Quadrinista com deficiência auditiva traz narrativa silenciosa à Comic Con
Ju Loyola nasceu há 37 anos sem ouvir os ruídos deste mundo. Mas seus outros sentidos bastante apurados despertaram nela a vontade de começar a desenhar aos 10. Inspirada pelos personagens Garfield, de Jim Davis, e Moranguinho, boneca desenhada por Muriel Fahrion que fazia a cabeça das meninas nos anos 80, ela começou seus primeiros rascunhos. Hoje profissional, ela participa da Comic Con Experience expondo sua narrativa silenciosa em HQ's sem os balões de fala.
Ju é uma das poucas mulheres entre os artistas que estão comercializando seu trabalho na feira de cultura pop em São Paulo e a única deficiente auditiva. Para facilitar na comunicação com seus clientes, ela conta com a ajuda de sua irmã, Nathali Loyola, que costuma a acompanhar nos eventos. Para a edição deste ano, a segunda que ela participa, Ju trouxe "Maria Lua & Cia: Aventura das Estrelas", sua segunda HQ publicado de maneira independente. A primeira, "The Witch Who Loved", foi lançada no ano passado, também na Comic Con.
Autodidata, Ju investe atualmente no estilo cartum, mas também desenha mangá. A paixão pelo estilo japonês veio por causa dos Cavaleiros do Zodíaco e fez com que ela aprimorasse ainda mais suas técnicas. Para investir profissionalmente no ramo, a quadrinista paulista se formou em design na Escola Panamericana de Arte e também fez o curso da Quanta Academia de Artes.
Além de suas publicações independentes, Ju se orgulha de ter trabalhado na produção de "Uma História de Amor e Fúria", animação brasileira vencedora do Festival de Annecy em 2013, na França. O premiado filme de Luiz Bolognesi tem no elenco as vozes de Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro.
A próxima grande conquista da artista brasileira deve vir do outro lado do mundo. Ela já está entre os top 10 artistas do concurso "Silent Mangá", no Japão. O vencedor ganhará uma viagem ao país. Ju Loyola, que participa pela terceira vez da competição, é mais uma vez a única mulher do grupo. Por lá, são considerados apenas os trabalhos que não tem palavras, como o dela.
Por ser deficiente auditiva desde que nasceu (sua mãe teve rubéola na gravidez), Ju tem dificuldade de desenvolver roteiros e apostou no trabalho apenas baseado em desenhos. Sua arte, no entanto, fala por si.
Quem quiser conhecer o trabalho da quadrinista pessoalmente tem até o próximo domingo (4). Ela estará todos os dias na área batizada de "Artist Alley", localizada no corredor F da Comic Con. A feira, que começou nesta quinta (1), continua na sexta (2) e sábado (3) das 10h às 22h e no domingo (4), das 10h às 20h. Quem está fora de São Paulo pode conhecer mais do trabalho de Ju Loyola no Instagram @loyola_ju.
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