Maior colecionador do Brasil aprova nova "Playboy": "Melhor do que antes"
Maior colecionador da "Playboy" no Brasil, o cearense Raimundo Stenio Sampaio, o Guerrinha, não se contém ao folhear pela primeira vez a nova edição da revista, recém-lançada. Ver nua a atriz Luana Piovani era um sonho de mais de 20 anos. E não é só por isso: a publicação está farta, com 35 páginas de um ensaio "no ponto", que, segundo ele, não vem "artístico" nem explícito demais. Após acabar e renascer nas cinzas, a reencarnação da revista está aprovada.
"Nossa, está escuro. Ficou muito bom, né? Está bonito, até melhor do que antes", diz ao UOL o comerciante de 56 anos, que há mais de 20 anos vive de "Playboy", com duas bancas e dois depósitos no bairro do Campo Belo, em São Paulo. Segundo ele, há semelhanças em algumas fotos da nova edição com as da histórica edição 293, que revelou as curvas da Joana "Feiticeira" Prado e que vendeu 1,2 milhão de exemplares, um recorde absoluto no país.
Hoje os tempos são outros. Em plena crise da mídia impressa, a tiragem da nova edição, que custa R$ 20, é de modestos cem mil exemplares --ainda assim superior à média dos últimos dois anos. Independentemente disso, Guerrinha avalia que a nova fase começou da melhor maneira possível. E não só por ter tirado a roupa de uma musa sonhada, mas também porque a ausência de grandes estrelas vinha incomodando.
"As entrevistas e reportagens da 'Playboy' são muito boas, a revista inteira é. Mas 100% dos homens que compram a revista, e não tem como negar, compram para ver a mulher pelada. E todo mundo quer saber da moça famosa, bonita", diz ele, que tem uma fase favorita: a dos anos 1980, época em que a revista se consolidou no mercado estampando nomes como Claudia Raia, Monique Evans e Maitê Proença.
Guerrinha não reclama --a não ser quando diminui o estoque da edição de Sylvia Bandeira, de abril de 1983, sua preferida--, mas sente um alívio às avessas com o retorno da "Playboy". Quando a editora Abril anunciou o fim do ciclo da revista, em novembro do ano passado, o apetite de colecionadores por edições antigas mais do que dobrou. "Eu fiquei muito triste, claro. Mas, passando uns dias, vi que estava vendendo cada vez mais. E cada vez mais para o Brasil inteiro, por Sedex, pelo meu site. As revistas dos anos 1970 e 1980 estavam sumindo."
Tímido mas bom de prosa, ele não revela quanto tira por mês na banca, mas foi o suficiente, por exemplo, para comprar o apartamento da família, em Santo André, no ABC paulista, e bancar a faculdade de três filhas. Em dois espaços no estacionamento de uma loja de materiais de construção, ele também vende livros, discos e outras revistas, incluindo edições raras da "Placar".
Mas a grana vem mesmo é da "Playboy", que é vendida de R$ 10, as edições mais recentes, a R$ 10 mil, como a rara capa da apresentadora Xuxa, de 1982, com as fotos que o então namorado Pelé tentou proibir. "Já vendi uma vez por R$ 12 mil na banca, mas porque me arrependi e, depois, pedi mais. Ela vale um pouco menos."
As raridades incluem também a primeira edição da "Revista do Homem", antigo nome da "Playboy" nacional, com a modelo Lívia Mund; a primeira "Playboy" de fato, de 1978, com a norte-americana Debra Jo Fondren; e a edição de 1984 da atriz Sônia Braga que, diz Guerrinha, só ele tem. Elas valem de R$ 1 mil a R$ 4 mil, mas também é possível alugá-las por cerca de R$ 300.
"Mas só alugo para quem eu conheço, quem é de confiança. Antes eu alugava todas, mas elas voltavam detonadas, com capa rasgada. Abria a revista e as páginas estavam grudadas. Até guardava aqui uma dessas para mostrar para quem eu não conhecesse. Era um negócio esquisito."
Tino empreendedor
Natural da pequena Quixadá, no Ceará, Stenio começou a lucrar com revistas ainda na infância. Viu a primeira "Playboy", a edição norte-americana, aos 11 anos, adquirida a troco de serviço de boy junto a um vizinho dos Estados Unidos. Esperto, fazia negócio com colegas do colégio: dois minutos por dois cruzeiros. Quanto mais tempo ficavam com ela, mais pagavam,
O negócio tomou outra proporção quando o garoto se mudou para o Rio de Janeiro, no início dos anos 1970. Foi aí que percebeu que as raridades de sua coleção poderiam ser vendidas a preços interessantes na praia de Copacabana. Transferido para São Paulo em 1978, Guerrinha pôde enfim abandonar seu trabalho em um supermercado para viver só de "Playboy". A cada edição, ele compra cerca de cem exemplares de amigos comerciantes, que lhe dão desconto de 30%.
Ao todo, são mais de 8.000 "Playboys", que deram a ele o título de maior colecionador do Brasil. Em breve, Guerrinha espera entrar no "Guinness" pelo recorde mundial. Uma ironia do destino, já que ele sempre se considerou um sujeito "católico e conservador". "Já até me separei da minha mulher por causa da 'Playboy'. Ela disse: 'Ou eu ou a Playboy'. Escolhi a 'Playboy', mas me arrependi e pedi para voltar. Eu sou homem de uma mulher só. Fazer o quê? É a vida."
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