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Autor de "Diário de um Banana" diz que nunca quis ser escritor infantil

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL, no Rio

06/09/2015 20h48

“Eu não me sentia mais muito 'banana' na escola, tinha alguém nos livros que compartilhava as coisas que eu vivia”, disse uma garota da plateia que acompanhou o papo com Jeff Kinney, autor de “Diário de um Banana”, no começo da noite deste domingo na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. A garota que sofria bullying no colégio encontrou na obra o personagem Greg Heffley, um companheiro que lhe ajudou a conviver ou superar a situação.

Greg protagoniza as histórias ilustradas da série que já vendeu mais de 5 milhões de exemplares pelo mundo – 500 mil deles no Brasil - está traduzida em 28 línguas e chegará à décima edição neste ano, quando, no dia 3 de novembro, “Diário de um Banana – Velhos Tempos” será lançado em todo o mundo. A popularidade de Greg é tão grande que o personagem já foi até transformado em balão gigante no desfile do Dia de Ação de Graças em Nova Iorque, algo diametralmente oposto à ficção, aliás, onde o garoto busca ser mais reconhecido dentre seus colegas.

Chargista frustrado

Para um público formado principalmente por pais acompanhando filhos pequenos, Kinney falou muito sobre sua trajetória até criar o best-seller. “Nunca quis me tornar um escritor de livros infantis, queria fazer charges para o jornal”, afirmou. “Na faculdade, comecei a desenhar meus próprios quadrinhos. Tinha um personagem esquisito, com um narigão, uma bocona e só um pouquinho de cabelo, para ser diferente mesmo. Depois descobri que existia um monte de personagens de quadrinhos quase carecas, como o Yellow Kid e o Charlie Brown”, lembrou.

Empolgado, escreveu a um quadrinista que admirava pedindo conselhos. Como resposta, recebeu uma carta e foi surpreendido quando viu sua criatura fazendo parte de uma tira de jornal, em uma espécie de homenagem. “Ali, descobri que era isso mesmo que gostaria de fazer”. Terminou sua faculdade – em direito criminal – e começou a procurar por oportunidades em periódicos. No entanto, era sempre recusado. “Quando você faz qualquer coisa em arte, precisa sempre esperar ser rejeitado antes de ser aceito. Os desenhos dos jornais eram muito profissionais e eu desenhava igual uma criança”.

Com o tempo, no entanto, o que era um problema se apresentou como uma solução a Kinney. “Como eu desenhava igual uma criança, poderia pensar igual uma criança. Aí criei um personagem que fazia desenhos no diário dele. Tudo que aconteceu de engraçado comigo quando era pequeno, colocava nessas folhas”, recordou. Dessa forma, passou quatro anos registrando suas memórias, que se transformaram em um calhamaço com 1300 páginas – ali estava a origem de seu sucesso mundial.

Mágica do livro

Na visão de Kinney, um bom quadrinista só precisa das cores preto e branco para desenvolver um bom trabalho e a raiz de tudo o que faz está nas ideias que desenvolve. “Sei que todo ano tenho que escrever 350 piadas, esse é um número suficiente para fazer um livro. E tenho um contador em cima de uma das portas de casa que vou atualizando sempre que crio algo. Às vezes fico lá sentado, só esperando que elas apareçam”, explicou sobre sua constante produção. Produção essa que toma outra dimensão depois que é impressa. “Você pode ver tudo na tela do computador, mas não há mágica ali. A mágica está no livro impresso”.

Ao falar sobre o Brasil, Kinney disse que ficou muito feliz quando conheceu pessoalmente a Xuxa - “sou muito fã, assistia ao programa dela quando estava na faculdade, lá nos Estados Unidos” -, em uma passagem anterior por aqui, e abriu a possibilidade de que Greg um dia venha ao país. “Ele precisa mesmo sair um pouco dos Estados Unidos”.