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Frida Kahlo é o novo Che? Mostra em SP vai além da monocelha famosa

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

23/09/2015 09h56

Flores sobre os cabelos e sobrancelhas unidas. Assim como acontece com outros ícones pop, como Chaplin, Marilyn Monroe e Che Guevara, bastam poucos elementos para compor a imagem da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), que ganha exposição em São Paulo a partir de 27 de setembro

Para a curadora da mostra, a fama da artista, que estampa desde camisetas até bandeiras de movimentos sociais, pode fazer com que muitos se interessem por seu nome, mas também traz o perigo de que a aproximação fique apenas nos ímãs de geladeira e fantasias de Carnaval.

É "inevitável" que Frida se torne um ícone pop, diz a pesquisadora Teresa Arcq, que traz a exposição ao Instituto Tomie Ohtake. Para ela, as próprias características da obra da mexicana fazem com que sua imagem e vida ganhem tanto destaque. O desafio, contou ela ao UOL, é conseguir um equilíbrio justo ao ressaltar a importância e influência de sua obra, que exaltou a arte tradicional mexicana e influenciou muita gente com isso.

“Exposições podem fazer com que as pessoas conheçam outros aspectos da vida de Frida, não só o de ícone pop, mas, de certa forma, isso é inevitável", diz ela. E explica: "Além de pintora, ela já se pronunciava como feminista. Era uma mulher muito livre, que vivia de acordo com seus próprios princípios. E isso foi o que a transformou em uma figura muito atrativa para diversos movimentos, que começaram a difundir seu trabalho a partir dos anos 70 e 80”.

“Frida fazia pinturas sobre ela mesma [das 143 obras da artista, 55 são autorretratos]. O problema é que às vezes se dá muito mais importância a sua vida do que à obra. É difícil encontrar um equilíbrio justo. A proposta da exposição é justamente mostrá-la como artista muito influente no desenvolvimento da arte no México”, completa.

Além de pintora, ela já se pronunciava como feminista. Era uma mulher muito livre, que vivia de acordo com seus próprios princípios. E isso foi o que a transformou em uma figura muito atrativa para diversos movimentos.
Teresa Arcq curadora da exposição "Frida Kahlo - Conexões entre Mulheres Surrealistas no México"

Diversas biografias falam da liberdade sexual da pintora que, assim como seu marido, o artista Diego Rivera, também mantinha casos extraconjugais. Um deles com o líder da revolução russa, Leon Trótski, na década de 1930. “Ela foi também a primeira a romper a linha divisória entre o público e o privado. Atreveu-se a pintar imagens de si tendo um aborto, representação de algo muito privado. Foi uma mulher à frente de seu tempo em uma sociedade conservadora e católica, como era o México nesse momento”.

Os abortos sofridos por Frida estavam ligados a sua fragilidade óssea causada pelo grave acidente de ônibus que sofreu aos 18 anos de idade. Obrigada a ficar meses imobilizada em uma cama, Frida começou a dar suas primeiras pinceladas. A dor e o sofrimento eram quase sempre protagonistas das pinturas. “A obra de Frida é relevante até hoje porque faz referência às emoções humanas, que podem se situar em qualquer momento histórico. É uma obra que não está ligada necessariamente a um movimento artístico”, avalia a curadora.

Quem for à exposição no Tomie Ohtake não se deparará somente com obras de Frida, mas também com trabalhos de outras 15 mulheres que direta ou indiretamente foram influenciadas pela mexicana. Essa rede de influências só pôde ser costurada graças ao acervo mantido por Diego Rivera, aberto somente em 2004.

Na casa que dividia com Frida, Rivera havia armazenado documentos, fotografias, cartas e objetos pessoais, e determinou que o cômodo ficasse trancado até 15 anos após sua morte. A reabertura, no entanto, só aconteceu 35 anos após o prazo, quando o local foi transformado em museu. “Por amizade com as pintoras ou influências, os quadros escolhidos para participar da exposição têm alguma relação com Frida”, conta Teresa.

Serviço

Frida Kahlo - Conexões entre Mulheres Surrealistas no México
Quando: De 27 de setembro de 2015 a 10 de janeiro de 2016. Visitação de terça a domingo, das 11h às 20h (bilheteria até as 19h)
Duas sessões por dia:
- das 11h às 15h30 (entrada até as 15h);
- das 16h às 20h (entrada até as 19h).
Onde: Instituto Tomie Ohtake - Av. Brig. Faria Lima 201 (Entrada pela rua Coropés 88), Pinheiros. Metrô mais próximo - Estação Faria Lima/Linha 4 - amarela 
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (crianças até 10 anos, cadeirantes e deficientes físicos a entrada é gratuita todos os dias da exposição); às terças-feiras, a entrada é gratuita para todos
Vendas: pelo site ingresse.com ou na bilheteria do Instituto de terça a domingo, das 10h às 19h.