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Lenda das HQs, Jack Kirby perdoou "roubos" de Lee pouco antes de morrer

Jack Kirby e Stan Lee, "pais" do universo Marvel - Divulgação/Getty/Montagem
Jack Kirby e Stan Lee, "pais" do universo Marvel Imagem: Divulgação/Getty/Montagem

Do UOL, em São Paulo

27/08/2017 04h00

Para muitos fãs, Stan Lee e Jack Kirby (1917-1994), que criaram juntos vários personagens clássicos dos quadrinhos, tanto se odiavam que mal conseguiam dividir a mesma sala. O relacionamento difícil entre os gênios prosseguiu até depois da morte de Kirby, quando sua família entrou na Justiça contra a Marvel exigindo direitos e lucros obtidos sobre várias de suas histórias.

Mas nem tudo é tão dramático quanto uma saga de super-herói. Duas décadas após o racha, era notório que a relação entre eles, apesar de distante, já vinha se tornando mais amigável. Em entrevista recente, Stan Lee, que apelidou o colega de “O Rei dos Quadrinhos”, afirmou que a última conversa com o amigo foi surpreendente.

“Eu o vi em uma convenção de quadrinhos. Fui até ele, e ele disse: ‘Stan, você não tem motivos para se censurar’, o que eu pensei que era uma coisa bem estranha. Eu gostava de ouvi-lo, mas foi estranho ele dizer isso”, lembrou Lee, que entendeu a fala como uma forma de Kirby demonstrar que não havia mais rancor.

Nesta segunda (28), Jack Kirby completará cem anos. “Muitas pessoas que são grandes fãs dele sempre acharam que eu estava tomando a maior parte dos créditos, mas ele não achava. Eu não determino o quanto de créditos as pessoas devem receber", esquivou-se Lee, 94.

O Surfista Prateado, que resultou em racha entre Kirby e Lee - Reprodução - Reprodução
O Surfista Prateado, que resultou em racha entre Kirby e Lee
Imagem: Reprodução

Racha

Um pouco de contexto aqui: Stan Lee e Jack Kirby, que anos antes havia criado o Capitão América com Joe Simon, trabalharam em parceria nos 1960. Stan bolava os roteiros e entregava para Jack ilustrá-los e contextualizá-los. Os diálogos eram inseridos por Lee num terceiro momento.

O chamado “método Marvel” resultou na criação, entre outros, de "O Incrível Hulk", "X-Men" e "Quarteto Fantástico". O problema é que, algumas vezes, o argumento também era bolado por Kirby. A parceria teve fim após a criação do Surfista Prateado em 1966.

Desenhado por Kirby para ser um dos arautos de Galactus, vilão da saga do Quarteto, o personagem cresceu rapidamente, e Stan Lee se apressou em assumiu seu projeto solo, cuja arte seria assinada por John Buscema no lugar de Kirby. O Surfista se tornou uma das marcas mais populares da editora, e Jack nunca engoliu bem essa história.

A biografia “O Criador de Deus”, escrita pelo brasileiro Roberto Guedes, mostra que outro fato acabou pesando na rusga: uma entrevista que ambos concederam ao jornal “New York Herald-Tribune” em janeiro de 1966. “A matéria retratou Stan como o cara mais sensacional do mundo, enquanto Kirby parecia apenas um coadjuvante”, escreve Guedes.

"Depois que os ânimos esfriaram, os autores continuaram a se reunir para bolar histórias, mas Kirby ainda teria outros dissabores, pelo seu ponto de vista."