Mercado de obras de arte agora exige artistas com diploma
O mercado de obras de arte de jovens artistas anda abalado desde a ascensão e queda da última leva de jovens brilhantes alguns anos atrás. Esse mercado ainda precisa evoluir para um único tema ou estilo.
Mas um fator consistente é a forma de descoberta dos astros e estrelas. Um número surpreendente dos artistas mais promissores da atualidade é de diplomados de programas de mestrado em Arte (Master of Fine Arts ou MFA). Também são agraciados com exibições em museus ou bolsas de prestígio.
"Acho que o mercado e a forma de olharmos a arte são altamente dependente do sistema de educação superior", diz a consultora Heather Harmon. "O fenômeno vem ocorrendo nas últimas três décadas, mas nos últimos anos, [ficou] bem mais prevalente."
A avaliação mais próxima de um estudo científico do assunto apareceu há cerca de um ano, quando Ben Davis, da Artnet, publicou um texto excelente sobre os 500 principais artistas contemporâneos com obras leiloadas nos últimos 50 anos e concluiu que 53 por cento tinham diploma de MFA.
A ênfase no pedigree acadêmico é mais acentuada entre os artistas mais jovens.
Nos últimos três ou quatro anos, há mais "conversas com colecionadores sobre apoio de museus e institucional", diz Michael Gillespie, cofundador da galeria Foxy Production, em Nova York. "Isso trouxe um fator importante: os artistas têm o apoio de diferentes grupos, seja da crítica ou comercial?" Antes, segundo ele, "havia a ideia de que o mercado ditava tudo. Isso mudou."
Prova disso é a campanha tradicional de vendas em novembro da Phillips, em Nova York, que costuma ser usada como campo de testes para jovens artistas promovidos por colecionadores e marchands. Entre os participantes, Lesley Vance tem MFA do Instituto de Artes da Califórnia (conhecido como CalArts) e uma obra à venda na Phillips que deve alcançar US$ 25.000 a US$ 35.000. Uma obra de Diana Al-Hadid, outra com MFA, deve sair por US$ 20.000 a US$ 30.000.
Neïl Baloufa, que também estudou no CalArts terá uma exibição solo no Palais de Tokyo, em Paris, no ano que vem. Uma obra dele foi colocada em leilão e tem valor estimado entre US$ 5.000 e US$ 7.000.
A maioria das transações é realizada no mercado primário. Para decidir se uma tendência vai se concretizar é preciso avaliar o que vai acontecer depois. O foco no pedigree, segundo Gillespie, mostra que o mundo da arte -- e o mercado de arte -- "ficou sóbrio".
A ironia é que alguns dos artistas plásticos de maior sucesso comercial dos últimos 50 anos vieram de outras áreas.
Andy Warhol (cujos quadros costumam ser vendidos por dezenas de milhões de dólares) começou a carreira como ilustrador comercial e só exibiu sua arte quando passava dos 30 anos. Na semana que vem, a tela Sessenta Últimas Ceias, que Warhol pintou em 1986, irá a leilão na Christie's e deve sair por US$ 50 milhões.
Jean-Michel Basquiat abandonou a escola no colegial. Ele entrou no mercado de arte por meio de pichações em Nova York. Na semana que vem, a Sotheby's leiloará três trabalhos dele (com estimativas de US$ 5 milhões, US$ 10 milhões e US$ 12 milhões, respectivamente). A Christie's venderá uma tela dele com valor estimado entre US$ 25 milhões e US$ 35 milhões.
Esses artistas surgiram em uma época em que praticamente não se presumia que a arte contemporânea poderia ser investimento ou reserva de valor.
Devido em parte a expectativas irrealistas dos colecionadores e preços irrealistas definidos pelos marchands que ajudam a criar essas expectativas, qualquer argumento a favor do potencial de um artista no mercado precisa incluir a legitimidade dele.
Pelo menos por enquanto.
"As pessoas têm memória curta", disse Rachel Uffner, dona da galeria que leva seu nome, em Nova York. "Tenho certeza que outra coisa vai disparar em breve."
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