Madonna "adota" artista cearense para pintar hospital beneficente
Madonna acaba de “adotar” um jovem artista cearense como parceiro para um novo projeto.
Com apenas 24 anos, Wanderson Petrova Cavalcante é o primeiro artista escolhido para pintar um mural nas paredes do Instituto Mercy James, hospital pediátrico que está sendo erguido pela cantora no Malawi, na África, e que leva o nome de sua filha adotiva de 10 anos.
O contato entre os dois se deu sem palavras, a partir dos muros da longínqua Crato, cidade na região do Cariri, onde a silhueta de Madonna permanece como um símbolo de resistência.
Wanderson não sabe como, mas a imagem da primeira obra, inspirada na história do clipe “Ghosttown” – sobre a reconstrução do mundo a partir da mulher --, chegarou até a cantora, que se derreteu no Instagram: “Arte incrível, seja lá quem for o artista. Vamos nos apoiar uns aos outros.”
Meses depois, a cantora protagonizaria uma queda feia durante a apresentação no Brit Awards, machucando a coluna cervical. “Aquilo foi surreal. Eu precisava pintar, não o momento da queda, mas sim, quando ela majestosamente se levanta e continua a apresentação”, conta Wanderson. Desta vez, Madonna compartilhou a imagem e citou o artista.
No fim do ano passado, veio a surpresa: um convite da equipe do Raising Malawi, organização beneficente fundado pela cantora em 2006, dedicada aos milhões de órfãos que vivem em situação de extrema pobreza na região.
Wanderson, o artista, é sério ao avaliar a importância do momento. “Estou baixando a bola do fã, e me vendo como alguém parte desse processo”, explica. “Vai ser desafiador”.
Já o Wanderson fã de Madonna reagiu de maneira menos contida. “Digamos que eu passei por quatro estações em um dia. Chorei, dormi, gritei e fiquei meia hora com a cara da mão. Nunca acreditei que a força do meu trabalho chegaria ali”, conta.
"Não entendeu ou quer que eu desenhe?"
Com o passaporte já em mãos, Wanderson agora aguarda o Raising Malawi bater o martela para a data da viagem, que deve acontecer ainda este mês e se estender até fevereiro. “Reservei estes dois meses incondicionalmente para eles”, diz.
Ele também prepara a mala com brilhos, pérolas e outros materiais para criar uma obra em alto-relevo.
A inspiração, dessa vez, será mais intima: Uma floresta mágica e bastante colorida, com cerejeiras, pássaros gigantes, borboletas. Uma imagem que ele diz vir sempre na cabeça desde quando, ainda uma criança introvertida, encontrou no pincel a melhor maneira de se expressar.
“Se eu queria dizer que amava minha mãe eu desenhava. Se alguma circunstância me atormentava na escola, eu desenhava”, observa. “Minha vida nesta época se resumia a um ditado bem contemporâneo usado hoje em dia: ‘Não entendeu ou quer que eu desenhe?'"
Mais recentemente, decidiu levar suas obras para as ruas de Crato. Queria dar um colorido a locais antes degradados na cidade. Pensou: “Preciso de uma imagem forte, de alguém que me inspire força e confiança". Quem mais poderia servir como musa inspiradora?
“É difícil se encaixar hoje em dia. O mundo estreita oportunidades aos ‘diferentes’, negros, gays, velhos, mas todos estão nas poéticas das canções da Madonna. Eu estou lá, vocês também”, acredita.
Aos poucos, Crato foi sendo tocada pela arte -- o que o artista considera sua grande contribuição. “Tem surgido, cada vez mais, pessoas se arriscando nas pinturas”, ele conta, animado.
“Madonna me impulsionou a alcançar isso. Acreditar que as coisas são possíveis e que os laços podem ser estreitados com o que a gente faz, e quando a gente faz sem certo exibicionismo.”
Mas ele promete se conter se caso se esbarrar com a cantora na região onde o hospital está sendo erguido – o que existe grandes chances de acontecer, já que Madonna tem acompanhado de perto todas as etapas do projeto. “Desconstruí aquela imagem que diz respeito ao ídolo como uma coisa intocável. Existe ali um ser humano.”
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