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Protesto ocupa escadaria do Teatro Municipal na estreia do Festival do Rio

Grupo de manifestantes lotam a escadaria do Teatro Municipal para protestar contra a censura à cultura no Rio - Ana Cora Lima/UOL
Grupo de manifestantes lotam a escadaria do Teatro Municipal para protestar contra a censura à cultura no Rio Imagem: Ana Cora Lima/UOL

Do UOL, no Rio

05/10/2017 23h03

De um lado, a badalação da noite de estreia do Festival do Rio, no Cine Odeon. Do outro, um protesto anticensura na escadaria do Theatro Municipal. Assim foi o início da noite desta quinta (5) na praça da Cinelândia. Enquanto um grupo de convidados assistiam a exibição especial do filme vencedor do Leão de Ouro do 74º Festival de Veneza, "A Forma da Água", do diretor Guillermo del Toro, cerca de cem manifestantes protestavam conta o cancelamento de última hora de uma mostra cultural em um espaço cultural administrado pela prefeitura.

"Estava tudo pronto para a estreia de uma peça, e a vernissage de uma exposição fotográfica de nus nesta noite. Aí, quando chegamos, veio a informação da suspensão do espetáculo por conta de uma pane elétrica. O que mais nos revolta é que nos últimos dias vários gestores da prefeitura apareceram no Castelinho do Flamengo para fiscalizar o nosso trabalho, e eles chegaram a pedir de forma clara e objetiva a retirada de algumas fotos. Como não atendemos o pedido, eles cancelaram tudo sem a menor consideração", contou o produtor Tom Dutra. 

Tom é um dos integrantes do Coletivo Flsh, grupo que aborda questões sobre corpo e sexo com foco na pluralidade de nus masculinos, visibilidade de corpos dissidentes e (des)moralização do sexo, por meio de artigos, ensaios fotográficos e festas, entre outras ações. Segundo ele, a censura à mostra do Castelinho é reflexo do que pensa o prefeito Crivella a respeito da cultura. "Se ele vetou a exposição 'Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira' no Museu de Arte do Rio, ele vai vetar qualquer coisa daqui por diante que não considerar 'adequado'."

Em recente entrevista, Crivella explicou o motivo do veto à "Queermuseu". "Não sou eu, é o povo do Rio de Janeiro, majoritariamente, que não quer a exposição na cidade. Não quiseram em São Paulo, não quiseram em Porto Alegre. Aqui também não. É o povo do Rio. Eu sou apenas uma expressão desse povo. E isso não é censura prévia, não. As pessoas viram na internet toda a questão da zoofilia, da pedofilia e ainda tem o problema da segurança", disse.

Enquanto os manifestantes gritavam "cultura, sim, censura, não", "censura nunca mais", e "fora, Temer, fora, Crivella" nas escadarias do teatro, lá dentro acontecia um espetáculo de música gospel, o Renascer Praise In Concert. "A cultura já vive um momento de opressão, de detrimento, de perda diante da crise econômica em todo país e aqui no Rio, a situação ainda mais grave por causa da religiosidade. Isso não existe", comenta a educadora Délia Fernandes.