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Virada Cultural celebra os anos 1970 no Theatro Municipal

Guilherme Bryan

Colaboração para o UOL

21/05/2016 06h30

Das 18h de sábado (21) às 19h de domingo, o Theatro Municipal de São Paulo será palco do repertório completo de cinco álbuns lançados entre 1971 e 1979, por alguns artistas, caso de Amelinha e Geraldo Azevedo, que agora se destacam na trilha da novela "Velho Chico".

"Foi um momento muito rico em que o artista tinha muito mais voz e também dos grandes diretores artísticos e grandes diretores de televisão. Então foi muito inovador. Eu já vinha sendo sondada há três anos para participar da Virada. Mas com certeza há uma conexão maior para que tudo esteja linkado no momento certo", opina Amelinha.

O primeiro a subir ao palco será o cantor e compositor baiano Hyldon, às 19h. Depois será a vez da mineira Wanderléa (23h), seguida da cearense Amelinha (3h), do carioca Erasmo Carlos (15h) e, para encerrar a maratona, se apresentará o pernambucano Geraldo Azevedo (18h). Haverá também um concerto da Orquestra Experimental de Repertório, com regência do maestro Carlos Moreno, às 11h do domingo.

"Na Rua, na Chuva, na Fazenda"

O cantor e compositor Hyldon ficou famoso nos anos 1970 graças ao megassucesso "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", que, décadas depois, foi regravada pelo Kid Abelha e deu título ao primeiro álbum dele, lançado em 1975. Além dessa canção, estavam ali outras canções badaladas, caso de "As Dores do Mundo" (que também ganhou uma regravação do Jota Quest). "Trata-se de um álbum autobiográfico. Cada música expressava emoções vividas. Por isso as pessoas se identificam tanto com as canções e, mais do que isso, foi passando de geração em geração. É um disco que sobreviveu ao tempo", avalia.

Serão justamente essas faixas que ele apresentará no palco do Theatro Municipal. "É um desafio tocar com sete músicos um trabalho que foi realizado há 40 anos e com uma grande orquestra. Mas vamos adaptar os arranjos. Claro que mudou o jeito de tocar, mas com o tempo aprendi como lidar com o fazer a coisa moderna sem perder a essência dos arranjos originais e que permita que as pessoas cantem junto, que é a melhor parte do show. Essa maravilhosa troca de energia entre artista e plateia numa perfeita simbiose. Tocar nesse palco sagrado será uma honra e um prazer", assegura.

"Feito Gente"

Também de 1975 é o álbum ao vivo "Feito Gente", da Wanderléa, que, ao ser lançado, foi considerado bastante alternativo e, com o passar do tempo, tornou-se "cult". Estavam ali três canções de Sueli Costa – "Lua", "Poeira e Solidão" e "Verdes Varandas" –, outras duas de Gonzaguinha – "Que Besteira" e "Palavras" –, e as lindas "Carne, Osso e Coração", de Joyce, "Segredo", de Luiz Melodia, e "Que besteira", de João Donato e Gilberto Gil.

Tratava-se, portanto, de um passo além na carreira da denominada "ternurinha" dos tempos de Jovem Guarda, agora se aproximando de compositores mais alternativos, como Jorge Mautner, autor, com Rodolpho Grani Jr., de "Ginga da Mandiga", e Walter Franco, autor da faixa-título.

Álbum "Feito Gente" (1975), da Wanderléa - Divulgação - Divulgação
Encarte do álbum "Feito Gente" (1975), da Wanderléa
Imagem: Divulgação

"Frevo Mulher"

Walter Franco é o autor também de uma música, “Divindade”, no segundo disco da cantora Amelinha, “Frevo Mulher”, de 1979, que a levou ao estrelato, ganhando o primeiro disco de ouro e se destacando ao lado do denominado Pessoal do Ceará, que incluía também Belchior e Fagner, entre outros. Fagner, aliás, autor de uma das faixas do álbum, “Santa Tereza”, parceria com Abel Silva. Mas a faixa-título, composta por Zé Ramalho, e “Dia Branco”, parceria de Geraldo Azevedo com Rocha, é que chegaram às paradas de sucesso. Chama atenção ainda a parceria de Bruna Lombardi com David Tygel, “Que Me Venha Esse Homem”.

"Eu estava há dois anos sem gravar e o diretor artístico Jairo Pires me procurou pedindo para eu fazer um disco que acontecesse mais. Então é um disco importante porque me tornou ainda mais conhecida e tem grandes compositores e arranjadores. Foi um momento glorioso. É um disco muito luminoso de um período em que havia muita ousadia até em função do momento do país”, garante Amelinha.

Ela também destaca o encontro com Zé Ramalho, Geraldo Azevedo (autor de “Galope Rasante”), Moraes Moreira (parceiro de Fausto Nilo em “Pedaço de Canção”), Herman Torres (compositor de “Noites de Cetim”, com Sergio Natureza) e Paulinho Machado (autor de “Dez Mil Dias”). Há ainda a participação especial de Dominguinhos, Novelli e Wilson das Neves.

"Foi um momento muito bonito e intenso da minha carreira e fiquei muito feliz com o convite do pessoal da Virada Cultural porque ele é muito representativo”, observa a cantora, que relembra que na época de lançamento do disco estava grávida do primeiro filho e não pode divulgá-lo como merecia. Portanto, agora ela terá essa oportunidade. “No ano 2000 eu ouvi novamente todos os meus discos e passei um ano trabalhando nisso. Então é um álbum muito familiar para mim e não algo distante que eu gravei e agora vou revisitar”, esclarece, que destaca a banda que a acompanhará e será liderada pelo DJ Zé Pedro.

"Carlos, Erasmo"

Capa do disco "Carlos, Erasmo" (1971) - Divulgação - Divulgação
Capa do disco "Carlos, Erasmo" (1971)
Imagem: Divulgação
Outro artista que, na década de 1970, deixou para trás a imagem criada na época da Jovem Guarda e partia para um trabalho mais consistente foi Erasmo Carlos, que, em 1971, lançou o aclamado álbum “Carlos, Erasmo”. “Foi como um vestibular. Saí do be-a-bá da Jovem Guarda para a faculdade... Deixei de ser adolescente e me tornei adulto”, garante o cantor e compositor, que destaca as canções “Gente Aberta”, “Dois animais na selva suja” (composição de Taiguara, dada de presente pelo casamento com Narinha) e “De noite na cama”, que Caetano Veloso compôs para ele durante o exílio em Londres.

"Reuni um time de músicos espetaculares, entramos no estúdio e os arranjos foram saindo naturalmente, aproveitando as novas tecnologias da época e o bom gosto de cada um. Com o tempo, a crítica, os pesquisadores e as gerações que se seguiram acharam que eu indiquei vários novos caminhos a serem seguidos pela MPB”, avalia. Quanto ao show na Virada Cultural, ele assegura que será apenas uma mostragem e que deixa novas leituras e arranjos contemporâneos mais radicais para a nova geração.

"Bicho de 7 Cabeças"

Geraldo Azevedo - Divulgação - Divulgação
Geraldo Azevedo canta "Bicho de 7 Cabeças" (1979)
Imagem: Divulgação
O último a subir no palco do Theatro Municipal será Geraldo Azevedo, mais um com o repertório do segundo álbum da carreira, o primeiro pela então gravadora CBS, "Bicho de 7 Cabeças" (1979), que, além da faixa-título, emplacou o grande sucesso "Táxi Lunar" e trouxe bonitas regravações de "Paula e Bebeto", parceria de Milton Nascimento e Caetano Veloso, e "Águas de Março", de Tom Jobim.

"Foi no 'Bicho de 7 Cabeças que lancei 'Táxi Lunar', minha primeira música a ser realmente executada nas rádios do Brasil todo. Acho que isso já marca a importância dele na minha carreira. Mas há outras canções marcantes, como a faixa-título que canto com Elba; e 'Natureza Viva', que gravei com minha mãe e foi muito emocionante", conta. E, destacando ainda a orquestração de Dori Caymmi, acrescenta: "Talvez tenha sido um trabalho em que me arrisquei cantando músicas de outros compositores”. Na Virada Cultural, ele fará um show mais intimista, só voz e violão, com liberdade para comandar o repertório na hora, incluir canções de outros trabalhos e quem sabe até alguma inédita.