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Carolina Munhóz e Raphael Draccon: Conheça o casal da literatura fantástica

Os escritores Carolina Munhóz e Raphael Draccon, o casal da literatura fantástica nacional - Will Pauley/Divulgação
Os escritores Carolina Munhóz e Raphael Draccon, o casal da literatura fantástica nacional Imagem: Will Pauley/Divulgação

Rodrigo Casarin

Do UOL, em São Paulo

18/08/2015 16h56

A escritora Carolina Munhóz, 26, trabalhava em seu computador quando Paulo Coelho lhe chamou no Skype para perguntar: "Me explica quem é John Green?". Ele estava curioso com aquele nome que despontava no topo das listas de livros mais vendidos do Brasil. Carolina explicou quem era o norte-americano autor de sucessos como "A Culpa é das Estrelas" e "Quem é Você, Alasca?", e a resposta de Coelho foi sintomática. "Então ele é um dos nossos."

Carolina pode, sim, ser considerada do mesmo time de nomes como Green e Coelho: autores que fazem enorme sucesso, têm um público extremamente fiel e que conseguem viver apenas da venda de seus livros. O último da escritora, por exemplo, o recém-lançado "Por Um Toque de Ouro", ganhou duas tiragens de 10 mil exemplares antes mesmo da sua chegada oficial ao mercado. O trabalho anterior, "O Reino das Vozes que Não se Calam", escrito em parceria com a atriz global Sophia Abrahão --com quem está para lançar "O Mundo das Vozes Silenciadas"--, já havia sido figura constante entre os títulos mais vendidos do país. Sem falar que ela contabiliza cerca de 250 fã-clubes. "Sinto que tenho amigos", diz.

Se os números de Carolina já impressionam, os de seu marido são ainda mais superlativos. Ela é casada com Raphael Draccon, 34, outro importante nome da literatura fantástica e atualmente um dos maiores vendedores de livros no país. Sua trilogia "Dragões de Éter", por exemplo, já passou dos 200 mil exemplares comercializados e se tornou best-seller até mesmo no México. "Os livros de fantasia não são de momento, mas de cauda longa, que estão sempre vendendo quando o autor dá continuidade a sua carreira", afirma Draccon.

"Lidamos com um público que compartilha a paixão que sente pela gente, são propagandistas do nosso trabalho, espalham o que leem pelas redes sociais, emprestam os livros uns para os outros", analisa o escritor ao falar sobre como o público que atingem ajuda a conquistarem tanta audiência. "Outros gêneros não possuem um público tão feroz e apaixonado", completa Carolina.

Carolina Munhóz - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Por Um Toque de Ouro", de Carolina Munhóz
Imagem: Reprodução

Dragões e leprechauns

Em seu novo trabalho, Carolina deixa as fadas de outros livros para trás e começa a explorar um novo universo fantástico: o dos leprechauns. "Sempre trabalhamos muito e comentamos um com o outro: 'Depois dizem que isso tudo é sorte'. Eu nunca tinha visto um livro focado em leprechauns, daí pensei: 'E se realmente existissem pessoas com sorte? E se os ricos tivessem algo de leprechauns para conseguirem o pote de ouro?'". A garota, então, fez uma viagem a Dublin para compreender melhor o universo dos duendes irlandeses, visitando inclusive um museu dedicado a essas criaturas. Disso surgiu a história de uma jovem que descobre ser herdeira de uma linhagem rara desses seres mitológicos.

"Por um Toque de Ouro" será o primeiro volume de uma trilogia intitulada "Trintade Leprechaun". Uma saga dividida em três livros, aliás, foi a exigência que a Rocco fez tanto a Carolina quanto a Draccon quando os dois firmaram contrato com a editora --uma realização para ela, que desde os 16 anos, quando começou a escrever, sonhava em ter um livro publicado pela mesma casa de "Harry Potter" no Brasil.

Já a trilogia de Draccon se chama "Cemitério de Dragões: Legado Ranger" e caminha para o seu segundo volume, que deverá ser lançado em setembro. O escritor também está trabalhando no roteiro de "Supermax", minissérie produzida pela Globo. Na sua visão, a oportunidade surgiu do interesse de se levar a fantasia que tanto vem dando certo na literatura para a televisão, o que, em uma via de mão dupla, poderá também servir para dar ainda mais destaque aos autores de histórias fantásticas. Draccon já se aventura no universo dos roteiros: ele já assinou desde comerciais de produtos para cabelos até videoclipes, como o da música "Bola de Sabão", gravada por Claudia Leitte.

Casa fantástica

Carolina e Draccon estão juntos há quase cinco anos e se conheceram em uma história que chamam de "fantástica". Ela estava em Campinas e conversava com Eduardo Spohr --outro escritor nacional de grandiosas vendagens--, que lhe disse: "Você precisa conhecer um amigo meu lá do Rio de Janeiro". Naquele momento, Carolina estava acompanhada de seu então namorado, mas não foi um empecilho para que a garota desse ouvidos ao amigo.

Draccon - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "Cemitério dos Dragões", de Raphael Draccon
Imagem: Reprodução

Três meses foram suficientes para que Carolina e Draccon já estivessem morando juntos no Rio, com suas vidas entrelaçadas afetivamente e profissionalmente. Apenas um escritor consegue compreender a rotina de outro escritor, acreditam. Passam madrugadas escrevendo, tardes respondendo a e-mails e finais de semana comparecendo a compromissos profissionais. "Quem trabalha das 9h às 18h não entende essa dinâmica. Até ir ao cinema é trabalho para gente", diz Draccon. "É verdade, os fãs cobram nossas opiniões de filmes que acabaram de sair", concorda Carolina.

Pelo que descrevem, a casa dos dois é praticamente uma extensão do universo fantástico que ajudam a criar. Na porta, uma imagem de Gandalf, de "O Senhor dos Anéis", com a frase "you should not pass" ["você pode não passar"]. As paredes são forradas de posteres e, na sala, quadros da Liga da Justiça, dos Vingadores e de Bruce Lee, um dos ídolos máximos de Draccon. "Quando eu tinha seis anos, prometi que ia ser tudo o que o Bruce Lee foi. Então me tornei faixa preta em dois estilos de taekwondo, judô, hapkido, fiz boxe, defesa pessoal e virei roteirista e escritor", conta o escritor-lutador.

Na sala do casal, sob a televisão, estão um Power Ranger azul e outro rosa, além de pop-ups de Gollum, também personagem de "O Senhor dos Anéis", Sheldon, protagonista do seriado "The Big Bang Theory", e Wall-E, do desenho animado da Disney. No quarto, um quadro gigante de "Harry Potter", fadas e dragões espalhados por todos os cantos.

Projeto Fada-Dragão

O casal chama de "Projeto Fada-Dragão" a vontade de ter um filho. Outro projeto que está na fila é o de escreverem um livro juntos. A pressão dos leitores e dos editores para que isso aconteça é tão grande quanto a vontade do casal de passar por essa experiência, tanto que já têm até a ideia da história --que não terá fadas nem dragões, e sim algo semelhante à animação "Festa no Céu", do mexicano Guillermo del Toro, compara Draccon. Só falta tempo para que filho e livro conjunto aconteçam.

Ao trabalharem em uma única narrativa, Carolina e Draccon poderão colocar em uma só obra aquilo que um mais admira no outro. "Ele tem uma poesia diferente. Tem a mesma magia, os mesmos ensinamentos, que via quando lia 'Harry Potter'. As histórias têm uma camada a mais, discutem problemas", diz ela sobre ele. "Ela tem coragem de se expor, coloca nos personagens os problemas de depressão, as tentativas de suicídio na família, questões sexuais", diz ele sobre ela.

Draccon ainda se aprofunda na questão lembrando de fãs que comumente procuram Carolina para dizer que, de alguma forma, ela ajudou a mudar a vida deles. Recordam de uma mãe que disse à escritora que, graças a um de seus livros, conseguiu entender a homossexualidade da filha. Casos comuns são os de meninas que dizem não ter amigos, mas encontram companhia nos livros da autora e apoio na própria escritora.

Encontro com John Green

Outro desses amigos idealizados por Carolina era John Green. "Ele é de uma geração de escritores, que topa falar com jovens sobre câncer, por exemplo. Queria dizer pra ele: 'Que bacana você fazer isso'", diz a escritora. A admiração não só dela, mas de Draccon também, pelo norte-americano é tamanha que, quando casaram no civil, ao trocarem alianças, ele, em referência ao casal de "A Culpa é das Estrelas", perguntou "Ok?", ouvindo um "Ok!" banhado em lagrimas como resposta.

A vontade de conhecer o escritor quase foi realizada em meio às gravações do próprio filme de "A Culpa é das Estrelas". Carolina e Draccon estiveram em Amsterdã, na Holanda, no mesmo período que o longa estava sendo filmado por lá. Do hotel onde se hospedaram, conseguiam ver o pequeno set de filmagem. Ficaram sabendo que Green estava na cidade acompanhando os trabalhos, mas não conseguiram encontrá-lo.

O sonho dela foi se concretizar em julho deste ano, quando Green esteve no Brasil para a divulgação do filme de "Cidades de Papel". O escritor também gravou uma participação em "Malhação", o que acabou sendo uma oportunidade para Draccon aproveitar seu trabalho na Globo para levar sua mulher às filmagens e trocar algumas palavras com o ídolo. Saíram do encontro com uma ótima impressão de Green, que definem como "uma figura muito legal". No papo, o norte-americano confessou ao casal que ficou impressionado com o calor dos fãs brasileiros. "Ele disse que nunca tinha visto tanto carinho dos leitores", lembra Carolina.

É falando mais sobre Green que a escritora o conecta novamente a Paulo Coelho, outro nome por qual tem grande admiração. "O escritor é uma figura artística como qualquer outra, mas normalmente mais recluso. Admiro o John e o Paulo porque eles dão a cara à tapa. Sabem que ser conhecidos faz com que mais gente os leia, mais gente tenha acesso às ideias deles. Não ficam aparecendo por vaidade", diz. Carolina e Draccon seguem esses mesmos passos.