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Batuqueiros nus encerram peça com cena impactante no Festival de Curitiba

Miguel Arcanjo Prado

Colaboração para o UOL, em Curitiba

25/03/2016 14h43

Cinco dezenas de artistas nus batucando em panelas impressionaram o público do 25º Festival de Teatro de Curitiba, no espetáculo piauiense "Batucada", dirigido por Marcelo Evelin. Na noite de quinta-feira (24), quando a montagem fez a segunda e última das duas sessões no evento, o público que aguardava na fila em frente ao Espaço Cult, no centro histórico curitibano, demonstrava ansiedade.

Assim que entrou no espaço, o público foi misturado aos 50 artistas, dez da equipe de Evelin e outros 40 selecionados pelo diretor em Curitiba, ainda vestidos, mas mascarados. Eles começaram a tocar as panelas de modo ritmado. Voando pelo ar, balões de gás hélio em formato de coração vermelho alcançavam o teto. Muitos expectadores agarraram os balões pelas fitinhas, acompanhando a performance com as bexigas amarradas nas mãos, numa imagem que remeteu a parques infantis.

O público se dividiu entre a pista e os camarotes superiores do Espaço Cult, mas os artistas/instrumentistas transitaram por todos os espaços, fazendo com que seus corpos roçassem propositadamente ao dos espectadores enquanto tocavam. Em determinado momento, enquanto o som percussivo era acompanhado em transe pelo público, os artistas se despiram, não deixando de executar seu barulho rítmico, ao que muitos espectadores dançavam em ritmo frenético.

Diante da nudez, muitos espectadores retiraram seus celulares para fotografar e até mesmo gravar os corpos nus. Os rostos dos artistas permaneceram todo o tempo cobertos por máscaras, ficando apenas seus corpos para o deleite de olhares curiosos.

Silêncio não é suportado

Em determinado momento, os artistas pararam de tocar. Não suportando o silêncio e já imersos no ritmo proposto anteriormente, muitos espectadores continuaram os batuques utilizando seus próprios corpos e palmas, no que os artistas permaneceram inertes, nus e em silêncio.

Houve até quem gritasse na plateia "não vai ter golpe", em referência à turbulência política no Brasil. Mas logo o público se cansou de tocar seu próprio batuque, aplaudiu e nada aconteceu. O silêncio então imperou.

Só então os performers retomaram sua batucada, partindo à entrada do Espaço Cult, de onde saíram nus e invadiram as ruas de pedra do largo da Ordem, onde se atiraram no chão, com rostos cobertos virados para baixo. Para sair do espaço, o público teve que passar pelos corpos jogados ao piso frio, numa imagem impactante.

Reações

O jornalista André Nunes achou a proposta "inusitada". "Achei interessante dialogar com a cidade ao final", opinou. A servidora pública Silvania Morais saiu impactada: "Estou sem palavras. É excepcional".

Para o estudante de teatro Eduardo Piras Neto, "a nudez é um tabu e eles quebram isso com muita música". "Acho que, como eles motivaram o som o tempo todo, quando parou, o público não conseguiu se segurar, querendo que o batuque continuasse".

O artista circense Matias Donoso definiu a batucada do espetáculo como "um mantra". "O espetáculo traz uma energia que continua dentro de você. A galera não consegue resistir".

Diante de tantas visões, Marcelo Evelin define sua peça como "um acontecimento performático" do qual "o público também faz parte". "Nos debruçamos sobre a tarefa de empregar ideias e dinâmicas de convivo humano, e nos concentramos em como o corpo se torna um meio de expressão no espaço público. Os participantes se misturam e se transformam um no outro", definiu.