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Livro resgata história das HQs dos Trapalhões e traz quadrinho inédito

Trecho da HQ inédita "O Fantástico Didisena? - Divulgação
Trecho da HQ inédita "O Fantástico Didisena? Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

15/02/2017 04h00

O pequeno Didisena tem tanta pressa que, com cinco meses de gestação, ele já tinha vindo ao mundo para acelerar. De personalidade forte, o talentoso piloto-mirim de repente se vê em apuros ao bater de frente com um narigudo e trapaceiro garoto, que chega a "sequestrar" o motor do rival para vencê-lo nas pistas.

Essa é história de "O Fantástico Didisena", que traz todos os personagens clássicos dos Trapalhões parodiando a rixa Senna-Prost na Fórmula 1, e que será lançado pela primeira vez em abril no livro “HQs dos Trapalhões” (Editora Estronho), do radialista e pesquisador cultural Rafael Spaca.

A trama infantojuvenil, roteirizada por Gerson Luiz Teixeira, permaneceu 22 anos esquecida no arquivo do desenhista carioca Gustavo Machado, antes de ser gentilmente cedida ao projeto de Spaca, também autor de “O Cinema dos Trapalhões” (2016).

Capa do livro "HQs dos Trapalhões" - Divulgação - Divulgação
Capa do livro "HQs dos Trapalhões"
Imagem: Divulgação

O limbo veio por uma infelicidade de "timing": com lançamento agendado para meados de 1994, logo após o acidente que tirou a vida do piloto brasileiro, a HQ precisou ser abortada. No livro, ela será publicada na íntegra e exatamente como concebida, sem coloração, ao lado de vários outros trechos raros de histórias.

“O Senna morreu, e a editora Abril ficou com esta questão: publica como uma homenagem ou não? Acabaram não publicando, também porque aquele período coincidiu com o fim da HQ, que resistiu à morte do Zacarias mas, depois, não continuou com a do Mussum”, explica ao UOL Spaca, que mergulhou na era de ouro do quadrinho infantil.

Naquele tempo, quando até Gugu e Faustão tinham sua versão em gibi, os Trapalhões eram os grandes astros da Abril. Além do título principal, a editora editava também uma HQ paralela chamada “As Aventuras dos Trapalhões”, com sátiras a filmes e ícones da cultura pop. Lá, meses antes de "Senninha" ser lançado pela Abril Jovem, Didisena apareceu unindo duas das personas mais queridas do país.

“Existe um intervalo entre a produção e a publicação, que na época era de três meses. E eu percebi que o Didisena nunca era lançado. Com o fim da HQ, meu chefe me reenviou os originais de tudo que não pôde ser publicado, e havia muita coisa inédita. A história do Didisena era a única que estava inteira, com arte finalizada, prontinha para publicar”, lembra Gustavo Machado, responsável pelo traço de personagens como Zé Carioca, Xuxa e Sergio Mallandro.

Original de história dos Trapalhões publicada na editora Abril, já em versão "infantil" - Divulgação - Divulgação
Original de história dos Trapalhões publicada na editora Abril, já em versão "infantil"
Imagem: Divulgação

Evolução das revistinhas

Além de lembrar as 266 edições publicadas nos 18 anos em que o grupo de Renato Aragão brilhou nos quadrinhos, ameaçando o império da Turma da Mônica, “HQs dos Trapalhões” resgata também o trabalho de quem estava por trás dos gibis.

O livro traz 25 relatos e histórias escritas pelos próprios ilustradores e roteiristas envolvidos na produção das revistas, que foram publicadas pelas editoras Bloch e Abril. Esperto, Renato tinha o hábito de assinar com editoras concorrentes da Globo, casa do grupo na TV, para ter uma “carta na manga” em eventuais negociações de contrato.

Entre as histórias reveladas, o leitor poderá entender a mudança de perfil das HQs quando os Trapalhões trocaram de editora Até 1988, os personagens eram desenhados em sua versão adulta, com piadas anárquicas e escrachadas em sintonia com o programa na televisão. O tom infantilizado foi proposto pelo designer César Sandoval na Abril, que queria padronizar a imagem de um grupo que já faturava alto licenciando brinquedos e todo tipo de produto para crianças.

“Algo muito interessante que eu descobri foi que a HQ foi criada com autorização dos Trapalhões, mas era algo totalmente separado do programa. Mas, na época da Bloch, era comum os roteiristas aproveitarem algumas piadas da revista para usarem na TV", conta Scapa, que já tem um prefácio escrito por Dedé Santana. Agora, espera pela contribuição de Renato Aragão.

Rafael Spaca posa com Renato Aragão na época do lançamento de "O Cinema dos Trapalhões" - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Rafael Spaca posa com Renato Aragão na época do lançamento de "O Cinema dos Trapalhões"
Imagem: Reprodução/Facebook

Participação de Renato Aragão

“Já entrei em contato com a equipe dele, por meio do irmão e assessor [Paulo Aragão], que tem imposto mil impeditivos para o Renato colaborar, inclusive dizendo que o trabalho estaria ‘incompleto’”, reclama Rafael Spaca. "É que não tivemos como pagar pelo uso das capas junto às editoras. Eles pediam preços muito altos, e somos uma editora pequena. Por causa disso, optamos por usar no livro só material original dos cartunistas."

Procurado pelo UOL, Paulo Aragão afirma que Renato está feliz com a homenagem e que apenas não teve tempo de colaborar, já que está no meio de “18 projetos”. “Falamos com ele [Rafael Spaca] sobre como ele poderia melhorar o livro, incluindo as figurinhas das capas, mas infelizmente ele não conseguiu chegar a um acordo com as editoras. Mas o Renato quer, sim, escrever", diz Paulo.

Zacarias em "O Inseticida", publicada pela editora Bloch - Divulgação - Divulgação
Zacarias em "O Inseticida", publicada pela editora Bloch
Imagem: Divulgação