualmente, trabalha na produção de outros dois filmes. “Isso me mantém ocupado”, disse.

Outra concorrente

No Oscar, uma outra concorrente também pode se tornar a pessoa mais velha a levar a estatueta para casa, embora as previsões não sejam tão otimistas. A diretora francesa Agnés Varda, também de 89 anos (ela nasceu oito dias antes de Ivory), concorre ao prêmio de melhor documentário por "Visages, Vllages". Entretanto, o prêmio dificilmente vai escapar de "Ícaro" ou "Últimos Homens em Aleppo". 

Trailer legendado de "Me Chame pelo Seu Nome"

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