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Autor de "O Segredo dos Seus Olhos" vai falar de futebol e cinema na Bienal

O escritor argentino Eduardo Sacheri, autor de "O Segredo dos Seus Olhos" - Divulgação
O escritor argentino Eduardo Sacheri, autor de "O Segredo dos Seus Olhos" Imagem: Divulgação

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/09/2015 07h00

Vencedor do Oscar 2010 de melhor filme estrangeiro, "O Segredo dos Seus Olhos" (2009), estrelado por Ricardo Darín e dirigido por Juan José Campanella, é uma adaptação do livro "La Pregunta de Sus Ojos" (2005), escrito por Eduardo Sacheri. E foi o longa também que passou a servir como uma locomotiva para puxar toda a obra do autor argentino. "Fez muito sucesso na Argentina e me deu grande visibilidade em todo o país. O cinema tem uma massividade enorme se comparado aos livros. Depois que ganhou o Oscar, veio outro grande impacto, e dessa vez fora da Argentina", disse Sacheri ao UOL.

Se o escritor passou a ser conhecido sobretudo por conta dessa adaptação, a presença do futebol, por outro lado, é constante em sua produção. Tanto que no dia 11 de setembro ele estará na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro como convidado da delegação argentina --país homenageado desta edição do evento-- para conversar sobre o esporte com os escritores Claudia Piñeiro, Eduardo Moutinho e Flávio Izhaki na mesa "As Pátrias de Chuteiras: Literatura e Futebol". Antes disso, Sacheri participa nesta quarta-feira (9) de outro papo, sobre cinema e literatura.

Eduardo Sacheri - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "O Segredo dos Seus Olhos", do argentino Eduardo Sacheri
Imagem: Reprodução

"O futebol é muito importante tanto na minha obra quanto na minha vida. É meu jogo favorito, como de quase todos argentinos, e que me permite estabelecer um vínculo com coisas mais importantes. Eu gosto de jogar, assistir, seguir o meu time. Fazia isso com meu pai, agora faço com meus filhos. O futebol em si é só um jogo, mas possibilita que eu ascenda a coisas muito mais profundas e definitivas", afirma Sacheri.

Essas ascensões estão presentes em seus romances e livros de contos, como "Esperándolo a Tito", "Te Conozco, Mendizábal", "Lo Raro Empezó Después", "Un Viejo que se Pone de Pie", "Los Dueños del Mundo" e "Papeles em el Viento". Outro, intitulado "La Vida que Pensamos", é dedicado ao seu clube de coração, o Independiente, maior vencedor de Libertadores da América com sete títulos, mas que vive um momento de poucas glórias.

Sacheri afirma que gosta muito de ver a seleção brasileira jogar, mas que não assisti a muitos jogos de times brasileiros porque os campeonatos não são transmitidos na Argentina, mas revela seu carinho pelo Grêmio. "Ganhamos nossa última Libertadores em cima deles, que tinham uma grande equipe. Essa é uma boa lembrança", justifica, evocando a final de 1984.

Cansado de fanatismo

O argentino recorda que, quando esteve no Brasil em outras ocasiões, muitos leitores pediam autógrafos em versões em espanhol de seus livros de contos sobre futebol. E diz que acha uma pena essas obras não estarem editadas em português --por aqui, há traduções apenas de "O Segredo dos Seus Olhos" e o infantil "Um Time Show de Bola", que também virou filme nas mãos de Campanella. "Lamento porque parece que há um universo cultural compatível com o que o esporte significa para nós", diz ele, que tem trabalhos vertidos para mais de 20 idiomas.

Por outro lado, admite que conhece pouco da literatura brasileira contemporânea. "O que falei dos times daí poderia também falar da literatura. Não sei se é por conta da barreira idiomática, mas é praticamente impossível encontrar livros de novos autores brasileiros traduzidos para o espanhol. E parece que as pessoas que têm o espanhol como idioma natal sentem muito mais dificuldade de compreender o português do que o contrário".

Sacheri diz que, caso tivesse mais acesso a nossos autores, pudesse levá-los para o rádio. É que o escritor tem uma coluna no programa "Perro de la Calle", bastante conhecido na Argentina, na qual compartilha suas impressões sobre o que anda lendo com os ouvintes. Formado em história, ele também leciona a matéria duas vezes por semana para alunos entre 15 e 17 anos, atividade que diz servir, sobretudo, para que se "enriqueça como pessoa".

É esse enriquecimento, ao seu ver, que falta a muita gente. Em sua descrição no Twitter, Sacheri diz estar "cansado dos fanáticos". Ao explicar a frase citando seus compatriotas, parece atingir o universal tão almejado por escritores. "Isso tem mais a ver com o mundo da política na Argentina, mas também poderia ser aplicado ao futebol. Nasce da falta de habilidade aqui para viver sem nos agredirmos. Os fanáticos me atormentam porque são pessoas muito agressivas, incapazes de ver a humanidade do outro".