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Este país não é para principiantes: Livros ajudam a entender o Brasil

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/03/2016 06h00

O Brasil vive um momento de extrema conturbação política. Se muita gente acredita ter certeza de qual é o caminho certo a seguir –sejam lá quais forem esses caminhos–, outros reverberam a famosa frase de Tom Jobim, de que "o Brasil não é para principiantes", e assumem que a realidade é complexa demais para ser resolvida com atos simplistas e opiniões preconcebidas.

Singer - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Os Sentidos do Lulismo", de André Singer
Imagem: Reprodução

Uma via relativamente segura para se arquitetar um conhecimento mais sólido sobre qualquer assunto sempre foram os livros, mas o momento que o país vive é tão singular que nem essas publicações andam dando conta de explicar completamente o que se passa. Ao menos é o que defende o filósofo e cientista político Pablo Ortellado. “Nosso mercado editorial não responde rápido à conjuntura política”, diz.

Ainda assim, há opções para ir além do superficialismo que domina boa parte dos noticiários e da internet. O próprio Ortellado, por exemplo, indica alguns títulos. Em "Os Sentidos do Lulismo", o cientista político André Singer analisa como as classes baixa e média do país se relacionaram com Lula após seu primeiro mandato, enquanto “Dilma Rousseff e o Ódio Político”, do psicanalista Tales Ab'Saber, tenta captar as razões de nossa atual crise enquanto ela ainda acontece. No entanto, o cientista político indica que talvez o melhor seja procurar por “artigos analíticos mais longos”.

20 Centavos - Reproodução - Reproodução
Capa do livro "20 Centavos", de Elena Judensnaider, Luciana Lima, Marcelo Pomar, Pablo Ortellado
Imagem: Reproodução

Rogério de Campos, editor da Veneta e com uma história fortemente atrelada às lutas da esquerda, por sua vez, indica outros dois títulos: “A Revoada dos Galinhas Verdes”, de Fúlvio Abramo, e “20 Centavos”, de Elena Judensnaider, Luciana Lima, Marcelo Pomar e do próprio Ortellado. O primeiro relata como anarquistas, comunistas, socialistas e outros grupos se uniram para enfrentar o fascismo por aqui, provocando “o maior enfrentamento de rua de esquerda contra a extrema-direita na história do Brasil”, explica Campos. Já o segundo é uma narrativa que “descreve de maneira bem detalhada as manifestações de junho de 2013, que praticamente inauguraram o novo momento político brasileiro”, argumenta.

Como viemos parar aqui?

Holanda - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda
Imagem: Reprodução

Para se entender esse momento que vivemos, não há dúvidas de que é preciso olhar para a história do Brasil. É nessa linha que o jornalista e escritor Humberto Werneck faz a sua contribuição. “Penso em 'Raízes do Brasil', do historiador Sérgio Buarque de Holanda, e 'Casa-Grande e Senzala', do sociólogo Gilberto Freyre, como leituras indispensáveis para o entendimento das estruturas sociais brasileiras. Tem também o 'Os Donos do Poder', do jurista e sociólogo Raymundo Faoro, sobre as estruturas de poder no país”.

“Raízes do Brasil” é um clássico de 1936 que encara a história do país para tentar entender a formação de sua sociedade. Já “Casa-Grande e Senzala”, outro clássico, este de 1933, também fala sobre a formação do nosso povo, mas olhando principalmente para a miscigenação e a dominação dos brancos sobre negros e índios, dentre outros que até hoje permanecem como minorias políticas. “Os Donos do Poder”, por sua vez, foi lançado em 1958 e já falava da dificuldade que nossos mandatários têm de separar os interesses públicos dos privados.

Shakespeare - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Rei Lear", de William Shakespeare
Imagem: Reprodução

Seguindo a linha histórica, há outros títulos que podem ser preciosos. Atentando-se ao aspecto político, a trilogia “Getúlio”, de Lira Neto, traz a biografia de Getúlio Vargas, presidente do Brasil entre 1930 e 1945 e 1951 e 1954, história com diversos elementos em comum ao que temos hoje –entre outras coisas, a crise pela qual o país passava levou o homem a se suicidar. Já sobre a trajetória da nação, vale se debruçar sobre “Brasil, uma Biografia”, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloísa Starling, ensaio no qual as autoras propõem uma interpretação para a história do país, olhando para elementos como manifestações culturais, ciclos econômicos e conflitos sociais.

Por fim, para entender as relações de poder que dominam completamente nossa política, talvez a leitura da obra de William Shakespeare seja o melhor caminho. Quem quiser uma ajuda para entender o paralelo que há entre a realidade tupiniquim e títulos como “Rei Lear”, “Macbeth” e “Ricardo 3º”, pode recorrer à série “Saideira Literária”, disponível no Youtube, na qual o crítico literário e professor universitário João Cezar de Castro Rocha explica didaticamente como algumas obras do bardo se aplicam ao cenário contemporâneo.

Depois disso tudo, talvez fique um pouco mais fácil de compreender este momento que vivemos.