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"O brasileiro não vai nem em reunião de pais", diz Laurentino Gomes

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL, no Rio

07/09/2015 20h41

“O brasileiro não participa da política, de partidos, de sindicato, de organizações comunitárias, da reunião de pais, da reunião de condomínio e espera tudo do estado. Quando alguém pede a ditadura na internet, é como pedir por um pai que resolva os problemas que não conseguimos resolver. Isso é uma herança monárquica”, disse o escritor Laurentino Gomes na conversa que teve há pouco com leitores na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

Autor dos livros “1808”, “1822” e “1889”, que reconstroem momentos essenciais para a construção do estado nacional, o jornalista afirmou que o imperador Dom Pedro II continua sendo uma figura bastante presente no imaginário dos brasileiros. “Existe uma nostalgia com relação a ele, o povo ainda espera um salvador, alguém que irá levar um país a um novo patamar, resolver todos os problemas”, afirmou, referindo-se ao atual momento político pelo qual o Brasil atravessa.

“Dom Pedro estava com dor de barriga”

No entanto, neste dia 7 de setembro, o que dominou boa parte da conversa foi a proclamação da independência. Laurentino fez questão de desmistificar a pompa em torno do grito de Dom Pedro à beira do Ipiranga. “Ele não estava tão próximo do riacho, estava vestido como um tropeiro, o cavalo era um animal de carga, não um alazão e a guarda de honra ainda não existia”, explicou. “Além disso, o Dom Pedro estava com dor de barriga. Nessa circunstância que ele fez o grito”, completou, contradizendo a interpretação da cena criada pelo pintor Pedro Américo no clássico quadro “Independência ou Morte”, muito presente no imaginário dos brasileiros.

“Hoje é uma data simbólica. Existe uma construção mitológica em cima dos personagens e situações do passado. Vamos construindo versões, interpretações, crenças e valores... a forma como nós olhamos o passado o altera. O fato real é que no dia 7 de setembro de 1822, às 16h30, o então príncipe regente proclamou um rompimento com Portugal”, pontuou o escrito.

Laurentino ainda lembrou que aquele foi apenas mais um gesto em meio a tantos outros e disse que considera o Dia do Fico – em 9 de janeiro de 1822 – mais importante do que a data hoje celebrada. “No Dia do Fico o príncipe regente se recusa a voltar a Portugal e o Brasil se posiciona como uma nação autônoma”.

Outro fator a respeito da independência que o escritor fez questão de desmistificar foi com relação à suposta paz que permeou o momento histórico. “Dizem que foi tudo sem conflito, sem sangue, mas na verdade foi muito doloroso, morreram muitas pessoas. Houve guerra no norte e no nordeste. Estimo que tenham morrido entre 2 mil e 3 mil pessoas no processo de independência do Brasil, então não se pode dizer que foi exatamente pacífico”.

28 Comentários

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luiztatá

Caro Escritor Laurantino Gomes, li seus 03 livros, presente de uma de minhas filhas. Aprendi profundamente sobre esse período da historia pelo fato do Sr ter pesquisado outros livros de autores brasileiros e foi buscar conhecimento nos escritos de pessoas de outras origens que vivenciaram esses fatos aqui em nosso Brasil. Voltei a estudar e fiz faculdade com 58 anos junto com minha filha e sem colar. Falamos dos seus livros em Newfoundland Labrador quando estivemos junto com 05 jovens engenheiros brasileiros filhos de pessoas não afortunadas que trabalharam e estudaram com objetivo de sucesso. Viver na mesmice, falar mal do patrão, dizer que não tem oportunidades é conversa de pessoa acomodada. Aguardo com ansiedade o futuro lançamento de três livros sobre escravidão que o Sr estará escrevendo grande abraço, Luiz Camino.

Mendes de la Mancha

O brasileiro não participa de Nada, porque não tem reflexão sobre os problemas, não brasileiros, mas de cidadania e preocupação com seu país. O estigma de vira-lata lhe cai bem. Gasta o que não tem. Fala o que não sabe. Não se engaja em movimento nenhum: cultural, social, político ou de cidadania. Não lê porque não sabe interpretar. Não encena porque não sabe ler. Votar é um Deus nos acuda!! Vota no Ladrão por espírito do meio (veja S. Paulo), ou vota forçado porque o feijão sumiu e o pão escasseou de vez. Levanta uma bandeira quando lhe acenam o circo ou uma máquina fotográfica. Abraça os modismos sem os criticar. Se o movimento é humano, finge chorar; se é um movimento nazista, empunha uma arma e atira.... coitado.