Prêmios e indicações impulsionam espetáculos, afirmam diretores
Na cena teatral paulistana, sempre repleta de mais de uma centena de espetáculos ao mesmo tempo, receber um prêmio ou mesmo uma indicação é motivo de comemoração para artistas. As menções despertam atenção do público e de profissionais, dando sobrevida às montagens, afirmam diretores.
O prêmio destaca uma peça em "um mar sempre plural e caudaloso", como define o diretor Rafael Gomes, de "Um Bonde Chamado Desejo", com quatro indicações ao Prêmio Shell de Teatro e que levou o tradicional Prêmio APCA de melhor atriz para Maria Luísa Mendonça. A obra volta ao TUCA em 23 de janeiro.
"Para o público, o prêmio funciona como uma recomendação, como um amigo que tenha visto e esteja apontando determinados aspectos dos quais gostou", diz Gomes.
Vinicius Calderoni, indicado ao Prêmio Shell de melhor autor com sua peça "Ãrrã", pondera que prêmios chamam a atenção dos programadores, lembrando que "é muito grande a concorrência para ocupar teatros em São Paulo". Para ele, "prêmios são importantes para ajudar na longevidade de um espetáculo, porque funcionam como chancela e chamam a atenção de um público mais abrangente e de muitos colegas da classe teatral, aguçando a curiosidade de todos".
Mais tempo em cartaz
No teatro infanto-juvenil não é diferente. Carla Candiotto, diretora da peça "Cinderela Lá Lá Lá", que levou o último APCA de melhor espetáculo adaptado de conto clássico e segue em cartaz no CCBB-SP, diz que o troféu "reconhece a qualidade da Cia. Le Plat du Jour", que adapta literatura infantil para os palcos de forma irreverente há 15 anos. "Fica mais fácil manter um espetáculo premiado em cartaz", ela diz. "Por exemplo, o espetáculo 'Chapeuzinho Vermelho', que foi criado em 2001 e recebeu o APCA continua em cartaz até hoje", lembra.
O mesmo acontece com a premiada Cia. Vagalum Tum Tum, também dedicada ao público infanto-juvenil com textos de Shakespeare. A peça "Bruxas da Escócia", que em 2014 abocanhou o APCA, o Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem (antigo Prêmio Femsa) e ainda foi indicada ao Prêmio Governador do Estado na categoria arte para crianças, segue em turnê. Seu diretor, Angelo Brandini, reforça a qualidade destes prêmios. "Os jurados dessas premiações que recebemos são altamente qualificados e conferem credibilidade aos contemplados. As premiações acabam por servir de referência para o público e contratantes".
Este também é o caso da peça jovem "O Alvo", indicada ao Prêmio São Paulo de 2015 e que volta dia 13 de fevereiro no Teatro da Vila do Shopping JK Iguatemi. "O maior desafio para longevidade dos espetáculos é o acesso ao público. Prêmio aguça a curiosidade do espectador", diz o diretor Pedro Garrafa. "No cenário atual, onde espetáculos têm história curta, seja por falta de patrocínio ou de público, indicações nos estimulam a lutar por novas investidas e contar nossa história para mais gente", complementa.
Miguel Rocha, diretor de "A Inocência do que Eu Não Sei", que volta ao cartaz em maio no Teatro Maria José de Carvalho após receber duas indicações ao Prêmio São Paulo, concorda que "prêmios ampliam a divulgação de um trabalho, alcançando um maior número de pessoas que possam se interessar em ver o espetáculo".
Ricardo Ripa, diretor do infanto-juvenil "O Corcunda Quaquá", que voltou ao cartaz no Teatro Folha e deu o Prêmio São Paulo de ator coadjuvante a Carlos Baldim, lembra que num cenário em que "sair no roteiro já é uma conquista", conseguir uma indicação ou prêmio é uma vitória. Porém, não considera os prêmios justos. "Os jurados não conseguem assistir tudo e priorizam o que está em evidência. Então, espetáculos com maior orçamento e mídia conseguem mais destaque", aponta.
De volta ao teatro adulto, Paulo Faria, diretor do musical "Luz Negra", com o grupo Pessoal do Faroeste e Mel Lisboa no elenco, contemplado com a Lei do Fomento da Cidade de São Paulo, apesar de reconhecer "o aumento da visibilidade" trazido pelos prêmios, lembra que estes por si só não garantem a permanência de uma peça: "O que garante isso é a relação da obra com o público", diz. E reforça o grande motivo da permanência de sua peça em 2016 é "a ocupação política e social" que o grupo faz na região da Luz.
"Não gosto de prêmios"
Há também artistas com discurso contundente em relação aos prêmios. Caso de Ron Daniels, diretor de "Repertório Shakespeare", em cartaz no Sesc Vila Mariana e indicado aos prêmios Aplauso Brasil e APCA. "Não gosto de prêmios. Detesto as listas dos melhores do ano. Não faço teatro para ser considerado melhor ou pior do que os outros que também fazem teatro", afirma. Mesmo não incentivando a competição, o diretor admite que "toda e qualquer publicidade, qualquer maneira de estimular o interesse do público, é essencial para a sobrevivência do próprio teatro".
O diretor Pedro Granato tem discurso semelhante: "Deixemos o pódio e o ranking para as Olimpíadas. Precisamos de pluralidade", declara. Sua peça, "Fortes Batidas", levou o APCA de melhor espetáculo em espaço não convencional e o Prêmio Especial do Prêmio São Paulo pela experimentação de linguagem. A obra reestreia dia 29 de janeiro no Sesc Santo Amaro, mas o diretor reforça que fez três temporadas anteriores a qualquer indicação ou patrocínio.
"O prêmio ganha um valor de diferenciação para instituições, imprensa e até para uma disputa de vaidades entre os próprios artistas, o que é perverso, já que nossa atividade não é uma competição. Uma peça não pode ficar em cartaz só para tentar ganhar prêmios, mas tem que ganhar prêmios por ficar em cartaz e promover algo importante para as pessoas e para nossos dias", declara Granato, antes de completar: "A função do artista não é só agradar".
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