Museu da Língua Portuguesa é reconhecido pela tecnologia e acervo digital
Reconhecido pela sua inovação, o Museu da Língua Portuguesa pode ter perdido grande parte dos equipamentos de alta tecnologia no incêndio de grandes proporções que acontece na tarde desta segunda-feira (21) —dia da semana em que o Museu não abre para visitação.
Localizado no prédio histórico da Estação da Luz, tombado em 1982, o museu tem aproximadamente 4 mil metros quadrados e era famoso pela tecnologia que aprofundava a interação com o público, centralizada no segundo e terceiro andar —cuja cobertura chegou a ceder durante o incêndio.
Totens e painéis eletrônicos interativos tomavam todo o espaço do segundo pavimento, como a linha do tempo da história da Língua Portuguesa, e as salas Palavras Cruzadas, Mapa dos Palavras e Beco das Palavras, um grande painel que permite os usuários a criar palavras e conhecer seus significados.
O pavimento ainda contava com uma grande galeria com uma tela de 106 metros de extensão para projeção de filmes.
No terceiro andar, o destaque é a Praça da Língua, que costuma encerrar os passeios. Considerado como “planetário da Língua”, a sala usava tecnologia para projetar imagens nas paredes e no teto, guiadas por áudio sobre literatura, com curadoria de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski.
A escultura de metal “Árvore de Palavras”, de 16 metros de altura, dá as boas vindas aos espectadores no primeiro andar do Museu, onde fica a administração, uma sala de 50 lugares e as exposições temporárias.
Desde outubro, o Museu recebia a mostra “O Tempo e Eu e Vc – Câmara Cascudo no Museu da Língua Portuguesa”, que explorava o universos do etnógrafo e escritor Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Dividindo o espaço no primeiro pavimento desde o último dia 15, a mostra “Esta Sala é uma Piada” trazia 100 obras entre charges e caricaturas, exemplos dos trabalhos do reconhecido Salão Internacional de Humor de Piracicaba. A exposição estava programada para ficar em cartaz até dia 28 de fevereiro.
A curadora do Museu, Isa Ferram, afirmou à Globonews que o acervo das pesquisas sobre a Língua Portuguesa, base do Museu, está salva digitalmente, mas os equipamentos devem ter sido atingidos pelo fogo.
“Com o calor do fogo, acho que vamos perder muitos equipamentos, temos que esperar para ver se o terceiro andar foi atingido, que é onde estavam centrada as experiências mais fortes”, disse.
“O acervo tem cópias de tudo que estava lá dentro, a Fundação [Roberto Marinho] deve ter tudo em cópias. Vamos ter um trabalho enorme, temos uma linha do tempo enorme sobre a evolução da língua, mas tudo isso pode ser recuperado, sim”.
A digitalização deve facilitar a reconstrução do Museu, conforme mencionado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no local: "Tenho absoluta convicção que a população de São Paulo tem por esse que era um dos mais visitados museus, que traduz a alma do povo brasileiro, será reconstruído. Vamos imediatamente tomar todas as providências, unir a iniciativa privada, nossos parceiros para a sua reconstrução", disse.
5° mais visitado
Criado em 2006 por uma equipe de pesquisa de mais de 30 profissionais, entre eles sociólogos, museólogos e especialistas em língua portuguesa, avaliada na época em aproximadamente R$ 37 milhões, o Museu da Língua Portuguesa teve exposições de grande repercussão, como a mostra dedicada a obra “Grandes Sertões: Veredas”, de Guimarães Rosa, no ano de sua abertura, sob curadoria de Bia Lessa.
Em 2007, a escritora Clarice Lispector ganhou uma mostra bastante elogiada por transformar parte do prédio em um imenso gaveteiro. Em 2012, o destaque ficou com "Fernando Pessoa, Plural como o Universo" e, em 2013, o local abriu as portas para uma imersão no cancioneiro de Cazuza, com a mostra “Cazuza Mostra Sua Cara”.
Em 2014, o Museu da Língua Portuguesa foi o quinto museu mais visitado da capital paulista, com 386.798 visitantes.
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