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Após Virada, blocos temem que Doria mude Carnaval de rua; secretário nega

Jussara Soares

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/12/2016 10h46Atualizada em 15/12/2016 18h14

As alterações anunciadas pelo prefeito eleito João Doria para a Virada Cultural acenderam o alerta nos entusiastas do Carnaval de rua em São Paulo, e organizadores de blocos temem que já em 2017 haja mudanças nas regras para a folia, que renasceu com força na capital nos últimos anos.

“Não estou otimista em relação ao governo Doria, que parece estar comprando uma briga com as festas de rua. São essas manifestações que tornam São Paulo uma cidade mais humana”, diz o cantor e compositor Emerson Boy, presidente do bloco Jegue Elétrico, fundado em 2000, e integrante do Movimento Carnavalista em São Paulo.

Em 2016, a festa nas ruas reuniu mais de 1 milhão de pessoas e já deu mais lucro que o sambódromo. Foram R$ 400 milhões, contra R$ 250 milhões. Para 2017, 495 blocos estão inscritos para desfilar. Neste ano, foram 306.

Nesta quarta (7), o Carnaval de rua foi um dos doze temas debatidos na reunião de transição entre João Doria e o prefeito Fernando Haddad e, na manhã desta quinta, o futuro secretário de Cultura André Sturm tratou de apaziguar os ânimos.

"Não haverá mudança na lógica do Carnaval de rua. Vamos seguir com o que a gestão atual está planejamento. Se houver (mudanças), é para melhoria da infraestrutura", disse ele, em conversa com jornalistas.

Confinamento e abadás

“Acredito que, pela falta de tempo, não teremos grandes mudanças, mas que virão a partir de 2018”, diz o empresário Fábio Lopes, fundador do bloco Não Serve Mestre. Ele, no entanto, não vê uma ligação entre as mudanças das regras da Virada Cultural e uma possível ameaça para o Carnaval de rua. “A Virada é financiada pelo município, os blocos, não”, pontua.

A maior preocupação, no entanto, é o sufocamento dos blocos e a criação do Carnaval pago. “Nosso maior medo é a proibição do Carnaval ou a privatização dele, com abadás e cordas. O Carnaval é uma manifestação livre”, diz a atriz e diretora de teatro Paula Flecha Dourada, diretora do bloco Agora Vai, que desfila há 13 anos na Santa Cecília. Nos últimos anos, o bloco arrastou um público estimado em 8 mil pessoas.

Outro receio é o confinamento dos blocos em um só lugar. “Há quem defenda a ideia de um ‘blocódromo’ onde todos os blocos desfilem, mas isso não é o Carnaval. O bonito dele é a manifestação que acontece nas ruas e nos bairros”, acrescenta Paula.

Planejamento

Desde o fim da semana passada, os blocos estão sendo chamado às subprefeituras para participar de reuniões com representantes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Guarda Civil Metropolitana (GCM) e Polícia Militar e Secretaria de Cultura para definir a infraestrutura e a organização dos desfiles.

Também está em pauta para votação na Câmara de Vereadores o projeto de lei 00298/2016, de autoria do vereador Nabil Bonduki (PT), ex-secretário de Cultura do município, que institui e disciplina o Carnaval de rua em São Paulo.

O PL assegura, entre outros, os desfiles de Carnaval gratuitos na capital sem cordas e abadás; o direito dos blocos ocuparem as vias públicas sem o pagamento de taxa para a CET; e a prefeitura como parceira para dar condições básicas para a realização das festas, a exemplo do que ocorreu nos últimos dois anos.

“Atualmente, as regras são determinadas por decreto do prefeito. O que queremos é tornar isso uma lei e assegurar o direito dos blocos e dar garantia ao processo do Carnaval de rua”, diz Bonduki.