Livro que relata dramas de mulheres presas no Brasil vai virar curta
O sistema prisional feminino brasileiro é repleto de dramas que dificultam a recuperação de presas para um retorno à sociedade. Esses problemas, que já foram retratados no elogiado livro "Presos Que Menstruam" (2015), serão agora repassados em um filme. A jornalista e escritora Nana Queiroz, autora da obra publicada em 2015, está trabalhando no roteiro para transformar as 300 páginas em um curta-metragem de 25 minutos.
Com relato em primeira pessoa dos encontros de Nana com as presas, o livro traz, como a escritora diz, um quebra-cabeças em que as mulheres são as peças que compõem o quadro do sistema prisional. São problemas como as condições de higiene --muitas mulheres sequer têm direito a absorventes--, preconceito contra lésbicas ou as dificuldades das mães e de bebês que crescem com a liberdade cerceada.
Em vez de se representar como jornalista, a trama terá uma médica fazendo a ponte com o lado de dentro das grades e mostrando como, em muitos casos, a ausência do Estado para suprir carências sociais acaba deixando o crime como um caminho para mulheres que não tem como se sustentar ou a seus filhos.
"Uma das mulheres que entrevistei não ganhava dinheiro para alimentar os filhos, então a solução foi roubar. Ela havia fugido de um marido violento e, sozinha, não dava conta. Há muitas histórias de violência doméstica que levam mulheres ao crime", conta a autora. "Uma mulher custa cerca de R$ 3 mil por mês ao Estado, enquanto um curso profissionalizante sairia por uns R$ 600", pontua.
A preocupação de Nana é não romantizar o mundo do crime. "Qualquer romantização cai no drama social, e não dá para glamorizar o crime, a pessoa teria de estar muito desligada da realidade".
Segundo a autora, o interesse do público em séries como "Orange is the New Black" (Netflix) mostra que há demanda pelo tema. "Claro que a realidade da mulher brasileira é muito mais obscura e cruel, então tem mais críticas sociais, cai para o drama, e não para a comédia. Mas é uma chance de popularizar o tema e tocar mais pessoas. É muito fácil desumanizar o preso, mas quando você entra em contato com as pessoas, você percebe que muitas vezes erros sociais geraram os erros que levaram essas pessoas para o sistema prisional".
Experiência de quem viveu dentro
Com direção de Alisson Sbrana, a estreia está prevista para setembro, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. As gravações, que começam no próximo domingo, terão cenas dentro de uma unidade de detenção de menores. "São 12 meninas no elenco principal e no secundário são 13", adianta Liana Farias, produtora executiva.
Além de um elenco repleto de mulheres, a presença de duas mulheres que passaram por reclusões ajudou a dar forma ao filme. "Uma já esteve no sistema carcerário e outra esteve no socioeducativo. Elas viveram esse universo e foram muito importantes no processo de construção de personagens. Até algumas coisas no roteiro elas mudaram", conta Liana.
"Presos que Menstruam" já chegou à oitava edição. Durante a pesquisa do livro, Nana criou um blog para contar histórias de sua jornada por presídios de todo o país. Foi nesta época que Liana Farias e Lídia Oyo, que trabalham na OF Produção Cultural, em Brasília, conheceram o trabalho de Nana, reuniram-se com ela e, com os direitos da obra, entraram em ação para produzir o curta. A ideia é que o filme de 25 minutos sirva ainda como piloto para uma série de TV de 12 episódios.
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