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"Me pegou no primeiro dia em que vi", diz pai do museu Inhotim sobre Tunga

O artista plástico Tunga, de costas, orienta montagem de instalação em Inhotim - Daniela Paoliello
O artista plástico Tunga, de costas, orienta montagem de instalação em Inhotim Imagem: Daniela Paoliello

Do UOL, em São Paulo

06/06/2016 20h39

A morte de Tunga, um dos nomes mais reconhecidos e celebrados na arte contemporânea brasileira, abalou toda a equipe do Instituto Inhotim, que provavelmente sequer existiria não fosse a relação de amizade entre o artista e Bernardo Paz, idealizador e presidente do conselho administrador do museu, criado em Minas Gerais, nos anos 2000.

"Eu me envolvi na arte contemporânea ao ver as obras do Tunga. O trabalho dele é uma coisa estonteante, me pegou no primeiro dia que eu vi. Quis saber de onde vinha aquela loucura toda, aquele espetáculo", declarou Paz em depoimento enviado ao UOL nesta segunda-feira (6).

"Convivi com ele 25 anos da minha vida, por isso sua partida me deixa muita saudade. Foi um grande amigo meu, talvez o melhor. Foi quem mais me ajudou a fazer o Inhotim. Ele queria muito que desse certo. Veio para o Inhotim e ficamos muitos meses montando suas obras."

A relação entre Paz e o artista começou na década de 1990, quando o idealizador de Inhotim teve os primeiros contatos com a arte de Tunga. Empresário do setor de mineração e siderurgia, ele colecionava arte moderna, mas decidiu trocar o foco para a arte contemporânea.

Os trabalhos do artista - nascido Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, em Pernambuco, mas radicado no Rio - foram os primeiros a serem adquiridos para compor a Coleção Inhotim. A montagem das obras, em geral de grandes dimensões, esculturas e instalações que misturavam tranças, aço e esqueletos, fez com que muitos dos funcionários do instituto também se aproximassem de Tunga.

Tunga conversa com funcionários do Instituto Inhotim, onde estão 30 de suas obras - Daniela Paoliello - Daniela Paoliello
Tunga conversa com funcionários do Instituto Inhotim, onde estão 30 de suas obras
Imagem: Daniela Paoliello

"Era um cara muito generoso. Minha felicidade foi ter feito um pavilhão no Inhotim que conta a trajetória dele, o maior artista brasileiro. Um homem que deveria viver muito mais. Foi embora cedo"
Bernardo Paz, criador de Inhotim

Localizado em Brumadinho, município a 60 km de Belo Horizonte, em uma área de mata atlântica de 786 hectares, o Instituto Inhotim é referência internacional em arte contemporânea, figurando em diversas listas de melhores museus de artes do mundo, com trabalhos de nomes como Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Vik Muniz, Matthew Barney e outros.

As obras de Tunga são um dos principais atrativos do local que, atualmente, conta com duas galerias que cobrem 30 anos da trajetória do artista, a True Rouge e a Psicoativa, maior espaço expositivo do Instituto Inhotim, com 2.200 m². A relação completa está disponível no site do museu.

Segundo Marta Mestre, curadora do espaço, "Tunga é um artista que proporciona experiências radicais, do sublime, do belo, do caos e do contraditório. Como toda a arte transgressora e sublime ela não deixa o publico ileso. Ela constrói uma poética a partir da radicalidade da experiência".

De acordo com a assessoria de imprensa do instituto, Tunga vinha trabalhando com o museu para transformar as duas galerias em espaços "vivos, de experimentação, dinâmicos, em sintonia com as ideias de  'instauração' presentes no pensamento e no trabalho dele".

Tunga observa montagem de uma de suas galerias no Instituo Inhotim, em Minas Gerais, em 2012 - Daniela Paoliello - Daniela Paoliello
Tunga observa montagem de uma de suas galerias no Instituo Inhotim, em 2012
Imagem: Daniela Paoliello