Cabeleireiro faz cortes em troca de histórias e transforma projeto em livro
Sua história de vida vale um corte de cabelo. E ela pode acabar nas páginas de um livro. Isso tudo se você cruzar por aí com Fernando Spud, 38, cabeleireiro e idealizador do Salão Itinerante. O projeto, que começou por acaso, há sete anos, na porta de uma balada em São Paulo, ganha registro impresso para que as histórias sobrevivam mais do que o corte do momento.
"Quando alguém olha para você ela tem que enxergar o que você quer mostrar, e não o que ela quer ver", explica o cabeleireiro ao UOL. Usando técnicas de visagismo, ele adequa o corte de cabelo à história contada por seu cliente. Ao olhar para o espelho, a pessoa fala para ela mesma e fica mais à vontade para encarar seus anseios e complexos.
O Salão Itinerante é uma forma de devolver para o Universo o que ele me dá de melhor
Fernando Spud, cabeleireiro
A cada dois meses, Fernando escolhe um local "com vida" para espalhar suas tesouras e aguardar por boas histórias. Pode ser uma festa, uma praça, uma mesa de bar ou uma comunidade carente. "Geralmente demora para a primeira pessoa topar. Mas assim que eu começo a cortar um cabelo surge uma fila de interessados em oferecer histórias em troca de uma mudança no visual", explica.
Das centenas de histórias que já passaram pelas navalhas de Fernando Spud, 45 registros foram selecionados para virar livro. A ideia surgiu a partir de amigos que sentiam falta de um registro mais duradouro. Ele agora trabalha em parceria com a amiga Dani Louzada, que assume a tarefa de passar as histórias para o papel, na organização e edição do livro e ainda busca uma editora interessada no trabalho.
"Tenho uma preocupação em casar as histórias. De cem que eu ouço, apenas uma é negativa. Mas essas negativas podem ser muito pesadas". Em uma das festas em que cortou cabelos, Spud ouviu a história de um jovem de 26 anos viciado em cocaína durante 13, e que chegou a matar um morador de rua atropelado. Outro relato forte que se recorda é de uma garota de 13 anos que se mutilava influenciada por um namorado mais velho.
"Quando ouço essas histórias chego a ficar mal por até dez dias. Mas penso que tenho a sorte de conseguir viver do que eu mais gosto de fazer, que é cortar cabelo. O Salão Itinerante é uma forma de devolver para o Universo o que ele me dá de melhor", justifica o profissional sobre seu projeto pessoal.
Por enquanto, o Salão Itinerante está restrito a São Paulo, onde Fernando atende seus clientes regulares em um salão na rua Augusta. Por lá, um corte com o cabeleireiro custa R$ 80.
Cabeleireiro profissional há 12 anos, Fernando é formado em visagismo e história da moda. Ele também atuou por um ano em Londres, onde atendia seus clientes em casa. Daí surgiu o nome Salão Itinerante, ainda sem a veia social.
"Isso surgiu como uma brincadeira, mas uma brincadeira que acabou ficando muito séria e gera um impacto positivo na vida de quem participa". Prova disso é que, pela primeira vez, Spud resolveu voltar a um local por onde o Salão Itinerante já passou: a favela de Paraisópolis.
"Sigo à risca o conceito de itinerante e não voltar onde já passei. Mas senti que eles precisavam de um pouco de autoestima depois de tudo o que aconteceu lá", ele fala sobre o desabamento de 20 casas por causa das fortes chuvas no início deste mês.
Quem quiser contar sua história ou conhecer melhor o projeto do Salão Itinerante poderá encontrar Fernando Spud neste domingo (19), das 20h à 0h, no Luau Paraisópolis. O evento que reúne música e arte acontece em frente à Associação das Mulheres de Paraisópolis, na rua Silveira Sampaio, 309.
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