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Livro de Stephen King que apresenta Bill Hodges chega ao Brasil após 2 anos

Stephen King, mestre do terror e autor de títulos como "Carrie, A Estranha" e "O Iluminado" - AP
Stephen King, mestre do terror e autor de títulos como "Carrie, A Estranha" e "O Iluminado" Imagem: AP

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/03/2016 06h00

Em 2014, Stephen King apresentava ao mundo Bill Hodges, um policial recém-aposentado atordoado por um único crime que não desvendou ao longo da carreira. O livro "Mr. Mercedes" era o primeiro volume da chamada "Trilogia Bill Hodges", dois deles já lançados lá fora e um ainda inédito, que sairá em junho. Com o mesmo título da versão em inglês, "Mr. Mercedes" chega esta semana nas livrarias brasileiras, com dois anos de atraso.

"Nós decidimos publicar a trilogia toda mais perto da conclusão do lançamento lá fora", disse ao UOL Beatriz D'Oliveira, editora da Suma das Letras, responsável pela obra no Brasil. "Vamos lançar os três livros este ano, com pouco intervalo. O 'Achados e Perdidos' [segundo volume, lançado em junho de 2015] sai aqui em maio, e 'O Último Turno' [terceiro volume, previsto para 7 de junho lá fora] sai aqui em julho, só um mês depois do lançamento americano".

Para aqueles que esperam mais uma narrativa repleta de elementos sobrenaturais, reveja as expectativas. O extraterreno não faz parte de "Mr. Mercedes", mas não quer dizer que o terror não esteja presente no trabalho que valeu ao autor, em 2015, o prêmio Edgar Award na categoria melhor thriller.

"Mr. Mercedes" - Divulgação - Divulgação
Capa do livro "Mr. Mercedes", lançado pela editora Suma das Letras
Imagem: Divulgação

Na obra, Bill Hodges é apresentado como o policial recém-aposentado que ainda segue atormentado por um crime: uma Mercedes prata que avançou duas vezes sobre uma fila de desempregados em uma cidade do Meio-oeste dos Estados Unidos, deixou muita gente ferida e oito mortos, e cujo motorista jamais foi pego. Quando Hodges recebe uma misteriosa carta assinada por alguém que se denomina o "Assassino do Mercedes", rompe com sua letargia e resolve enveredar novamente na busca pelo culpado daquelas mortes que o perturbam.

"Existe terror em 'Mr. Mercedes'. Começa pelo fato de que não se trata de um livro policial em que o grande mistério é descobrir quem é o assassino. Pelo menos não para o leitor. Sabemos quem é o assassino desde o começo. King narra o ponto de vista dele. O fato de que esse homem é jovem, inteligente, dissimulado e absolutamente sádico cria um clima tão tenso quanto em qualquer das obras de terror sobrenatural do autor", diz Beatriz D'Oliveira, referindo-se ao vilão realístico construído pelo autor, que pode ser qualquer pessoa tida como comum, que esbarramos cotidianamente pela rua.

Ao comentar os recursos narrativos da obra, Beatriz exalta as vozes criadas pelo autor para contar a história e a maneira que os personagens são construídos. "Embora, a princípio, você pense que não tem nada em comum com um detetive aposentado, idoso e deprimido, você logo descobre que na verdade tem, sim. E ele é ótimo em descrever 'detalhes reais' de uma vida fictícia. Acho que é isso que cria essa conexão em um nível mais profundo".

Desafios da obra de King

Aprofundando-se ainda mais nos recursos utilizados por King, Regiane Winarski, responsável por traduzir "Mr. Mercedes" do inglês para o português, comenta que a maneira que o autor lida com as novidades é uma das complicações que quem verte o texto para outra língua precisa enfrentar. "Uma das dificuldades e méritos nos livros de Stephen King é que ele usa muito a linguagem coloquial e se mantém muito atualizado com o mundo moderno, gírias, expressões e tecnologias. Isso faz com que o tradutor precise sempre pesquisar e estar atento aos mínimos detalhes. No caso específico de 'Mr. Mercedes', precisei ler muito, em inglês e em português, sobre tecnologias que interferem no funcionamento de portões e chaves eletrônicas, e sobre computadores".

Para Regiane, o maior desafio no trabalho sobre a obra é quando aparece a carta que o provável assassino envia ao policial aposentado, logo no início da história. "Essa carta é examinada e esmiuçada depois em busca de pistas e dicas que levem à identidade do assassino. O autor usa uma série de marcadores, como letras maiúsculas, hifens, sublinhados, erros propositais de ortografia e jogos de palavras, que precisei tomar um cuidado enorme para manter na hora de passar tudo para o português".

E a incursão de King no trhiller policial parece ter agrado bastante os fãs. Em texto publicado no blog da Companhia das Letras, grupo do qual a Sumus faz parte, Boni Neto, responsável pelo site "King of Maine", um dos maiores endereços brasileiros dedicados ao norte-americano, escreveu: "Além dos personagens muito bem construídos, o romance apresenta situações memoráveis que deixa o leitor ansioso para virar a próxima página, mas, ao mesmo tempo, cauteloso para não perder um detalhe sequer. É um livro ideal para os amantes do suspense que pode ser lido independentemente de ter acompanhado a carreira do autor". Palavra de fã.

Leia um trecho de "Mr. Mercedes":

Calmamente, como se não tivesse usado o paletó para cobrir o braço decepado da mulher que ele amava menos de três horas atrás, Hodges resume o que Jerome descobriu sobre o chupa-cabra, apresentando como se ele mesmo tivesse pesquisado. Ele conta que foi até o apartamento da Lake Avenue para entrevistas a mãe de Olivia Trelawney ('Se ela ainda estivesse viva, pois eu não tinha certeza') e encontrou a irmã de Olivia, Janelle, morando lá.

Ele deixa de fora a visita à mansão de Sugar Heights e a conversa com Radney Peeples, o segurança da Vigilant, porque isso poderia levar a perguntas que ele teria problemas em responder. Vão acabar descobrindo, mas ele está perto do Mr. Mercedes agora, sabe disso. Só precisa de um pouco mais de tempo.