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"Altered Carbon", da Netflix, discute imortalidade com roupagem cyberpunk

Cena de "Altered Carbon", da Netflix - Divulgação/Netflix
Cena de "Altered Carbon", da Netflix
Imagem: Divulgação/Netflix

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

02/02/2018 04h00

Em “Altered Carbon”, nova série que a Netflix estreia nesta sexta-feira (2), não há mais simples corpos: eles são chamados de “capas”, já que o que interessa, a consciência, agora é armazenado em cartões de memória, os “cartuchos”. Pela soma certa, uma pessoa pode pular de capa em capa ao seu bel prazer – o que, na prática, torna os mais ricos imortais.

É nesse mundo que Takeshi Kovacs (Joel Kinnaman, de “House of Cards”) desperta em um corpo estranho, 250 anos depois de sua morte física. Ex-membro de um grupo rebelde que perdeu a luta contra a digitalização das consciências, ele é trazido de volta pelo ricaço Laurens Bancroft (James Purefoy), que lhe oferece sua liberdade. Em troca, tudo o que ele pede é que Kovacs descubra quem tentou assassiná-lo.

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Baseada no livro de Richard K. Morgan publicado no Brasil sob o título “Carbono Alterado”, a série é uma das mais ambiciosas produções originais da Netflix, com um exuberante cenário futurista que está anos-luz adiante de outras histórias da ficção científica na TV.

Martha Higareda e Joel Kinnaman em cena de "Altered Carbon", da Netflix - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Kovacs (Kinnaman) investiga a tentativa de assassinato ao lado da policial Kristin (Martha Higareda)
Imagem: Divulgação/Netflix

“‘Altered Carbon’ é a primeira de seu tipo: é proibida para menores e tem a escala de um filme hollywoodiano”, diz o protagonista Joel Kinnaman, que passou pelo Brasil para promover a série. “Pudemos criar um universo com efeitos especiais e retratar a violência e o sexo de forma realista, de um jeito sério”.

E o ator sueco de 38 anos não mente. Assim como não economizou no visual, a série não poupa em cenas de sexo, nudez frontal e violência que jamais iriam ao ar não fossem pelas plataformas de streaming ou canais premium como a HBO. “Na série, o significado do corpo mudou, e se não pudéssemos explorar isso completamente, seria um desserviço ao público”, completa Renee Elise Goldsberry, que interpreta a líder revolucionária Quell.

Imortalidade

A produção tem à frente um time que não é estranho ao universo da ficção científica: além de seu protagonista ter interpretado o RoboCop no remake de 2014, dirigido por José Padilha, sua criadora Laeta Kalogridis produziu o blockbuster “Avatar” e escreveu “Exterminador do Futuro: Gênesis” e o ainda inédito “Alita: Anjo de Combate”.

Mas é “Blade Runner” a maior inspiração para “Altered Carbon”. Bebendo na fonte do clássico de Ridley Scott, a série mistura noir e cyberpunk em uma história que, para além das cenas de lutas bem coreografas e dos efeitos especiais, também levanta questões filosóficas sobre o que nos torna humanos. 

Kristin Lehman e James Purefoy em cena de "Altered Carbon", da Netflix - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Kristin Lehman e James Purefoy vivem um casal imortal na série
Imagem: Divulgação/Netflix

“Foi muito difícil, para mim, aceitar a premissa central da série”, reflete Kinnaman. “Nós todos somos atraídos pela ideia de viver para sempre e ver o que vai acontecer com a raça humana, mas a série mostra que a nossa humanidade está profundamente ligada à nossa mortalidade. E quando nos tornamos imortais, perdemos a nossa humanidade. Acho que essa é uma lição valiosa”.

A colega Dichen Lachman, que vive Reileen, irmã de Kovacs, se pergunta desde as gravações se ressuscitaria um ente querido – mas ainda não chegou a uma resposta.  “Eu sou egoísta e há tanto que gostaria de fazer. Gostaria de conhecer meus tataranetos, mas se você assistir à série, você vai entender que é muito mais complicado do que parece”.

A imortalidade, em “Altered Carbon”, também é um fator de extrema desigualdade social: os ricos, chamados de Matusaléns, acumulam riquezas por séculos, ganham status de deuses e vivem em sofisticadas residências nas nuvens, em uma metáfora claríssima que, para Kinnaman, também pode ser aplicada à vida real.

“Nos Estados Unidos, a geração que está crescendo agora é a primeira que vai viver menos que seus pais, mas ao mesmo tempo os ricos vão viver mais do que nunca. O que retratamos na série é um exagero extremo disso. Como sociedade, nós não queremos que essa desproporção na distribuição de riqueza continue assim”.