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Seis meses após BBB, Adrilles lança livro com apoio de Olavo de Carvalho

O escritor e jornalista mineiro Adrilles Jorge, que participou do "Big Brother Brasil 2015" - Divulgação/TV Globo
O escritor e jornalista mineiro Adrilles Jorge, que participou do "Big Brother Brasil 2015" Imagem: Divulgação/TV Globo

Rodrigo Casarin

Do UOL, em São Paulo

01/09/2015 18h27

Seis meses após ser eliminado da casa do "Big Brother Brasil", o poeta e jornalista mineiro Adrilles Jorge lança seu livro de estreia. "Antijogo" chega às livrarias neste mês de setembro pela editora Record, casa do editor Carlos Andreazza, que admitiu só ter prestado atenção no escritor após o programa da Rede Globo.

"Antijogo" é também o título de um dos poemas e, segundo Adrilles, faz uma referência à vida além do "BBB". "A desconstrução de vencedores e de vencidos é, e sempre foi, um banquete para os apetites poéticos. Não foi à toa que em minha eliminação do programa eu disse que o maior símbolo da cultura ocidental era a imagem de um homem aparentemente derrotado e humilhado em uma cruz. De Cristo para cá, pouca coisa mudou nas acepções de vitória e derrota", analisa Adrilles, em conversa com o UOL.

Adrilles Jorge - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Antijogo", de Adrilles Jorge
Imagem: Reprodução

Para o escritor, o programa foi um "exacerbador da realidade". "Toda atuação dentro de um jogo é forçada, caricata. Mas se você expandir a ideia, a vida é um jogo de atuação forçada, que se força para a busca de um sentido impalpável. A construção deste sentido é a ordem do jogo, ou a ordem do 'antijogo' que alguém faz na tentativa de se estabelecer uma nova forma de se jogar e de se viver", diz.

Poucos dos versos que compõem o livro foram escritos após o programa, mas Adrilles diz que muitos se relacionam com a maneira com que ele se apresentou no "BBB". De acordo com o escritor, são poemas sobre como as relações humanas e afetivas podem ser corrompidas por interesses em relação a si mesmo e aos outros; de como o afeto pode ser colocado em cheque pela desconfiança do nosso niilismo contemporâneo; de como vitórias podem se traduzir em fracassos enganosos; de como fracassos podem ser exemplos de um heroísmo, e não assimilado. "Tudo isto é universal e foi colocado hiper realisticamente no 'BBB', como esboço da vida aqui fora mesma", explica o escritor.

A obra reúne 137 poemas que versam sobre temas como amor, desejo e morte. O próprio autor define o livro como uma antologia poética com certa irregularidade, que ele diz ser proposital. "Há desde textos da minha adolescência até textos de agora. Em geral, um escritor tende a se reconhecer em suas obras mais recentes. Eu não fujo à regra. Em alguns poemas antigos, quase não me reconheço. Há outros em que me reconheço plenamente, em irritante demasia. O critério de escolha foi exatamente esse: o de tentar anular qualquer delicadeza em relação a mim mesmo enquanto autor".

Adrilles

  • Eu anoto ideias, intenções, escrevo poemas inteiros de um salto e maturo outros por dias. Ninguém é poeta todo o tempo; se 'está' poeta às vezes

Apoio de Olavo de Carvalho

A orelha de "Antijogo" traz um texto do filósofo Olavo de Carvalho. Por um lado, ele diz ser um trabalho "memorável, digno de ser guardado na memória"; por outro, ressalta que "nem todos os poemas deste livro são igualmente bons, mas nenhum é ruim e alguns são realmente muito bons".

A escolha de Olavo de Carvalho --pessoa de posição conservadora que se tornou uma espécie de guru da direita-- para assinar a orelha do livro partiu dos editores da Record, que também edita obras de Carvalho. "Além de um pensador extraordinário, ele é um dos últimos defensores do conceito de 'alta cultura' no país, aquela que desnuda os valores humanos mais intrínsecos para além das aparências. Talvez por crer que eu represente algum esforço de recuperação deste conceito no que escrevo, ele sempre prestigiou minha poesia desde muito antes do programa ['BBB']".

Adrilles se define como um "autor reativo", que escreve provocado pelo que lê e pensa, contestando a si mesmo e ao que está no seu entorno. Refuta o que chama de "inspiração indolente", aqueles que tentam tirar poesia de qualquer canto, a qualquer custo. "Eu anoto ideias, intenções, escrevo poemas inteiros de um salto e maturo outros por dias. A poesia sobrevive como epifania e brota da prosa do cotidiano. Por isso, ela deve ser vista como exceção enquanto criação, não como participação da poesia em tudo que há. Ninguém é poeta todo o tempo; se 'está' poeta às vezes".

Um vencido quando vence

Um vencido quando vence
desgosta da vitória
por não mais provar o gosto
do fruto do triunfo
que adoçava sua falta

Um vencido quando vence
novamente se derrota
por provar da memória
do sabor vindouro
da utopia da vitória

esta que agora apodrece
na colheira de sua insipidez


Título: "Antijogo"
Autor: Adrilles Jorge
Editora: Record
Páginas: 196
Preço: R$ 32