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Diretor do Municipal nega envolvimento em esquema que desviou R$ 15 milhões

O maestro e diretor do Theatro Municipal John Neschling, que irá depor em CPI - Divulgação
O maestro e diretor do Theatro Municipal John Neschling, que irá depor em CPI Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo*

16/08/2016 19h19

Após ter o sigilo de seus e-mails quebrado a pedido do Ministério Público Estadual, o maestro John Neschling, diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo, negou envolvimento no esquema de corrupção que desviou pelo menos R$ 15 milhões dos cofres públicos.

Segundo o músico, seu nome nem sequer foi citado na investigação da Controladoria Geral do Município, que apontou os desvios, má administração e nepotismo na gestão da Fundação Theatro Municipal e do IBGC (Instituto Brasileiro de Gestão Cultural).

"Nunca pratiquei nenhum ato ilícito ou que tenha causado prejuízo ao erário. Também é fato que fui eu quem denunciou esse esquema corrupto e criminoso ao Prefeito, à Secretaria de Cultura e demais órgãos da Prefeitura. Disso, hoje, poucos lembram", disse John Neschling em comunicado divulgado à imprensa.

Segundo ele, que afirma não ter sido chamado para prestar depoimento depoimento no Ministério Público, seu nome e sua reputação estão sendo "enxovalhados diariamente" na imprensa, o que define como "surrealismo" e "caça às bruxas".

"Nesse sentido, parabenizo a decisão da quebra do meu sigilo, porque é, na prática, a primeira chance de defesa real, porque os fatos falarão por si. Lamento apenas que minha vida privada será exposta ao público, sabedores que somos dos vazamentos que ocorrem e alimentam o cotidiano da imprensa", escreve ele.

"Como o relatório da Corregedoria me inocentou, levantam agora discussões esdrúxulas sobre a legalidade da minha remuneração/contrato bem como a relação que mantenho com agentes e que segue estrito padrão da área. É triste que jornalistas de veículos sérios comprem essas versões fantasiosas sem nem ao menos lerem com atenção o resultado do trabalho minucioso da Controladoria da Prefeitura."

Mesmo investigado, John Neschling segue no comando do centro de espetáculos. Já o diretor-geral, Paulo Dallari, pediu demissão do cargo e só fica até o dia 22. O maestro irá depor nesta quarta (17) na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga o caso. É a segunda vez que ele é convocado a responder questões sobre o Municipal. Na primeira, não compareceu.

Segundo as investigações, o desvio de recursos aconteceu entre 2013 e 2015, quando José Luiz Herência era o diretor da Fundação Theatro Municipal. Réu confesso, Herência fez acordo de delação premiada, confessou ter desviado R$ 6 milhões e apontou a participação dos demais investigados, que negam as acusações.

Após a revelação do esquema, o prefeito Fernando Haddad (PT) nomeou Dallari diretor-geral da Fundação Theatro Municipal e interventor no IBGC. Ex-chefe de gabinete do prefeito, ele já deixaria o posto de interventor em agosto, mas ficaria como diretor da fundação. Agora, com a demissão, a Prefeitura terá de procurar outro nome para a função.

Municipal - J. F. Diorio/Estadão Conteúdo - J. F. Diorio/Estadão Conteúdo
O Theatro Municipal de São Paulo, alvo de uma CPI e de investigação sobre desvio de recursos
Imagem: J. F. Diorio/Estadão Conteúdo

Mensagens

Com a decisão judicial, os promotores do Ministério Público passarão a ter acesso a todas as mensagens eletrônicas trocadas por Neschling desde que assumiu o posto de diretor artístico, em 2013. O conteúdo pode revelar, por exemplo, a participação dele na contratação de espetáculos superfaturados, um dos focos da investigação, ou mesmo em apresentações negociadas, pagas e depois canceladas. É o caso do projeto "Alma Brasileira", que custou R$ 1 milhão aos cofres municipais, mas nunca foi montado na capital paulista.

A negociação desse espetáculo teve início em junho de 2014 com o envio, por Briguglio Filho, de uma carta ao produtor argentino Valentin Proczynski. Nela, o secretário de Comunicação de Haddad afirma que a Prefeitura tem interesse no espetáculo, sobre a obra do compositor Heitor Villa-Lobos, e se compromete com pagamentos, mesmo sem ter acesso ao projeto. O contato teria sido feito sem o conhecimento do então secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira, que também nega envolvimento no esquema.

Há a expectativa de que parte das tratativas que resultaram no pagamento do musical nunca realizado em São Paulo tenha sido feita por e-mail. A CPI instaurada na Câmara Municipal para investigar irregularidades na gestão do teatro já teve acesso a algumas das mensagens trocadas entre os investigados pelo MPE. Em uma delas, Neschling pressiona Herência a assinar o contrato com Proczynski, já que, segundo o maestro, o cancelamento do acordo seria um "desgaste para o teatro" no Brasil e no exterior.

Para o vereador Ricardo Nunes (PMDB), que integra a CPI instaurada na Câmara para investigar irregularidades na gestão do Municipal, a decisão da Justiça deve ajudar a materializar todos os indícios já levantados pelos parlamentares sobre a participação de Neschling no esquema. "Acredito que agora as coisas vão se complicar para ele. Depois que os e-mails vierem à tona, a manutenção dele no cargo (de diretor artístico) vai ficar difícil", afirma.

Requerimento apresentado por Nunes com o mesmo objetivo, de quebra de sigilo, chegou a ser aprovado pelos demais vereadores da CPI no início de julho. Um mês depois, no entanto, o relator da comissão, Alfredinho (PT), conseguiu suspender a votação, com o argumento de que foi feita em reunião secreta. O petista não foi encontrado na segunda-feira, 15.

Em nota, a defesa de Neschling afirmou que, "embora lamente a violação do sigilo da correspondência, já que expõe dados de sua vida pessoal, a quebra do sigilo não comprometerá o músico, uma vez que ele nunca praticou ilicitude". Em entrevista, na semana passada, o maestro ressaltou que foi inocentado das acusações pela Controladoria-Geral do Município (CGM).

Depoimento

Neschling exigiu ter acesso ao depoimento prestado por José Luiz Herência aos integrantes da CPI como condição para confirmar sua presença na reunião desta quarta-feira (17).

O advogado dele, Eduardo Carnelós, já teve acesso aos documentos. Herência aceitou prestar depoimento aos parlamentares no mês de junho, mas em sessão fechada, pois as investigações correm em sigilo. Além de Herência, já foram ouvidos o secretário de Comunicação, Nunzio Briguglio Filho, e o ex-secretário da Cultura Juca Ferreira.

Na manhã desta terça-feira (16) o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse que irá aguardar o parecer da Controladoria Geral do Município (CGM), antes de decidir se afasta ou não John Neschling do cargo de diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo.

*Com informações da Agência Estado